78 - Quando eu mandei Balam embora

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Charlie

Eu ainda olhava para o lugar onde segundos antes estava Anabelle. E um cara com um coração de demônio nas mãos. Que ele arrancou. De boa. Sem dificuldades.

— Aquela era uma das armas mais poderosas do Éden. Aniel, um arcanjo criado para a guerra. Paimon o conhece bem. Ela ainda carrega as marcas que ele deixou nela — Astaroth continuava falando, mas eu só conseguia pensar na merda que Anabelle nos meteu.

A imagem dela se escafedendo – sério, aquilo era de família, né? – com o arcanjo ainda ardia insistentemente na minha cabeça.

Eu entendia bem que uma coisa era os demônios se matarem uns aos outros em uma rebelião interna. Outra coisa bem diferente era um arcanjo – uma arma poderosa do Éden – vir e matar um Rei do Conselho. Aquilo nos fodia completamente. E eu tinha a leve impressão de que aquilo era culpa de Anabelle.

— Nenhum dos demônios permitirá que o Éden saía impune deste ato. Eles se unirão contra os arcanjos para vingar um de seus reis... mesmo que esse rei não os agrade — Balam completou meus pensamentos, e eu senti medo.

— Até mesmo eu estou com vontade de não deixar o ato do arcanjo impune. E vejam que eu nunca fui muito próximo de Vine, nem mesmo quando ele era apenas um capitão das legiões — Vassago coçou a careca negra, me olhando com uma careta como se pedisse desculpas pelo o que falava.

Eu não conseguia acreditar que Anabelle tinha permitido aquilo. Que diabos de missão ela tinha? Eles queriam foder mais com a situação da Terra?

Olhei para Alexander, e pela primeira vez em muito tempo eu tive pena dele. Algo dentro dele parecia travar uma luta colossal com ele mesmo. Talvez fosse o alívio de ver que sua irmã de fato estava viva, com a surpresa de ver seu novo amigo, e com a decepção de perceber que ela estava metida em alguma coisa errada.

— O que vamos fazer agora? — me forcei a desviar o olhar de Alexander, afinal ele estava sentindo uma dor muito íntima, e eu não tinha o direito de ficar encarando. Eu precisava pensar, precisava fazer algo para evitar a quebra da linha tênue que nos segurava longe da guerra.

Só que o que Anabelle fez talvez fosse o necessário para estilhaçar qualquer linha existente.

— Temos que derrubar Asmodeus... ela inflamará este ato para jogar não apenas Babel contra nós... mas os arcanjos também. Se eu não conhecesse bem sua mãe, Balam, diria que o assassinato de Vine por um arcanjo guerreiro seria seu feito. Mas ela não é tão astuta... não sem a ajuda de Purson. Ele faria algo do tipo. Temo que o Éden tenha forjado sua entrada em nosso conflito por si só. Só não consigo imaginar quem estaria por trás desta fatalidade... — a voz de Astaroth parecia bem entediada, me enervando ao máximo.

Ele não via que não precisávamos entender quem havia planejado aquilo? Apenas uma coisa importava – e era salvar os humanos. Salvar Daniela.

Capeta, fala comigo — eu me virei para longe de Astaroth, tentando achar alternativas reais para os verdadeiros problemas que enfrentávamos. Pouco me importava o que Balam disse sobre me manter em silêncio com o tinhoso. Mas se ele era a minha única esperança... era para ele que eu apelaria.

Criança... sinto sua inquietação. Minha preocupação não paira somente sobre meus filhos de Babel, mas com meus irmãos do firmamento. O ato do arcanjo guerreiro de fato trará guerra. Babel não permitirá que o Éden interfira. Não cometemos nenhum ato de guerra, mas eles sim... e sei que isto trará apenas morte e destruição para o firmamento. Maior e mais assustadora do que Asmodeus causou. As trevas serão o palco perfeito para o Caos espalhar seu domínio — sua voz não parecia irritada com meu tratamento pouco respeitoso com ele. Mas ele estava enrolando tanto quanto Astaroth, e o fogo que ardia dentro de mim não conseguia me deixar satisfeita com meias palavras que nada tinham a ver com meu desespero.

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