Trinta e Dois

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Depois que falei com Olívia no celular e mesma aceitou os seguranças, parecem que mil quilos foram tirados de minhas costas. Eu sei que ela está acostumada com a Austrália e com a segurança de lá, mas ela precisa entender que nós não estamos apenas no Rio, estamos com um louco atrás de nós. Saber que aquele cretino estava a seguindo me enfurece e eu fico puto comigo mesmo por colocá-la na vida dele.

Eu ligo para a agência de segurança particular e já peço para os mesmos irem atrás de Katherine e Heitor, minha mãe, Olívia e a família de Olívia. Eu sei que pode parecer meio exagerado, mas eu não posso arriscar a vida de nenhuma dessas pessoas. Inclusive de Raquel e Rebeca, que foram incluídas nessa proteção.

Na hora do almoço resolvo ir almoçar num restaurante bem ao lado do trabalho. Com os últimos acontecimentos, gostaria de estar por perto caso alguma novidade surgisse. Eu consigo almoçar em paz e seguir para a empresa novamente. Eu estava submerso num relatório que Olívia fez quando meu telefone toca. Ao olhar no visor, percebo que era o doutor Magalhães. Uma certa empolgação cresce em mim e não posso deixar de imaginar que o filho da puta foi pego. Após os primeiros comprimentos, Caio vai direto ao assunto.

— Temos boas e más notícias senhor Russell! Eu não tenho como te dizer isso de maneira mais fácil, então devo dizer que achamos que a senhora Russell está com Flávio. Ele a sequestrou. Tentamos entrar em contato com o telefone da mesma mas ele chamou a primeira vez e depois começou a dar desligado.

E como num filme, meu mundo simplesmente parou. O ar pareceu faltar e eu apenas entrei em choque. Pronto, era assim o meu final. Fodido sem o amor da minha vida.

— Já estamos indo para o último local onde ela foi vista. Uma mulher alega que a viu num carro, que parece ser o da senhora Russell, no estacionamento do shopping. A mulher ainda afirma que ela estava tentando pedir ajudar e que acredita seriamente que o suspeito estava armado. Ela preferiu ligar para a polícia do que se intrometer.

Eu demorei alguns segundos para assimilar todas as informações. Imagino Olívia junto com aquele crápula e o ódio toma meu ser. Não consigo agir, ou pensar. Mas preciso. Ela precisa.

— Entendo. E o que eu posso fazer? Posso ir com vocês? Gostaria de ajudar, de qualquer forma não poderia ficar parado.

O delegado pareceu pensar por alguns instantes mas logo falou:

— Não posso permitir que vá conosco, senhor Russell. Mas garanto que quando a acharmos eu lhe digo.

— Me desculpe delegado mas não posso ficar simplesmente parado enquanto sei que Olívia está por ai com aquele maluco. — digo irredutível.

Meu corpo já tremia a essa altura e eu já enxergava tudo nublado, mas eu simplesmente não poderia ficar aqui sentado apenas esperando. O delegado parece compreender que eu não mudaria de ideia, e com um suspiro diz:

— Pois bem, encontre conosco no estacionamento do shopping o mais rápido possível, já estamos a caminho.

Eu nem espero o delegado concluir. Em minutos pego minhas coisas e chamo Heitor desesperadamente em sua sala. Eu quero muito ir atrás de Lív logo, mas não posso pensar em dirigir dessa maneira, eu acabaria causando um acidente. Heitor ouve minhas palavras atropeladas e na mesma hora corre comigo para o carro. O mesmo pega as chaves do meu carro que já estavam em minhas mãos e entra, eu sento no banco de carona com o celular na mão, na esperança disso ser um engano e ela me ligar, como disse que faria. Eu estou impaciente sentado nesse carro, olhando os carros passarem e com medo do que possa acontecer a ela. Sinto meu coração apertar a cada segundo que passa. Heitor me olha de tempos em tempos, e sei que ele quer me dizer alguma coisa, mas não consegue. Quando ele resolve dizer algo enfim, ele diz:

— Eu sei que a ama, e eu sei, desde que os vi juntos que vocês serão eternos, moldados um para o outro. E é por isso que o universo não tirará ela de você meu irmão. Fica tranquilo, tudo ficará bem.

E por um momento eu acreditei no que Heitor me disse. Eu apenas assenti com a cabeça para notificá-lo que o ouvi, mas de minha boca nada queria sair. Após intermináveis minutos, nos encontramos com doutor Magalhães no estacionamento do shopping. O mesmo conseguiu falar com a mulher e com o segurança que viu a ação. Após ouvir o depoimento do homem, que realmente acreditou que Olívia e Flávio estavam tendo uma briga de casal e não interviu meu sangue ferveu e eu só consegui me controlar pois Heitor estava ao meu lado me impedindo de avançar no idiota. Ela pediu socorro! Ela estava chorando! E o cuzão achou que era uma briga comum! Mesmo se fosse! Que raiva. Eu soco o estofado do carro tentando descontar de alguma forma minha raiva. O rádio da viatura fez um barulho que exigiu a atenção de Caio. O delegado vai até o carro e ouve o chamado.

— Atenção, todas as unidades, o suspeito Flávio Queiroz foi visto na Avenida das Américas com a senhora Olívia ao lado. Na altura do teatro dos grandes atores. Devido ao grande fluxo de carros o suspeito não conseguiu se afastar muito. Atenção, o suspeito está armado!

— Aqui quem fala é o delegado Magalhães. Estou perto do local onde o suspeito se encontra. Estou indo imediatamente ao local com o carro a paisana. Peço que as viaturas aguardem alguns metros atrás e sem chamar atenção. Um plano já está sendo elaborado para restarmos a vítima e prendermos o suspeito com o máximo de pacificidade possível. Gostaria de pedir o acesso as câmeras da Avenida e por favor, não percam o alvo de vista. Repetindo — ele diz — Não percam o alvo de vista.

O delegado explica superficialmente o plano e diz que assim que tiverem a oportunidade de chamar a atenção de Flávio eles irão usar a inspetora Coelho para abordá-lo. Eles apenas esperarão uma oportunidade para abordá-lo. As instruções são passadas a todos e os policiais saem em seu carro a frente. As ordens a mim e Heitor é que estejamos sempre atrás deles e quando a abordagem ocorrer nos manter afastados até o sinal de que seja seguro. Por mais difícil que posso ser eu me manter quieto, vou me esforçar. E sei que Heitor também não permitiria eu cometer uma loucura. Afinal, até um policial foi posto em nosso carro para nos mantermos informados e a salvos.

Saímos logo em seguida ao carro da polícia e uma viatura a frente de todos abriu caminho até onde a inteligência disse que não iria chamar a atenção de Flávio. Com o controle das câmeras de tráfego foi fácil localizar o local onde eles estavam. O rádio do oficial que estava em nosso carro soa.

— Atenção, alvo parou no posto Ipiranga logo a frente. Aparentemente o alvo está tranquilo. Sem sinais de percepção.

Vejo que a viatura desliga suas sirenes e sai do caminho do carro onde estava o delegado. O policial que está em nosso carro, diz que é para pararmos por aqui, onde estamos e aguardar a ação.

Eu não sei por quanto tempo estamos esperando realmente. Eu só sei que na minha mente é uma eternidade. Então, Deus sabe lá quanto tempo depois, o policial diz que podemos seguir para o posto. Heitor dirige com toda a calma do mundo em direção ao lugar e eu digo angustiado:

— Pelo amor de Deus Heitor, anda logo com essa porra ou vou enlouquecer!

Heitor pisa no acelerador e em alguns minutos chega no posto. Antes mesmo do carro parar eu já a vi, sentada em um canto conversando com alguém. Eu apenas corri sem esperar Heitor estacionar e fui em direção a Olívia. Uma cachoeira de palavras sai de minha boca e não consigo controlar a emoção:

— Meu amor! Eu quase enlouqueço! Nunca mais vou permitir que saia do meu lado! Eu juro que isso nunca mais vai acontecer. Eu poderia matar aquele filho da puta... aquele merda, desgraçado, eu juro que farei de tudo para que a justiça seja feita. Eu sei que a culpa não é sua, mas por favor, não faça mais isso! Você foi tão corajosa meu amor.

Eu corro em meio as palavras e abraço Olívia como se nunca mais fosse soltar. E era essa a minha vontade realmente. Sinto Olívia convulsionar em meus braços e sinto a umidade de suas lágrimas molhar minha camisa. Nesse instante minhas palavras param e eu só quero ser um pouco do porto seguro que ela já foi para mim. Apenas acaricio seus cabelos e me permito aproveitar o momento com a mulher da minha vida em meus braços. A salvo. Segura. E certamente, muito amada.

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora