47 - Quando Alexander conheceu Babel

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Alexander

Seus pensamentos voltavam para Anabelle com uma frequência aterrorizante. Ele sabia que deveria ter ido procurar por sua irmã no momento em que a conexão deles morreu. Apenas um momento antes em sua breve história havia ficado sem os pensamentos dela entrelaçados aos seus – quando vagou pela Rússia, antes de seus pais morrerem.

Mas ele não se preocupou aquela vez, pois sabia que seus pais nunca permitiriam que nenhum mal ocorresse a ela. Porém ele era tudo o que restava na vida da irmã agora, e sabia que ela hesitaria antes de usar seus poderes, mesmo que fosse em prol de sua segurança.

Alexander começou a acreditar que a pesquisa dos dois havia ido longe demais – se deu conta no momento em que se envolveu intimamente demais com Charlie e permitiu que ela morresse. E agora estava colocando sua irmã em risco também.

Nunca fora sua intenção ir até o inferno conhecer a cidade que seu pai fundou há tantos milênios. Ele estava contente com seu próprio domínio na Terra. Mas sua obstinada irmã estava irredutível em terminar o último projeto de Sahriel, e ele não poderia permitir que ela continuasse sozinha – principalmente se todas as suspeitas de seu pai se confirmassem.

E elas se confirmaram. Mas ele já estava envolvido demais com a humana para afastar Anabelle. Sabia como era perigoso, mas ao mesmo tempo quis proteger Charlie de seu destino terrível. Ela já havia sofrido demais por muito tempo, não achava justo que ela tivesse que enfrentar mais um problema.

Ele não entendia seu sentimento por ela, pois sabia que suas existências não deveriam se cruzar, mas ele precisava preencher o vazio que a falta de Valentina causou em seu peito. Nunca antes se sentira tão humano.

No final, Charlie o rechaçou quando descobriu parte de seus interesses, mas ele não se importou, na realidade. Talvez fosse melhor que ela soubesse da verdade. Mas sua irmã o impediu de contá-la – e Charlie, no final, não o permitiu explicar.

Então ela morreu. Ele teve a chance de salvá-la, mas preferiu tirar sua irmã de perigo primeiro. Anabelle tentara ajudar Charlie a exorcizar o espectro de dentro da outra humana, mas ela não estava preparada para aquele nível de força. Ele decidira voltar mais tarde, mas Astaroth foi mais rápido e quando ele cuidou dos ferimentos de Anabelle, Charlie já estava morta nos braços do outro demônio.

Alexander não soube o que sentir ao ver seu corpo destruído.

Ele concordou com Astaroth em ir para o inferno, mas foi sua escolha entrar em Babel e descobrir mais sobre seu pai. O outro demônio não se opôs e Alexander imaginou que talvez fosse uma maneira de evitar que Alexander chegasse primeiro até Charlie. Ele apenas o alertou para os perigos existentes dentro dos níveis da cidade e disse para enviá-lo um sinal quando estivesse fora.

Desde então ele se mascarou, entrando escondido no mundo distorcido de seu pai. A energia que emanava da cidade quando ele botou os olhos nela era incrível e instável, e seu corpo a absorveu com intensidade, reconhecendo que aquele era seu lugar.

Ele sentiu o Caos reinando entre as formas que perambulavam erráticas, rodeando seu corpo, ávido por um novo hospedeiro. Mas ele foi cauteloso e fechou-se de todas as suas investidas. Não poderia aceitar mais daquela essência do que já possuía – o sangue de sua mãe dentro do seu corpo evaporaria caso ele recebesse mais energia demoníaca, e desligar-se de sua mãe não era algo que ele estava pronto a fazer.

Talvez nunca estivesse.

Alexander entrou sem problemas – não havia guardas nas entradas – e observou com muito interesse a formação da cidade. Era uma torre disforme, que subia em oito níveis do chão instável, cada nível dominado por um dos reis do conselho. Ele sabia que alguns dos níveis provavelmente estariam vazios – o de seu pai e também outro de um dos reis que morreu depois da saída de Sahriel do inferno. Cada nível era habitado pela legião sob domínio do rei correspondente.

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