16 - Quando Anabelle viu seu irmão se apaixonar

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Anabelle

O som das teclas do piano não parecia fazer sentido para Anabelle, que desistiu de tocá-las quando se viu incapaz de continuar compondo sua música. Ela não conseguia mais se concentrar, pois a conexão permanente que havia entre a mente dela e a de seu irmão havia se tornado insuportável.

Eles só conseguiram se desconectar completamente um do outro apenas uma vez, quando há muitos anos ele havia ido embora de Vardo para conhecer o mundo. Foi apenas naquele momento que Anabelle se sentiu verdadeiramente sozinha.

Agora, enquanto olhava pela janela de seu apartamento pequeno em São Paulo, com Alexander se agarrando a uma humana em um banheiro inundado, ela desejou estar sozinha novamente.

Não queria ver em sua mente todas as coisas que ele estava fazendo com Charlie. Então fez um esforço gigantesco para tirá-los da mente, usando um pequeno truque que seu pai havia ensinado há muitos anos atrás – usar seus poderes para potencializar outro aspecto de sua mente que não fosse a conexão dos gêmeos.

Assim que ela conseguiu tirar as imagens do corpo quebrado de Charlie da cabeça, Anabelle respirou fundo e foi procurar um dos livros de seu pai. Ela acompanhou todos os acontecimentos de Alexander com a humana e o envolvimento da Illuminatti a preocupou acima de qualquer coisa.

Seu pai havia escrito um livro inteiro sobre a sociedade secreta, que havia se desacreditado propositalmente, para que arcanjos e demônios de alto escalão não se preocupassem mais com eles. Mas os seres inferiores acharam nessa organização uma boa moeda de troca – eles ensinavam o que sabiam sobre os seus superiores e ganhavam em troca a possibilidade de andar entre os humanos para fazer o que quisessem, sem retaliação.

Anabelle sabia que Charlie era, no mínimo, uma humana interessante. Porém nunca pensou que eles também estivessem atrás dela. Ela se amaldiçoou por ser ter sido tão ingênua.

Quando ela aceitou continuar o projeto de seu pai, nunca pensou que Alexander aceitaria ajuda-la... porém, nunca imaginou que ele entraria nisso tão a fundo.

Charleene Andrade Canning era apenas objeto do último estudo de seu pai. Assim que ele morreu e ela aceitou sua perda e o que teve que fazer para sobreviver, ela decidiu continuar com todos os seus projetos.

Os livros foram as únicas coisas que restaram do incêndio da vila em que moravam, por conta de um feitiço de proteção lançado por sua mãe, e quando Anabelle dominou seus poderes, descobriu que todos os projetos de seu pai estavam concluídos. Estudos sobre a organização de humanos que tinha conhecimento moderado sobre seu povo, sobre as ações clandestinas de demônios mais novos na Terra e seus objetivos. Porém, havia um que estava inacabado. A capa do livro continha apenas o nome da humana que fez Anabelle sair da Noruega e ir ao Brasil.

Ela descobriu que seu pai comprou o prédio em que a humana morava para poder vigiá-la, o que deveria fazer assim que resolvesse alguns problemas. Porém, ele nunca conseguiu sair de Vardo.

Anabelle fez então o que acreditava que seu irmão deveria ter feito: continuado o legado de seu pai. Mas ela não se importava, sempre se achou mais parecida com seu pai do que com sua mãe – de quem tinha herdado efetivamente os poderes.

Menos os olhos. Os olhos sempre seriam de seu pai.

E isso a enchia de um orgulho feroz.

Anabelle — a voz de Alexander fez com que a conexão entre eles voltasse com toda força, irritando Anabelle. Pelo menos os dois já estavam vestidos.

O que foi? — ela estava impaciente, insatisfeita com a maneira que seu irmão havia resolvido ajudá-la a concluir o trabalho de seu pai.

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