Vinte Três

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A vontade de meter o foda-se está grande. Depois de toda aquela história da irmã do meu pai e cia, ninguém teve mais vontade de falar de nada, e é óbvio que isso aconteceria por mais que eu tentasse resolver de uma vez... Querendo ou não, a verdade é que somos sensíveis demais e não conseguiríamos agir friamente depois de uma história dessas. Sendo assim, todos resolvemos seguir para nossas casas, Katherine iria para casa da nossa mãe, e na segunda feira resolveríamos a situação.

Flávio aparentemente, não desconfia de que saibamos que é ele o chantagista e ladrão, ele agiu normalmente o dia inteiro hoje, mais confiante do que nunca. Precisamos achar uma maneira de tirá-lo da empresa, não posso deixar ele, primo ou não, estragar e afundar os anos de trabalho de meu pai.

Ligo para Olívia e combino de ela ir lá para casa. Antes de chegar em casa, passo na casa de Heitor para pegar um documento que ele esqueceu de levar para mim hoje, aproveito para dizer a ele para ficar longe lá de casa até amanhã de noite. Ele riu da minha cara e me deixou ir.

Ao chegar em casa, Carla, que estava terminando seu expediente, se vira para mim e diz:

— Seu Estevão, tem uma moça no seu escritório te esperando.

Olívia. Um sorriso imenso cresce em meu rosto ao pensar nela. O que será que ela está aprontando? Como ela chegou tão rápido até aqui? Será que ela já ia vir?

— Obrigado, Carla! Até segunda!

Carla se despede de mim, me deixando sozinho com minha convidada. Deixo meus pertences em cima do sofá e vou tirando minha gravata no caminho do escritório. Ao abrir a porta do mesmo, percebo que tem uma mulher sentada de costas, com os ombros caídos. Não é Olívia, essa mulher tem a pele bronzeada, além da altura inadequada, o perfume é diferente e o corpo nem se fala, é, definitivamente não é Olívia. Ao ouvir o barulho da porta, a mulher se levanta e se vira para mim. O rosto da jovem não me é estranho, mas não sei ao certo quem é.

— Boa noite, quem é a senhora?

A mulher parece apreensiva e nervosa. Porque? Seu rosto é belo apesar das grandes olheiras arroxeadas embaixo de seus olhos verdes, que combinam perfeitamente com sua tez escura. Seu busto é avantajado assim como todo seu corpo. Uma bela mulher, devo dizer, mas completamente o oposto de Olívia. A jovem abre a boca algumas vezes e a fala não vem...

— Senhora?

A jovem sai de seu próprio mundo e de repente um turbilhão de palavras saem emboladas da boca da mesma:

— Senhor Estevão, eu não sabia mais a quem recorrer, eu falei com ela e ela disse que o senhor me ajudaria... eu apenas quero meu filho, eu não sei o que fazer, estou com vergonha, mais desesperada, e ela disse...

Ela quem? Que filho? Como eu posso ajudar? Que porra é essa? A moça a essa hora está aos prantos e se joga impulsivamente em meus braços. A mesma esconde seu rosto em meu ombro e chora como se não houvesse nada mais que fazer.

— Senhora, devagar... eu não entendi quase nada. — digo tentando acalmá-la.

Nesse momento, com meus braços envoltos ao redor da jovem, um barulho aparece novamente na porta e dessa vez eu gelo, Olívia. Me viro rapidamente para olhar e pelo cheiro eu sei que é ela. Olívia estava parada na porta com lágrimas no olhos olhando a nossa cena.

  — Liv, não é o que você está pensando

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— Liv, não é o que você está pensando...

A moça em questão, se levanta e se desconecta rapidamente de meus braços. O choro então se intensifica na medida em que a mulher começa a se desculpar pelo abraço. Olívia, entra a passos rápidos em nossa direção e posso jurar que ela irá me bater. Mas surpreendentemente Olívia apenas para ao nosso lado e abraça a mulher. Meu olhar deve ser perplexo para a cena pois mesmo em meio ao choro, Olívia deixa escapar uma risada nervosa.

— Estevão, é exatamente o que eu estou pensando... você é muito lerdo! Como não entendeu o que Rebeca disse?

Rebeca? O nome veio como um estalo em minha mente e então tudo fez sentido. Rebeca, ex funcionária da Russell's, ex-secretária de Flávio. A mulher que encontrou meu pai passando mal em seu escritório.

Olívia agora sussurra algo como ''tudo vai ficar bem'' e ''nós vamos encontrá-lo''. Tento recapitular o que Rebeca me disse antes de Olívia chegar e não consigo compreender nada mais do que na primeira vez. Olívia olha para mim e diz:

— Honey, pode por favor pegar um copo de água para ela?

Meu coração palpita ao ouvir ela me chamar de honey, que quer dizer, querido. Se isso significa algum passo a mais para nós eu não sei, mas estou feliz para caralho! Com rapidez pego um copo d'água para a moça e entrego a ela que está agora sentada ao lado de Olívia. Entrego o copo para Rebeca e me sento do outro lado da mesa esperando que alguém me explique o que está acontecendo. Olho para Olívia deixando claro minha confusão e esperando que ela se compadeça de mim, ela ao que parece se compadece pois começa a dizer:

— O que ela estava tentando dizer é que ela precisa de nossa ajuda, pois Flávio pegou o filho dela, ele raptou o menino, só para garantir que Rebeca não falará nada. E isso é minha culpa, Estevão.

Não falará o que? Porque Flávio pegaria o filho dela? Por que é culpa de Olívia?

— Sua culpa? Olívia, por favor, me explica direito, o que está acontecendo?

Olívia se levanta e pede licença a Rebeca, a mesma confirma com a cabeça. Liv me chama com a cabeça para irmos lá fora. Ao chegar lá, ela vai até a cozinha comigo, e com o rosto muito sério ela diz:

— Estevão, lembra que eu liguei pra ela para saber mais do Flávio? Lembra da ligação como foi estranha? Eu não sei como o Flávio descobriu, mas ele soube que eu liguei e foi atrás dela. Ameaçou ela e a família dela, disse a ela que se ela falasse algo que pudesse prejudicar ele, ela iria pagar caro. Então por algum motivo, ele simplesmente achou que ela falaria em algum momento e pegou o filho dela. Ela entrou em contato com a polícia da Paraíba mas ninguém faz nada. Ela soube que ele trouxe o menino para o Rio e veio aqui, mas ela não tem ninguém que pudesse ajudar... então ligou para a Russell's com um nome falso querendo falar comigo pois eu tinha ligado atrás dela naquele dia, então ela me contou a história e eu disse para ela que tínhamos que falar com você, logo pedi pra ela vir pra cá e dei o endereço. O resto já pode imaginar...

Que cara filho da puta! Mexer com uma criança por ganância. Meu sangue ferve e quero acabar com a raça desse desgraçado! Puta que pariu! Puta que pariu!

— Porra Olívia! Que merda! Mas como esse desgraçado conseguiu trazer a criança pra cá? As crianças não só viajam com o pai ou a mãe?

Olívia me encara séria e pensativa.

— E é aí que a história se complica honey, o canalha é o pai do menino!

ESTEVÃO - Livro Um - Trilogia Russell's CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora