74 - Quando Anabelle foi salva novamente

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Anabelle

— Você não está tentando o suficiente — Aniel estava sério, olhando para Anabelle como se ela fosse um de seus companheiros arcanjos, forçando-a ser melhor, maior — vamos. Tente novamente.

Anabelle fez uma careta para ele, tendo esgotado seus poderes na primeira tentativa de invadir a mente dele. Ele era uma fortaleza – a mais difícil que ela já tentou superar. Astaroth também se demonstrara uma dificuldade para ela, mas Anabelle nunca tentou de verdade. Ela não quisera ser descoberta pelo Demônio Original.

Mas Aniel acreditava que para domar os poderes que ela possuía, sua mente era o melhor exercício. E ela nunca conseguira passar da primeira barreira.

Ela não estava usando seus poderes demoníacos – fora descuidada ao se demonstrar daquela forma dentro do castelo de Camael antes, pois qualquer um poderia tê-la sentido – mas sim seus poderes angelicais. Ela nunca imaginou que poderia separá-los daquela forma – fora uma ideia de Aniel.

Se ela possuiu uma mãe arcanjo e um pai demônio, não existia apenas os poderes de seu pai – que eram os que ela mais utilizava, se deu conta. Sua mãe dera tudo de si para ela – apenas seus olhos haviam ido para Alexander. Todo o restante estava dentro dela, portanto precisaria aprender a usá-los sem o restante de seu pai, para se camuflar melhor no Éden.

— Para você é fácil falar. Não está tentando invadir a mente mais bem protegida do universo.

Ele riu para ela, se deitando na grama alta do jardim em que estavam. Aquele lugar – onde deram o primeiro beijo – era seu santuário, e todas os dias eles se juntavam naquele lugar, para conversar, treinar, não dizer absolutamente nada.

Não que ela conseguisse distinguir o dia da noite – aparentemente o Éden não possuía noite, apenas o azul forte que se tingia de roxo algumas vezes, aparentemente quando o humor de Camael se alterava.

Ela não via o Príncipe com frequência, como se depois da discussão que tiveram, em que ele a fizera pensar se tudo o que acreditava sobre si mesma era verdade, ele a estivesse esperando tomar uma decisão. Ele não iria força-la, e ela não estava disposta a se encontrar com ele por vontade própria. Gabriel tinha retornado ao seu próprio castelo, confiante que Camael iria lidar com Anabelle da melhor maneira que podiam.

Anabelle na verdade acreditava que a Princesa estava irritada com o irmão, que não considerava o possível retorno de Lúcifer uma ameaça. Era como se Camael quisesse que seu irmão de outrora retornasse... mas ela não conseguia imaginar que bem ele tiraria daquilo. Ele poderia entrar em guerra novamente – talvez fosse a necessidade de ter um propósito. Com uma guerra ele lideraria novamente Babel contra os demônios. Talvez fosse realmente melhor do que viver em um mundo parado no tempo, em que a paz fazia com que a política tivesse um espaço maior em seu castelo.

Enquanto ela esteve cativa no castelo – Anabelle se negava a aceitar seu status de hóspede, uma vez que continuava ali contra sua vontade – viu o Príncipe receber diversos outros seres celestiais de fora de sua ordem. Todas as vezes Aniel a mandava se esconder, mas abria um canal em sua mente para ela assistir o que ele conseguia ver e ouvir. Nenhum deles trouxe de fato algo interessante, apenas relatos sobre inconsistências em Babel, na Terra – os demônios estavam agindo de maneira estranha.

Para Aniel aquelas informações não eram de fato importante, mas para Anabelle ela significavam tudo. Alexander tinha ido para Babel procurar por Charlie. Se havia algo de errado com os demônios... poderia ser relacionado com ele. Mas ela manteve sua posição – estava esperando pela oportunidade certa.

— Vamos tentar novamente? — ele se sentou novamente, ficando a alguns centímetros de Anabelle, dando um sorriso presunçoso de que ela nunca conseguiria vencê-lo.

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