38 - Quando me senti completa pela primeira vez

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Charlie

Eu poderia tentar encontrar milhares de palavras para descrever o que senti enquanto estava nos braços fortes e quentes de Balam, mas elas simplesmente não existiam. Não era possível que aquilo fosse apenas um abraço, enquanto praticamente nos esmagávamos, um tentando absorver o outro para dentro de si.

Meu novo corpo se encaixava perfeitamente ao dele, como se Baldor tivesse me feito sob medida para o Príncipe.

Com nossa proximidade, consegui notar detalhes que antes eu não dava importância: o coração dele batia muito rápido. Rápido demais. Seu corpo era muito mais quente do que eu imaginei antes, chegando a queimar minha pele. Seu cheiro era inebriante, envolvente, e mesmo com um corpo que deveria ser mais forte, ele me entorpecia. Ou talvez eu tenha continuado a mesma tonta de sempre. Quem sabe. Tudo de estranho acontecia comigo mesmo.

O cabelo negro de Balam em minha mão era macio, e daria inveja a qualquer mulher vaidosa.

Mas então, justo naquele instante, a tontura cedeu e algo bateu na minha mente como uma marreta dolorosa: Tallis. Balam amava Tallis. A perfeitinha e toda poderosa Tallis que se deixou morrer nas mãos da irmã multipolar. Não importava realmente quantas vezes ou de que maneira eu tentasse negar.

E Balam me odiava. Ele tinha deixado aquilo bem claro também.

Assim que senti meus olhos se encherem daquele líquido viscoso, que corria dentro do meu corpo e agora tentava sair em forma de lágrimas, soltei o cabelo dele e me afastei, precisando empurrá-lo um pouco para conseguir sair de seus braços.

─ O que foi? ─ sua voz estava mais rouca do que o normal – provavelmente de tanto gritar e me enlouquecer – e um pouco envergonhada. Como se ele nunca tivesse abraçado uma mulher daquela maneira. Só de pensar na imagem que eu mesma forjei de um Balam sem camisa abraçando uma Tallis languida e típica 'donzela em apuros', meus nervos já foram para o espaço. Eu era uma taurina muito ciumenta.

Demais, até.

─ Nada... Qual é o seu problema? Por que estava gritando desse jeito se não tem nada de errado com você? ─ tentei disfarçar meu sofrimento. Qual era o meu problema? Por que eu queria entrar em outro triângulo amoroso onde eu fazia parte do lado patético?

─ Eu... ─ ele tossiu para clarear sua voz, se afastando de mim, envergonhado ─ não importa. Não tem nada de errado comigo, garotinha.

Fechei meus olhos e respirei fundo, tentando enterrar os sentimentos que teimavam em aflorar agora que eu estava próxima dele novamente. Tocá-lo foi maravilhoso e acabei me perdendo na sensação de ter seu corpo no meu.

─ Onde está Faruk? ─ eu disse bruscamente, olhando para o alto e procurando o bater de asas que eu tinha ouvido há pouco – e felizmente quebrando o contato visual com aqueles olhos vermelhos que ainda me levariam à loucura.

Ele está sobrevoando a fortaleza. Queria nos deixar sozinhos ─ ouvi em minha mente, e quando baixei meus olhos novamente, Balam não olhava mais para mim, tendo se virado e ido se sentar no mesmo lugar que estava quando cheguei.

Sentei ao seu lado depois de hesitar um pouco, e sem vontade de dizer qualquer coisa, encarei a vastidão azul de Toller.

Nunca pensei que depois de morta, conhecer minha alma animal, quase desaparecer definitivamente de qualquer mundo possível e virar um fetiche, eu sentiria emoções tão humanas.

Agora que meu corpo era praticamente insuperável, nunca imaginei que algo tão mundano e mesquinho fosse acontecer. Eu tive meu coração partido por um deles. E lá estava eu novamente, impelida a amar Balam. E por um segundo dentro de seu abraço, imaginei que talvez ele tivesse sentido o mesmo que eu.

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