Onze

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Olívia havia dito que a noite seria uma criança. E realmente foi. 

Fomos jantar e tomar o bendito açai dela. Em seguida, ela me convenceu de irmos em uma casa de festa dançar, coisa na qual aconteceu por um longo tempo até estarmos exaustos e voltarmos para casa. 

O dia amanheceu em um sol espetacular e resolvemos ir para um praia perto de um resort fora da ilha. Disse a Olívia que poderia estar cheio de gente no local, mas aparentemente ela não se importou. 

Ao chegarmos no local havia uma pequena trilha para fazermos, eu desci na frente ajudando Olívia nos terrenos mais acidentados. A maior dificuldade era fazer isso com as milhares de coisas que Liv me fez carregar: bolsa térmica, cadeiras de praia, guarda sol e outras mais. Geralmente quando vou a praia tem algum quiosque ou algo assim para comprar ou alugar o necessário, me poupando desse serviço. Mas eu deveria ter imaginado que com Olívia não seria assim. 

Um riso surge nos meus lábios então levanto meu rosto e olho para Olívia que está com seu habitual sorriso no rosto me encarando.

— Ora senhor Russell, posso saber porque está rindo? 

— Mas é claro! —  respondo —  Estava pensando em como só você poderia me fazer trazer esses trambolhos todos para a praia!

Ela me olha com um olhar de avaliação ainda com o sorriso no rosto, e então me diz:

— Isso é para você treinar... Quando for pai vai ser disso para pior. 

E nesse momento, nada do que ela falasse poderia me desgraçar mais, porque eu imaginei uma dúzia de crianças com o rosto dela atrás de nós dois, pedindo o biscoito que eu sei que ela traria, usando chapéus e muito protetor, e eu pude ver ali ela cuidando dos nossos filhos. 

Nossos. 

Que nesse momento, eu já não imaginava quem poderia ser a mãe se não ela. 

Me perco em pensamentos, mas consigo reagir e respondê-la antes que ela percebesse.

  — Bom, se você for a mãe eu topo! 

A resposta saiu de minha boca no modo automático. Puta que pariu!  Falei merda.  Mas Olívia apenas riu e disse:

  —  Quem sabe? 

Aproveitamos o dia na praia e nos divertimos muito. Olívia fez amizade com uma garotinha que não saia de perto dela. A menina ficou impressionada em como  Liv mandava bem nos castelos de areia e não quis desgrudar até Olívia ensiná-la. Nós dois ficamos na água, conversando sobre a vida... sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo. 

Infelizmente o tempo de ir embora chegou  e tivemos que nos dirigir até a casa. Chegamos, tomamos nossos banhos e fomos em direção à costa onde meu carro estava. A viagem foi novamente tranquila e com a Olívia falando demais. Estávamos chegando no Rio quando uma ideia surgiu na minha mente:

  — Olívia, você gostaria de dormir na minha casa essa noite?

Ela apenas me observou com cuidado e deu um super sorriso em minha direção. Mas ao mesmo tempo em que o sorriso apareceu, ele se foi e ela disse:

— Estevão, com toda certeza do mundo eu gostaria, mas eu preciso trabalhar hoje ainda... tenho muitas coisas a ver da sua empresa. 

Uma certa decepção brota em mim, mas deixo passar. Afinal, eu também precisava dormir e descançar, essa semana será intensa. 

—  Tudo bem então —  digo quando estávamos quase perto de seu hotel —  Nós nos veremos amanhã de qualquer forma. 

Olívia que até então estava olhando para frente, vira para mim e diz com um tom de voz sério:

  — Estevão, me desculpe... mas eu não sei se isso que estamos fazendo é o certo. — ela abaixa a cabeça e a levanta com um olhar triste — Você sabe que eu vou embora em pouco tempo e eu sei que quanto mais tempo passarmos juntos, pior vai ser! 

Eu sabia disso. Eu pensava nisso tanto quanto ela pelo visto, mas eu não poderia pensar no depois. Eu precisava aproveitar o agora. 

— Tudo bem, você quer dizer para não nos vermos mais? 

— Não Estevão, claro que não. Só estou dizendo para nos darmos espaço... Afinal, não podemos viver 24 horas do dia juntos, isso seria incrível agora, mas péssimo quando a hora chegar. 

Nesse momento nós já havíamos chegado no hotel de Olívia. Mil pensamentos roubam minha atenção, minha vontade é dizer que ela está errada, mas não posso negar que ela está mais que certa. 

— Você está certa. — confesso — Vamos pisar no freio um pouco. 

Olívia abre a boca para dizer alguma coisa mas parece desistir. Eu me levanto e vou em direção a mala do carro para pegar a bagagem de Liv. A mesma me acompanha silenciosamente, ela pega suas coisas e segue para a entrada do hotel onde eu a sigo.

  — Boa noite Liv! Obrigado pela companhia, a viagem foi incrível.

Olívia me dá um sorriso e diz:

— Foi maravilhoso! Eu que agradeço! Obrigada e boa noite. 

Observo Olívia entrar no hall do hotel e me dar um pequeno aceno de despedida, então eu me viro e entro no carro, em direção a minha casa. Eu penso e reflito sobre tudo que Olívia me disse. Porque em uma hora ela concorda em viver esse tempo intensamente e agora não? Nao sei. Mas talvez isso seja bom afinal. Minha empresa precisa de 100% de mim e eu não deveria me distrair tanto assim por uma mulher que logo vai embora. 

Em alguns minutos consigo chegar a minha casa e logo vou para meu quarto tomar um banho e dormir. Ao deitar, fecho meus olhos e as lembranças dos momentos com Olívia me vem a mente. O sabor de seus lábios, o som de seus suspiros de prazer, o sorriso radiante, a risada espalhafatosa e vivaz... tento apagar essas memórias, afinal não posso me apegar a nada dela, mas isso só me traz mais memórias ainda. Foda-se! Não posso negar o quanto me sinto encantado com ela, então mentalizo nossos momentos.

Se ela só quer me dar poucos momentos, então é isso que vai ser e que Deus me ajude mas terão de ser suficientes. 

Assim, me deixo levar pelo sono.


ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora