35 - Quando me tornei um fetiche

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Charlie

Corri com desespero, sem me atrever a olhar para trás, com medo do que poderia estar lá. Toller não abriu a boca para falar nada, e eu apenas a arrastei comigo.

─ Você vai me explicar por que você estava no meio de Seol? Não que eu tenha algo para reclamar sobre isso. Muito obrigada na verdade ─ eu disse, enquanto corríamos. Nossa velocidade não tinha nada de extraordinária, e eu percebi que eu a estava atrasando, pois ela poderia correr muito mais rápido. Mas eu não poderia me importar menos.

─ Baldor me mandou. Ele a sentiu em Seol, sozinha e perdida. Eu pedi para vir procurar por você ─ mas ao contrário de mim, ela parecia se cansar da corrida prolongada.

─ Você conhece algum atalho por aqui? Eu não sei quanto tempo eu consigo aguentar.

─ Nós estamos perto. Baldor abriu uma passagem para nós mais a leste. Estamos quase lá. É por onde eu vim ─ ela virou seus olhos de terra para o outro lado, procurando por algo. Eu não via nada além da vastidão. Mas precisava confiar nela. Mesmo que confiar deveria ser difícil para mim, depois de tudo pelo o que passei.

Eu apenas confiei em Balam e Vassago por causa de Faruk.

O cordão de Faruk parou de brilhar e voltou ao normal, fazendo com que eu me esquecesse completamente de seu comportamento estranho. Eu tinha muito na cabeça para me preocupar com isso.

Sem nenhum aviso, Toller me puxou para a direita com mais força do que eu pensei que ela tivesse, e eu quase tropecei. Minha indignação ficou presa na garganta quando uma parede se materializou a nossa frente, a alguns metros de distância.

─ Uau. Ele tem que me ensinar esses truques legais ─ eu parei e fiquei observando a parede deformada, como a que eu vi na própria sala de Baldor. Eu me estiquei para olhar para os lados e ver até onde ela iria, mas Toller me puxou impacientemente, mexendo seus longos cabelos azulados.

─ Vamos, não podemos demorar nem um segundo. Aquela coisa deve estar logo atrás de nós.

Ótimo, agora ela queria ser rápida. Lancei um olhar torto a ela, mas deixei de lado minha irritação. Precisávamos mesmo sair de perto de Aelís.

Ela continuou seguindo paralelo pela parede, mas eu não conseguia enxergar nenhuma passagem. Toller largou minha mão e se aproximou mais da parede, encostando suas mãos. Eu pensei em lembrá-la novamente de que o tempo estava contra nós, pois nada acontecia enquanto ela se abaixava, fechando seus olhos. Até que eu percebi algo engraçado. No local onde as mãos dela encostavam, um líquido escorria até o chão.

E quando ela enfim se afastou, consegui visualizar uma fenda na parede, com as bordas molhadas.

─ Vamos Charlie ─ ela indicou a passagem, seu rosto visivelmente cansado agora.

─ Depois de você ─ eu apontei com o arco para ela. Eu não queria me enfiar naquele lugar escuro e desconhecido na frente. Eu poderia muito bem ficar atrás, e se algo nos surpreendesse, eu teria mais tempo para reagir – ou seria a segunda a me assustar.

Ela estava cansada demais para discordar de mim e entrou sem dizer uma palavra. A acompanhei depois de dois segundos, olhando uma última vez para trás, tentando ver se algum espectro furioso vinha em nossa direção.

O problema é que assim que eu me enfiei na fenda, a entrada se fechou, nos deixando completamente no escuro. Continuei olhando para trás assustada, começando a me arrepender.

Nunca tinha sido um problema antes, mas senti uma claustrofobia sufocante e por um segundo fiquei tentada em implorar que ela abrisse a parede de novo.

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