67 - Quando eu perdi qualquer esperança

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Charlie

— Não adianta fugir de mim, Charlie. Eu vou mata-la. E diferente de todos os outros que antes tentaram, eu tenho motivos reais para tanto. O que você me fez passar em vida e a insegurança após minha morte não me deixam mais ficar de lado. Eu não me importo com o que acontece lá fora, desde que eu e Balam estejamos a salvo.

Senti um pequeno tremor em Daniela quando Midori terminou de falar, e me lembrei de algo que acontecia comigo quando eu era humana e Cimeres ficava repetindo o nome de Astaroth... os humanos não aguentavam escutar nomes demoníacos.

— Cala sua boca, Midori. Eu não quero ouvir os seus motivos, quaisquer que sejam. Não fale o nome dele para mim. Você ganhou, não foi? Você ficou com ele, e para mim restou apenas a solidão, logo depois que ele tentou me matar.

O capeta dentro de mim parecia dormir e fiquei em dúvida do que eu poderia fazer a seguir. Como eu poderia chamar alguém se Dani não podia escutar seus nomes? O único que não parecia ter aquele efeito era Alexander... e o filho da puta se escafedeu.

— Não me calarei, Charlie. Eu observei tudo o que você fez, observei a escuridão entrar no seu corpo, na sua mente, e não vou permitir que drague para si o homem que eu amo. Ele é meu, sempre foi, muito antes de você sequer existir.

— Ah saco, de novo esse papo de homem... EU TO POUCO ME FODENDO PRO SEU MACHO, MIDORI! SÓ QUERO QUE VÁ EMBORA E NOS DEIXE EM PAZ PARA CUIDAR DOS NOSSOS PROBLEMAS DE VERDADE!

A imagem de Balam rondou minha mente sem que eu quisesse, me deixando ainda mais enfurecida. Como ele se atrevia a me infernizar mesmo estando longe? Que direito ele tinha de mandar a namoradinha dele atrás de mim para terminar o que ele começou?

Maldito seja, Balam.

Senti a tatuagem que indicava o corpo de Faruk se esquentando levemente, mas eu tinha outros problemas, e um rápido olhar pela sala me fez ver alguns cacos de vidro da televisão e da garrafa à minha direita. Eu poderia pegar um e tentar ataca-la – não poderia permitir que ela fizesse isso primeiro.

Eu tinha uma leve impressão de que ela seria muito mais efetiva do que eu.

Mas ela também era uma fetiche, e era fato que poderia se movimentar tão rápido quanto eu – se não mais rápido, até.

Decidi agir mesmo assim, sem esperar pelo capeta, sem esperar por um movimento dela, apenas acreditando que eu fosse o suficiente para salvar minha amiga novamente, e me estiquei para o caco de vidro mais próximo. Eu estava tão confiante de que conseguiria, que até soltei um leve suspiro quando meus dedos roçaram no vidro gelado, só que como eu imaginei, ela era mais rápida – e com mais recursos do que eu.

O vidro voou do chão sozinho, antes que eu pudesse agarrá-lo, se fincando na minha palma e despontando do outro lado, me fazendo gritar de surpresa e de dor – Baldor precisava fazer um sistema nervoso no meu corpo? Seria sensacional não sentir dor.

Pulei de volta para meu lugar, ainda surpresa, e acabei caindo de bunda na frente de Daniela, segurando minha mão com o vidro de 10 cm enfiado nela. Era grotesco.

Dani soltou um grito de terror e a senti dando mais um passo para trás, se afastando o tanto quanto podia de Midori. Eu sabia que a japonesa não faria nada com ela se a Dani ficasse de boa, sem se envolver. Ela não poderia tentar me ajudar ou então Midori a veria apenas como mais um obstáculo para me matar.

Com as mãos trêmulas, fiz o possível para arrancar o vidro sem tirar os olhos de Midori, que apenas sorria para a minha aflição.

O que eu poderia fazer para ter vantagem contra os poderes dela? Tentei me lembrar do que Astaroth me ensinou, mas ela era tão rápida quanto eu, e eu não tinha uma arma para realmente atingi-la – e uma mão inútil.

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