Vinte Cinco

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Com nosso pai? O que meu pai poderia estar fazendo com uma cópia desse documento? Ou melhor; por que ele teria isso em mãos e não agiria imediatamente?

— Como assim com meu pai? — digo.

— Vou chegar nessa parte... — afirma a mulher — Depois de ter juntado um dossiê de todas as falcatruas de Flávio eu resolvi que usaria isso contra ele e o chantagearia em busca de dinheiro para o tratamento de minha mãe, além do bônus que era me livrar dele, mas o inesperado aconteceu. Alguns dias antes de eu confronta-lo eu começo a passar mal e descobri que estava grávida dele. Então eu fui falar com ele. E adivinhem?  — uma risada sarcástica sai de seus lábios — Ele disse que o filho não era dele e que mesmo que fosse ele não queria saber... Então eu fiz o que me restava, pedi demissão e resolvi ir para longe desse monstro.

Olívia, Katherine e Raquel pareciam chocadas e tristes ao ouvir a história. Heitor continua com sua máscara de frieza. E eu, só consigo pensar na porra da pasta branca e no documento que estaria com meu pai.

— Enfim, antes de ir embora resolvi contar ao senhor Russel, o pai de vocês — ela diz pela primeira vez olhando em nossos olhos — tudo que eu havia descoberto, e tudo que Flávio fez por mim. Disse ainda que precisaria manter meu nome em segredo caso ele tomasse alguma providência. Seu pai não acreditou a princípio, mas depois de mostrar as provas ele aceitou e as guardou no cofre pessoal dele na mesa. E então, Flávio soube que eu estava na sala dele e foi até lá. Para me proteger o senhor Russell me escondeu embaixo de sua mesa. E então eu só ouvi tudo que aconteceu...

Pela face de Rebeca correm algumas lágrimas. Katherine chora apoiada em Heitor. Olívia se encolhe e se aproxima de mim, encostando sua cabeça em meu ombro. Instintivamente passo meus braços pela cintura de Olívia a aconchegando mais a mim.

— Eles começaram a discutir, uma briga feia. Seu Paulo ficou nervoso e disse ao homem tudo que sabia. Flávio nem tentou esconder ou fingir surpresa. Confessou tudo e disse que não sentia remorso por nada. O senhor Paulo já estava frágil do coração, como todos sabíamos, e então naquela hora ele não resistiu e começou a passar muito mal. Flávio ao ver o seu Paulo caído no chão saiu correndo, e eu logo em seguida corri para tentar socorrê-lo.

Então foi isso. Filho de uma puta, canalha. Ele matou meu pai, não com as próprias mãos mas de desgosto.

— Papai... — sussurra Katherine entre soluços.

Katherine se levanta e corre para o banheiro aos prantos. Heitor se levanta e vai atrás dela. Rebeca, Olívia e Raquel se levantam e trocam algumas palavras que eu não compreendo.

Um misto de emoções tomam conta de mim e eu não sei o que fazer, na realidade não consigo fazer... nada. A ferida que se abriu em mim pela morte de meu pai se abriu, e agora eu quero chorar, quero matar Flávio, quero fazê-lo sofrer, quero consolar meus irmãos, quero esquecer tudo e mandar todos para o inferno. Acompanho Rebeca e Raquel com os olhos saírem pela porta em direção ao elevador. Onde elas vão eu não sei, mas quer saber?! Foda-se!

Liv caminha em minha direção após a saída das mulheres e se abaixa onde estou sentado no chão, ela põe suas mãos em meu rosto, sinto algo úmido escorrer pela minha face e só então dou conta que são minhas próprias lágrimas.

Ela me entrega um copo com água com algum remédio que não faço ideia de onde surgiu. Eu bebo o que ela em da e não faço questão de perguntar o que é. Liv retira o copo de minhas mãos e logo em seguida me abraça, e por mais ridículo que pareça, me sinto protegido por ela. E então o mundo desaba. Eu me jogo a prantos no colo dela e Olívia ainda cai sentada ao se atingida por mim. Aparentemente ela nem ligou, apenas se ajeitou na nova posição enquanto faz uma "cabana" com seus cabelos soltos me protegendo do mundo.

Todo o peso e pressão que senti nesses últimos meses me atingem em cheio e eu perco a conta de quanto tempo estou chorando. No fundo do meu coração o desespero bateu e a vontade de me afundar na culpa e tudo mais vem. E em pensar que tudo isso começou apenas porque Heitor queria resolver os problemas da empresa; e sem perceber ele abriu a caixa de Pandora da nossa vida. Mas surpreendentemente,pela primeira vez, mesmo em meio a minha tristeza eu não me sinto sozinho. Posso sentir as mãos dela em meus cabelos, e sua voz sussurrando alguma coisa que eu não compreendo, agora eu tenho algum motivo pessoal para querer passar por isso. Antes as motivações eram: a empresa, minha mãe e meus irmãos; porém, dessa vez, eu a tenho, e por ela e por nossos futuros filhos eu vou lutar. Não somente porque tenho que ser forte, mas porque eu sei que ela está comigo mesmo eu não sendo.

Um cansaço me invade e sinto minha cabeça pesar. Em meio aos meus pensamentos o sono vem e não consigo resistir a ele. Eu já estava quase caindo no sono quando ouço a voz de Olívia mais clara do que nunca dizer em um sussurro:

— I love you honey.

O cansaço não me permite dizer, por mais que eu lute com meu corpo e cérebro; mas meu coração e alma respondem em silêncio:

— Eu também, meu amor.

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora