59 - Quando eu cumpri minha maldição

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Charlie

Ainda estava um pouco embasbaca de ver Astaroth tão diferente. E vivo, por assim dizer. Eu tinha certeza de ter sentido seu corpo sem vida em minhas mãos – eu não acreditava que Purson seria complacente em brincar com Astaroth antes de mata-lo. Ele estava puto, afinal, porque matamos suas mocinhas com nome de cerveja – e comigo, por matar sua alma animal.

Apesar de visualmente parecer diferente, era possível ver que ele ainda era Astaroth, e inspecionava o corpo sem vida do Rei, em busca de algo que eu não queria realmente saber o que era.

— Precisamos continuar. Asmodeus deve saber já que estamos aqui. Não é sempre que um dos reis do Conselho morre... — ele acabou sua inspeção e veio para perto de nós. Era possível ver que Alexander também estava um pouco enojado com o que ele fazia.

Apesar de não haver sangue de Purson – eu aparentemente estourei seu coração – era mesmo nojento ver alguém mexer num corpo.

— Antes disso... nós vamos mesmo ficar silentes ao que acabou de acontecer? Só eu não estou gostando da ideia de Charlie parecer ligar o modo Lúcifer dela com tanta frequência? Charlie... — ele se virou para mim, vendo que Astaroth não parecia tão interessado assim no que ele tinha para dizer — você não me disse que estava com medo? Não disse que queria continuar sendo você mesma?

Eu, por outro lado, estava bem interessada no que ele estava falando. Claro que eu não queria deixar de ser eu mesma – só que daquela vez eu tinha pedido para o capiroto vir fazer uma visita. Eu nunca quis que ele viesse com tudo... ainda me preocupava com toda aquela história de tê-lo dentro de mim. Mas mesmo assim... não podíamos ficar parados.

— Escuta, Alexander... entendo sua preocupação... mas precisamos continuar. Com quem você prefere lidar, com o capeta dentro de mim ou com Asmodeus? Eu sinceramente prefiro dar oi pro tinhoso do que ter que lidar com a mãe do Balam...

— Charlie, pare de se achar invencível! Não é porque Lúcifer decidiu ajudar você aquela hora que vai estar presente sempre que você quiser! Você mesma ficou toda fodida porque matou a cobra... não permita que ele tome conta do seu corpo, ou logo você irá desaparecer para dar lugar a ele.

Alexander se afastou de mim, falando palavras pouco gentis em norueguês – eu sabia que eram xingamentos pela entonação irritada que ele dava a elas. Alaor, que estava próximo dele parecia alheio à nossa discussão. Eu ainda conseguia ver as rachaduras que ele havia deixado no chão. Ele olhava para o corpo de Purson com interesse, e eu me aproximei dele lentamente.

— Alaor... podemos ir? — eu não conseguia saber se ele ainda estava putasso comigo por ter matado uma das poucas de sua espécie.

Mestre... devemos ir. A retaliação de Asmodeus será muito mais severa do que imaginas. Purson era um de seus amigos mais próximos — fiquei feliz quando a voz que entrou na minha mente parecia estar em paz.

Nós só teríamos que trabalhar naquela coisa de mestre. Eu não era mestre de ninguém – muito menos de um leão demoníaco que conseguia fazer o chão tremer e rachar.

— Acho que isso nos deixa com 3 votos contra o seu, Alexander. Vamos logo, o próximo nível é o de Paimon. Já sabemos o que vamos encontrar lá, de qualquer forma. Podemos traçar algumas defesas lá, se pretende repensar seu papel nesta jornada.

Não gostei daquela opção – eu precisava que todos continuassem juntos – mas esperei pela resposta de Alexander. Eu não queria que ele fosse embora... e talvez fosse pelos motivos que eu não queria admitir.

Que eu precisava dele. E de Alaor... mas não adiantava mentir para mim mesma. Eu precisava da familiaridade de tê-lo ao meu lado... sua própria figura me lembrava o período em que a derrocada da minha vida começou. Me lembrava de quando eu era humana.

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