O caminho para o encontro com Fernanda e Raquel era longo. A empresa ficava localizada na zona sul do Rio, quando o shopping que estou indo fica na zona norte. Depois de quase quarenta minutos estaciono o carro e vou ao local de encontro com as meninas. Raquel estava na cafeteria com uma versão de Fernanda abatida, fato no qual me deixa angustiada, mas simplesmente pelo fato de ambas estarem aqui já é bom!
Eu me aproximo das duas e ambas se levantam para me receber:
— Senhorita Olívia, não precisava vir — diz Fernanda.
— Imagine! Me chame de Olívia. E eu tinha que vir sim, você sofreu uma injustiça, e eu não sou uma mulher de permitir uma coisa dessas... — digo me sentando.
O garçom chega e eu peço um cappuccino com um brownie, as meninas fazem seus pedidos e aguardamos em silêncio a retirada do garçom.
— Bom, como já sabem, costumo ser direta em tudo que faço, então vou logo com isso. — as duas me olham apreensivas e sei que as deixei curiosas — Fernanda, peço desculpas a você em nome da Russell's, Heitor e Estevão ficaram furiosos ao saber da humilhação que Flávio te fez passar. Nós queremos que saiba que se for da sua vontade, sua vaga ainda estará disponível e que concertaremos o erro cometido.
Os olhos de Fernanda brilharam e lágrimas saiam de seus olhos. Raquel segura na mão de sua amiga e sussurra um ''eu não falei'' em voz baixa para sua amiga.
— Mas é claro, senho... Olívia. — ela ri — Eu adoraria meu emprego de volta, a senhora sabe que preciso muito dele.
— É claro! — digo — Na segunda então, te aguardamos.
— Mas eu posso voltar amanhã mesmo... — diz Fernanda.
— Ela está ansiosa demais, Olívia — diz Raquel.
Eu as olho com aprovação e entendo a felicidade de Fernanda e a necessidade de mostrar serviço. Mas por enquanto, ela não pode voltar. Precisamos lidar com Flávio.
— Eu entendo, mas tome esse tempo para você Fernanda. Curta a sexta e o final de semana com seu filho. Além disso, não queremos que volte a trabalhar para o Flávio, então amanhã decidiremos seus destinos.
Dentro de mim, eu sabia que não seria só metaforicamente. Amanhã precisávamos decidir o destino de Flávio. Que porra é essa? Esse canalha é realmente irmão de Estevão? Eu sinceramente me recuso a acreditar nisso. Mas isso não importa. Precisamos pegar a tal pasta e dar um jeito nessa situação. Afinal, eu volto para a Austrália daqui a quase oito dias e preciso deixar tudo pronto para Estevão.
— É verdade Fer, ela tem razão. — diz Raquel.
Nossos cafés chegaram e nós comemos e conversamos. Raquel contou sobre seu sonho de fazer um intercâmbio e se tornar uma design de móveis, Fernanda disse que queria um dia fazer faculdade de moda e ter sua própria marca. As meninas contaram um pouco de seus caminhas, e eu pude ver o quão diferentes foram dos meus, então eu contei um pouco de minha história. Ambas se disseram motivadas por mim a serem melhores e me senti orgulhosa de poder servir de expiração para ambas. No final da tarde, Fernanda disse que deveria ir para casa pois seu filho estava com a avó e ela precisava buscá-lo. Então nós pagamos a conta e eu ofereço uma carona para ambas. Raquel recusa dizendo que iria para o curso de inglês que era ali perto. Sendo assim, nos despedimos dela e em seguida, deixo Fernanda em casa.
Hoje o dia está sendo tão grande que parece que são dois dias em um. Depois de tudo que já aconteceu na empresa/com Fernanda, ainda tem um jantar na casa de meus pais que não posso deixar de ir, segundo a Dona Julia, vulgo minha mãe. Encaro o relógio e com o tempo que me resta passo correndo no hotel para tomar um banho. De lá, sigo em direção a casa de minha mãe sem perder mais tempo. Meus pensamentos me perdem em Estevão e torço para que ele esteja bem, foi um choque e tanto para ele. E porque seria diferente? Com qualquer um seria assim. Por favor Deus, cuide dele. É o que meu coração grita. Eu chego na porta da casa de meus pais e Josué vem buscar meu carro. Eu o saudo com um sorriso e continuo andando em direção a porta. Os barulhos da minha ruídosa família se fazem presentes antes mesmo de eu entrar. Eu não sei porque os brasileiros são assim tão ''escandalosos'', mas eu acho graça nisso e os amo mais ainda por serem tão especiais.
Quando eu era menina e ainda morava na Austrália, toda vez que vinha ao Brasil era uma luta, ter que disputar a fala com as pessoas, ou falar mais alto para ser ouvida era um sacrifício, assim por alguns anos eu simplesmente não falava nada e minha família dizia que eu não gostava deles. Não era que eu não gostasse, era que eu não conseguia disputar com eles. Mas isso mudou quando eu vim morar no Brasil, tive que me fazer ser ouvida e me abri muito mais a ele, tanto que hoje não sou mais tão ''diferente'' mesmo ainda morando na Austrália.
Ao entrar em casa alguns famíliares se aproximam e acontecem exatamente as mesmas coisas que em todos os jantares de família... me perguntam se estou bem, como vai o trabalho, as viagens, alguns mais indiscretos perguntam dos romances, mas dessa vez foi diferente, porque quando me perguntaram sobre ''o coração'' eu queria falar sobre Estevão, queria contar para eles que dessa vez meu coração estava ocupado, e ocupado por um homem que eu suspeito que nunca iria sair mais de lá.
O jantar passa bem, e todos estão empolgados por estarem juntos. Mas a pergunta que não queria calar para todos era o porque o jantar era tão especial e o que seria anunciado no mesmo. Como se alguém tivesse ouvido meus pensamentos, meu pai se levanta da cabeceira e diz que Júlio e Alice precisavam fazer um anúncio muito importante. Os mesmos em questão se levantam e Júlio toma a palavra:
— Obrigado senhor Stirling! — ele pega a mão de minha irmã e encara a todos — Temos um comunicado muito importante para fazer... É com muita alegria que eu digo a todos que Alice me fez o homem mais feliz do mundo ao aceitar se casar comigo!
Os gritos de felicitações se fazem presentes e todos estão radiantes de alegria. Júlio e Alice já namoravam a quase 7 anos, desde que ela tinha 17 anos, então a família já esperava por algo parecido com isso. Alice então pede para fazerem silêncio e diz:
— Calma gente — ele diz aos risos — Ainda não acabamos de falar...
Uma luz irradia de minha irmã, e meu peito se aperta de alegria só de ver a felicidade dela. Alice é uma mulher tão bondosa e generosa que toda alegria do mundo para ela seria pouca. Ao contrário de mim, que sempre fui mais independente e ''criada para o mundo'', Alice sempre foi a princesa da casa, a amiga de todos, a que nunca sairia de perto de ninguém, e por mais incrível que pareça nós nunca sentimos ciúmes uma da outra, pois desde cedo aprendemos a valorizar e respeitar nossas diferenças.
— E é com mais alegria ainda, que nós anunciamos que estamos grávidos! — diz minha irmã colocando as mãos na barriga.
Todos corremos para agora abraçá-la. A essa hora mamãe e eu já estavamos as lágrimas, nós duas corremos em direção a Alice e a abraçamos juntas. Nós três choramos de alegria enquanto nos abraçamos. O restante da noite foi só alegria e felicidade. Júlio e Alice contando os planos para o casamento que seria o mais rápido possível, segundo eles. Eles pretendiam se casar na fazenda que a família de Júlio tem no interior do Rio, e em relação ao baby eles ainda não sabem nada, ela ainda está com um mês e duas semanas. Logo depois, todos nos dispersamos emocionados pelas emoções da noite.
Ao sair de lá, dou uma olhada em meu telefone e vejo algumas chamadas perdidas. Estevão. Eu apenas retorno a ligação.
— Olívia?
Ao ouvir sua voz meu corpo se arrepia.
— Oi Estevão, aconteceu alguma coisa?
— Não, não, eu acabei de sair do jantar na casa da Samanta e ... apenas quero te ver — ele pausa e fala — Te ter...
Sua voz cheia de promessa atinge em cheio todo meu corpo e o tesão cresce dentro de mim.
— Claro! Te espero então...
Combinamos o horário de encontro e o que ele faria quando chegasse no hotel. A ansiedade está tomando conta de mim como se fosse a primeira vez, mas meu corpo já se viciou nele, e quanto mais eu o tenho, mas eu o quero.
O caminho para casa nunca foi tão longo...
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ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's Company
RomanceApós a morte de seu pai, Estevão Russell, o co-presidente da Russell's Company, sabe que as coisas não são as mesmas, nem para ele particularmente, nem para a própria empresa. Convencido por seu irmão, Estevão permite que ele contrate um especialist...