Dezoito

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Olívia se dirige até a porta e a tranca. A mesma se vira e caminha em direção ao jogo de sofá que tem no canto da sala, ela se senta no sofá de dois lugares e nos chama. Imediatamente, Heitor e eu nos levantamos e fomos em direção a ela. Imagino que Heitor esteja se corroendo em sua curiosidade para saber o que está havendo.

Ambos nos direcionamos ao local, eu me sento ao lado de Liv e Heitor se senta a nossa frente. A expressão séria no rosto de Olívia me deixa apreensivo e um pressentimento ruim me abate.

— Bem... — começa ela — Eu já tenho que começar pedindo desculpas a vocês dois por não explicar antes. Sinceramente, eu gostaria antes de ter as provas concretas para depois falar com vocês, mas perante a situação não posso mais.

E então ela contou. Contou de sua desconfiança dos números, contou que não poderia ser apenas os erros na fábrica que tivessem "quebrado" a firma daquele jeito, contou sobre as super-faturações nas notas fiscais de compra e venda, disse que ainda não sabia quais empresa eram mas contou sobre como o esquema funcionava, quais funcionários da Russells estavam envolvidos e principalmente quem coordenava o assunto: Flávio Queiroz.

O ódio nublou meu pensamento no momento em que ela disse o nome dele. No fundo eu já poderia desconfiar. Eu deveria saber que aquele filho da puta não ia deixar barato! Ele sabia que o contrato dele ia acabar e que sem meu pai aqui ele não teria mais seu precioso emprego.

— Puta que pariu! — solto.

Heitor a essa hora já havia levantado e estava impaciente ouvindo o restante do que Olívia tinha a dizer. O choque estava expresso em seu olhar e vejo que ele foi pego de surpresa tanto quanto eu.

Por fim, Olívia explica a conversa de hoje com Fernanda e sobre a estranha funcionária Rebeca, e o mais importante, falou sobre a importante pasta branca que estaria no escritório dele.

— Contudo — diz Olívia — Corremos o risco dele já ter sumido com essa pasta branca. Mas precisamos achar esses papéis pois se não nunca saberemos em que empresas confiarmos ou não.

Heitor me olha com olhos cansados e diz:

— Sendo assim Olívia está certa em restituir Fernanda a seu posto! Mas e agora, o que vamos fazer? Porque ele fez isso conosco? Papai sempre foi tão bom para ele.

O ódio irracional está presente nesse momento e tudo que eu mais quero é mandar esse desgraçado para a casa do caralho. Mas não posso, e ele deve saber que meu pai garantiu o emprego dele aqui até que o contrato dele acabasse. Mas será que ele sabe que quem quisesse demiti-lo antes do tempo poderia ser afastado? Teria como ele saber?

— O mais lógico seria com toda certeza demitir esse canalha agora! — digo quase cuspindo fogo.

— Mas Estevão — interrompe Heitor — Mas você sabe que não pode demiti-lo!

O rosto de Olívia se contrai em dúvida e eu sei que ela não entende o porquê não. Mas nesse momento eu fico em choque porque realmente tudo fez sentido.

— Mas porque? Não tem lógica não poder demitir ele? O que impede vocês? — Olívia diz.

— Na verdade — digo — Eu acho que já sei o porque disso tudo. Flávio Queiroz é nosso irmão.

O rosto de Olívia e Heitor se tornaram expressivos em uma grande confusão. Heitor me olhava confuso e com uma ponta de frustração. Já Olívia, me olhava como se tudo agora fizesse sentido.

— Por que você acha um absurdo desse? — diz Heitor.

— Bem, hoje eu recebi um email dizendo as seguintes coisas...

Então eu os conto sobre o email que recebi e minha junção das peças.

— Se ele é nosso irmão mais velho... isso explica a raiva toda que sempre sentiu por nós desde sempre e explica também o porque da chantagem, já que o contrato dele vai acabar em poucos meses ele quer garantir algum dinheiro. E também entramos na questão do roubo, ele teria motivos para querer nos roubar desse jeito. — digo por fim.

— Na verdade, somando tudo que disse faz completo sentido. — Olívia reflete.

Heitor estava impaciente andando de um lado para o outro. E calado. Estranho, isso não faz parte do jeito do meu irmão. Nós ficamos em alguns minutos de silêncio, e é então quando Heitor se vira e diz:

— Precisamos avisar a mamãe e a Kate.

— Eu sinceramente acharia melhor não contar as duas. Kate idolatrava muito papai e não sei como uma traição afetaria ela, e mamãe nem se fala!

Heitor me encara com olhos profundos e Olívia se levanta ganhando voz:

— Não faça isso Estevão, você precisa tirar essa história a limpo. E se tem alguém que vai poder esclarecer suas dúvidas é a sua mãe. Não a tenho como uma mulher submissa que aceitaria uma traição desse tipo calada, principalmente levando em conta que seu pai teria supostamente colocado o outro filho aqui na empresa. E aliás, esse email pertence a sua família, não a você exclusivamente.

A cada palavra de Liv pude perceber o quão certa ela está. Não posso simplesmente pagar o homem, se realmente for Flávio e deixar por isso.

— Vocês estão certos, não é um segredo meu para que guarde, pertence a nossa família e é um direito de todos saberem. Temos que decidir o que fazer, juntos. Vou ligar para elas agora mesmo.

Heitor anda em direção a janela em silência e fica de costas para mim e para Liv. Sua reação me mostra que ele está tão chocado e abalado com a história quanto eu. Olívia se vira e põe uma mão em meu rosto.

— Vou deixar vocês a sós e cuidarei da Fernanda, depois irei para o hotel pensar em como resolveremos a situação. Se precisar de mim, sabe onde me encontrar...

Eu apenas balanço minha cabeça em afirmação. Olívia toca meus lábios com o seus e sinto que vou desmoronar. Mas preciso ser forte e resolver tudo, a empresa e principalmente a minha família, precisam de mim nesse momento.

— Tudo bem, mais tarde eu te ligo.

Olívia sai da sala me deixando a sós com Heitor. Olho para meu irmão que está encarando a praia pela janela com um olhar vazio e me pergunto: o que é que eu vou fazer agora?

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora