Trinta e Sete

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Encaro a praia de Botafogo pela janela do meu escritório. Uma semana. Uma longa semana. A porra de uma semana se passou sem Olívia aqui. Nós nos falamos todos os dias sem falta e trocamos mensagens durante o tempo que podemos, afinal estou trabalhando feito um maluco, tanto porque tem muito trabalho a ser feito, como para esquecer a falta que Olívia me faz, e por outro lado, Olívia também estava constantemente em ponte aérea da Austrália para Londres ajudando o Ferrari. 

Em alguns momentos do dia, tento esquecer de Olívia mais é impossível. Nos primeiros dias eu tentava negar sua falta de toda forma, mas então eu recebia emails e telefonemas de empresários buscando os serviços da Russell's, indicados por quem? Olívia. Como essa mulher fez tanto por mim e ainda continua fazendo mesmo de longe? Eu não sei, sinceramente, se ela os enviou de propósito para me manter o mais ocupado possível, mas funcionou. Me ajudou muito ter tanto trabalho. Mas mesmo assim, nada preenchia a falta que eu sentia dela. A falta de seu sorriso, até a falta de seu vocabulário português-inglês quando tava nervosa ou ansiosa. Um sorriso surge em meus lábios ao lembrar dela. Que porra de saudades! 

Me levanto de minha mesa e vou até a parede de vidro que dá para a praia. Fico analisando as pessoas passarem e a cada mulher que passa busco por Olívia, mesmo sabendo que ele não estava ali. A sensação é que a cada dia passo a enlouquecer um pouco sem ela, e isso me surpreendeu, porque eu não pensei que ficaria assim um dia por nenhuma mulher, por mais que não considerasse uma coisa ruim. 

Ontem a noite, Olívia me disse que provavelmente seria necessário as quatro semanas para concluir o trabalho, e eis o motivo da minha hiperatividade hoje.  Segundo ela a reorganização da Ferrari estava uma coisa de louco. Disse ainda que mesmo estando em Londres por alguns dias ainda não teve tempo de ver Katherine, iria vê-la hoje pela manhã no horário de Londres, ou seja já devem ter estado juntas, no caso. Essa notícia veio como um balde de água fria. Já estava contando os dias para ver Olívia e saber que serão mais três malditas semanas sem ela me enlouquece, e principalmente que Katherine a viu e eu não. Estou com ciúmes da minha própria irmã, que merda! Uma batida soa na porta e respondo pedindo para a pessoa entrar. Vejo Heitor passar pela porta e vir em minha direção. 

— Oi Heitor, o que você quer? — digo sucinto. 

Heitor me avalia com o olhar e diz sorrindo:

  — Hmmm, vejo que alguém está de mal humor hoje — ele provoca — De novo.

— Heitor, por favor, tem alguma coisa realmente importante ou veio só me encher a paciência? Te aviso logo que hoje ela está pouca! 

Ele se senta no sofá atrás de mim e me avalia novamente. Heitor me conhece muito bem e isso as vezes é um saco. Sei que ele não tem culpa de meus problemas, ou melhor, de Olívia estar longe e se também que ele está fazendo o possível para me ajudar a relaxar. Mas não dá. Não consigo não ficar puto em pensar que serão necessárias mais três semanas. Vou enlouquecer. 

— Estevão, primeiro, senta. Que nervoso ver você andando de um lado para o outro desse jeito! 

Eu estava andando de um lado para o outro? Estava. Eu nem havia percebido isso até Heitor falar. Isso é uma reação automática do meu corpo quando estou nervoso, e realmente é tão natural que eu não me dou conta. Eu me sento tentando me manter focado no que quer que Heitor tenha a dizer. Seu rosto está sério e imagino que seja algo importante. 

— Pronto, estou sentado. — digo — Me desculpe pelo modo que estou te tratando esse dias, você sabe que está complicado para mim, muitas coisas na cabeça. Mas você não tem culpa. 

— Muitas coisas significa Olívia? 

Eu aceno com a cabeça confirmando o óbvio. Estava claro que só poderia ser isso. Por mais que estivéssemos com tanto trabalho eu não ficaria tão estressado apenas por isso.

— Então que bom, por que é sobre ela que eu vim falar. 

Em minha mente já se passam milhares de coisas, boas, ruins, não tão boas, não tão ruins. A ansiedade me pega só de saber que ele possa ter alguma informação diferente sobre ela. 

  — Então fala logo porra! — digo. 

Ele sorri com seu sorriso torto e sei que ele fica feliz em me ver fora do sério. 

— Como sabe, Olívia tem nos indicado a diversos amigos empresários que estão contratando nossos serviços. Inclusive, graças a ela, Marina e Jonas chegaram em nossa vidas num momento ideal. 

Sim, ela estava nos prestando um serviço e tanto. Mesmo que isso já não fosse mais sua obrigação. Era óbvio que pagamos seu preço pelos serviços prestados, mas por tudo que ela fez o valor ainda não era o suficiente, e principalmente por tudo que ela ainda faz. E sem falar que ela conseguiu Marina e Jonas, um casal de designers foda que combinava perfeitamente com o perfil da Russell, assim aliviando essa parte de mim e Heitor. 

  — Sim, sei de tudo que Olívia fez e faz, mas onde você quer chegar? — respondo.

— Katherine esteve com Olívia hoje. Ela estava bem, segundo Kat, mas infeliz, dizendo a falta que sente de você. Tão infeliz quanto você está! 

— Não estou infeliz! — digo na defensiva.

— É claro que está! Você não quer sair, só quer ficar em casa. Fica o tempo inteiro olhando para a foto de Olívia que está na sua mesa, quer se matar de trabalhar para esquecer a falta dela. Você é meu irmão, Estevão! Eu sei quando está bem e quando não está porra! 

Percebo que Heitor ficou de certa forma, chateado. Eu sei que ele me conhece, e sei que ele tem completa razão. Mas o problema não era admitir isso a ele, era admitir a minha dependência de Olívia a mim. 

  — Você tem razão. Mas o que eu faço?

— Vai atrás dela! Eu cuido de tudo! —  diz Heitor. 

— Tem certeza que dá conta sozinho? Eu posso ficar... Eu vou melhorar.  

Heitor se levanta com uma cara de puto e fala com raiva. 

— Você pode tentar enganar a si próprio, mas não tente me tirar como otário Estevão.   

Heitor saiu do meu escritório me deixando perdido em meus pensamentos. Ele me deu uma possibilidade de ir vê-la, de estar com ela e Deus sabe como eu gostaria de ir nesse momento. Mas, ao mesmo tempo eu poderia deixar a empresa nas mãos de Heitor? É claro que sim, quem eu queria enganar? Heitor é extremamente competente, poderia deixar nas mãos dele tranquilamente, de certa forma já estava, de tão aéreo que eu me encontrava nesses dias. 

Já estou decidido. Saio de minha sala, e quase corro pelo escritório em direção a sala de Heitor que fica a poucos metros da minha. Bato na porta, mas não espero ele responder. Entro na sala desesperado e o vejo em sua mesa me encarando com um olhar interrogativo. 

  — Vou atrás dela. 

Heitor sorriu para mim, e o ouvir dizer baixinho. 

— Com certeza você vai. 


 

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora