07 - Quando encontrei com o vizinho na escada

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Charlie

Minha cabeça estava me matando.

Não era possível, devia ter alguma coisa acontecendo dentro dela, além das idiotices habituais, porque eu estava enlouquecendo de tanta dor.

Abri meus olhos mais mal-humorada do que o normal e olhei para Daniela em sua cama, me olhando de forma engraçada. Não gostei nada daquilo e ao tentar olhar para o outro lado minha cabeça pareceu rachar no meio.

─ Bom dia, Charlie. Tudo bem? Dormiu bem? ─ Daniela me perguntou com uma risadinha.

─ Que porra aconteceu ontem? Minha cabeça tá me matando... mas que merda aconteceu com a minha voz? ─ respondi rouca enquanto segurava minha cabeça com as mãos e percebia como era difícil falar.

─ Parece que voltou ao normal... não se lembra de nada do que aconteceu ontem? ─ por algum motivo desconhecido para mim, ela parecia se divertir imensamente com a minha desgraça.

─ SE eu lembrasse não teria te perguntado, Daniela.

─ É... você realmente voltou ao normal, mas sabe que estou começando a achar que gostava mais da Charlie bem humorada, educada e alegre de ontem? ─ ela atirou seu travesseiro em mim, me fazendo xingá-la por toda a eternidade.

─ Você tá me confundindo com alguém, é? Para de me enrolar e fala logo que merda que aconteceu ontem. Eu sinto como se estivesse morrendo.

─ Charlie pelo amor de Deus para de ser dramática, vai. Você tomou um pouco mais do que o normal ontem e ficou fora de si. Deu boa noite até pra Lua, se bobear ─ observei atenta enquanto Daniela se levantava, indo do guarda-roupa à cômoda, pegando suas roupas para se arrumar para o trabalho.

─ Como assim Daniela? Eu sempre bebo demais e no dia seguinte não pareço ter uma maldita britadeira nos meus miolos, sabia? ─ me levantei emburrada, cercando seu caminho.

─ Ninguém aqui fala "miolos", sabia? Acho que você precisa atualizar seu português ─ Daniela disse enquanto se esquivava do tapa que eu tinha preparado para ela.

Que merda que tinha acontecido no dia anterior?

Daniela falava como se eu tivesse agido como outra pessoa, completamente diferente do habitual ritual de beber, ficar bêbada, voltar para casa e dormir. Isso tudo sem ser feliz, bem-humorada... muito menos educada. Mas ela também falava como se soubesse exatamente que havia algo errado.

Essa safada estava fugindo de mim.

─ Pode parar aí dona Daniela e me explicar exatamente o que aconteceu ontem... entendeu bem? ─ eu disse assim que ela fez menção de sair do quarto.

Daniela por fim parou e me olhou com gravidade, parecendo genuinamente preocupada.

─ Charlie... se você não se lembra do que aconteceu, talvez seja para o melhor... ─ ela desviou seu olhar do meu rosto e me dei conta de que ela estava triste.

─ Por Deus, Daniela, se eu fiz alguma coisa de errado é melhor você me falar para que eu tente nunca mais repetir isso, ok? Mas eu preciso saber...

─ Ontem você foi drogada, Charlie. Ficou completamente eufórica, começou a chorar e me pediu desculpas pela mensagem que o Renan passou para você, mas que nunca teve coragem de me dizer.

Opa.

Fiquei sem reação observando seu rosto desolado.

Claro que era por causa do Renan.

Renan tinha sido seu namorado por muitos anos, e eles estavam prestes a se casar. Só que eles brigaram e ela o mandou embora por alguma coisa estúpida, e então ele pegou seu carro e passou o farol vermelho, entrando debaixo de um caminhão. Ele morreu na hora.

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