51 - Quando descobri sobre a minha profecia

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Charlie

─ E então? Fala logo... desembucha antes que eu vá aí fazer você falar na porrada ─ minha voz estava irreconhecível, estridente com a ansiedade que varava meu corpo ao ponto de eu tremer na poltrona.

Alexander estava inquieto também, passando a mão no rosto enquanto olhava para absolutamente nada, provavelmente organizando seus pensamentos. Eu não queria – na verdade, eu não precisava – que ele fosse delicado comigo, que me tratasse com qualquer tipo de tato ou demonstrasse um pingo de afeto. Eu queria apenas a verdade.

Nada além da verdade.

Tipo o que acontece naqueles tribunais americanos em que as pessoas juravam com a mão na Bíblia – por mais distorcido que fosse imaginar um demônio jurando honestidade sobre a palavra divina.

Deus, andar com demônios está acabando com a minha sanidade.

─ Ao contrário do que muitos pensam, meu pai não abandonou Babel para fugir, ele foi embora para ir atrás de um rastro que ele havia encontrado... ─ Alexander apertou uma mão na outra, resolvendo focar seu olhar em uma das patas de Alaor ─ uma pista fraca deixada pelo próprio mestre dele, pouco antes de sua morte.

Virei meu olhar para Astaroth, lembrando-me que ele havia dito algo parecido – a resposta para sua visão comigo havia sido deixada pelo próprio Lúcifer antes dele me ver. Talvez eles estivessem falando da mesma informação – um rastro para mim. Mas ainda não conseguia entender por que.

─ Existia uma lenda... algo mais próximo de uma profecia... de que quando o grande demônio caísse, ele seria sucedido... ─ a voz de Alexander falhava, como se de repente ele havia desaprendido a falar. Meu coração acelerou com a sua lentidão. Eu precisava saber. Precisava.

Astaroth se aproximou de mim, colocando uma mão tranquilizadora em meu ombro – mas mesmo ele, em toda sua compostura, parecia um pouco hesitante.

─ A profecia, Charlie, foi dita apenas uma vez, para o próprio Lúcifer. Antes de irmos à guerra, ele se encontrou com sua esposa, uma humana dos tempos antigos da Criação, corrompida pelo Caos antes mesmo de nós. Alguns a culpavam por nosso destino. Diziam que ela havia vendido os demônios ao Caos em troca de mais poder. Suas palavras exatas foram escritas posteriormente por Lúcifer, guardadas para que apenas as pessoas certas encontrassem.

Ele fez um floreio com a mão direita e me entregou um pedaço de papel velho, e com menos confiança do que sentia no momento, o peguei e comecei a ler.

Eu não pensei muito no fato de Lúcifer ter escrito a tal profecia em um idioma legível para mim, apenas fiquei hipnotizada pelas palavras:

Quando a noite acabar,
No amanhecer você não mais será,
Deixará para trás reinos, súditos e esperanças,
Mas do inesperado, você ressurgirá.
Da semente que deixamos, você prosperará.
Não um, mas dois. Não você, mas outros.
Dentro de um, metade, dentro do outro, nada.
Mas juntos, sua essência estará formada.

Eu li e reli as palavras, tentando fazer com que elas fizessem todo o sentido do universo para mim, mas acho que uma parte tomada pelo pânico na minha mente refreou todos os avanços de compreensão. Eu não queria compreender aquelas palavras – que na verdade eram bem claras para uma profecia.

Lúcifer sabia que iria morrer na tal guerra com os anjos. Mas também sabia que retornaria. De alguma maneira.

─ Certo... seu pai encontrou pistas... do que exatamente? ─ continuei refreando minha mente, não querendo que ela compreendesse o que no fundo ela já havia compreendido.

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