45 - Quando fui resgatar o primeiro demônio que me abandonou

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Charlie

─ Existem vários tipos de poderes demoníacos. Nós temos ligação com qualquer tipo de elemento, natural ou sintético que exista, mas sempre vamos ser dominados por um deles. O meu poder é regido pelo vento, e o resto das minhas habilidades vêm da magia. O poder de Sahriel estava ligado à terra, por este motivo Alexander também é dominado por ele. Espectros não possuem ligações elementais, mas podem usar magia como nós. Os fetiches só podem usar os poderes que Baldor concede ou que o sangue da incorporação os dá. Sem isso eles só possuem força e velocidade um pouco acima da humana. Está acompanhando?

─ Sim! ─ observei com atenção o demônio parado a três metros de mim, que esfregava uma mão na outra, se preparando. Eu absorvia ávida suas informações, feliz por entender como o poder deles funcionava.

─ Ótimo. Agora, existem demônios que são exímios lutadores corporais, e até mesmo alguns que ignoram completamente os elementos externos, usando a força física como seu maior poder. Você precisa ser rápida, e não forte, entendeu? Não vai conseguir vencer um demônio ou espectro na força, mas poderá debilita-lo se desferir os golpes certos com rapidez, sem que ele consiga te acompanhar ─ uma espada longa apareceu em sua mão, e ele a girou com habilidade, me deixando hipnotizada. Eu queria muito aprender a usar aquilo.

─ Você vai me ensinar bruxaria também? ─ perguntei com curiosidade. Senti quando ele ficou tenso, detestando completamente minha ideia.

─ Não, e nunca mais me peça isso. O que eu faço é magia. Bruxaria é aquilo que os humanos aprenderam, um simples lampejo do nosso conhecimento, e para usá-la você precisa corromper a sua alma. Acho que já deixei claro que não consegui corromper a sua e sinceramente não sei mais se quero. Gosto de você exatamente como é.

Suspirei, tensa com sua afirmação. Ficava feliz de ele não querer mais corromper a minha alma, e gostar de mim como eu era. O problema era como ele gostava.

─ Tá bom... então você vai me ensinar a usar a espada? Eu só sei usar o arco, e olha, não é algo muito extraordinário ─ fiz uma careta enquanto me lembrava da ideia incrível que eu tive de usar sua corda para retirar o braço de Balam do monte de terra de Aelís.

─ Sim. Eu fiz essa enquanto você dormia ─ uma nova espada apareceu na sua mão esquerda. Consideravelmente menor que a outra que ele me mostrava, ela tinha a lâmina preta fina e reta, parecendo inflexível. Era muito bonita, e senti meus olhos arderem de desejo por ela. Não seria tão descuidada como da outra vez, com a espada que Baldor havia me dado. Astaroth se aproximou lentamente de mim, rodando a espada agilmente, para que eu visse como era leve e rápida ─ veja, este é o cabo, e como pomo eu usei uma pedra engastada com meu sangue, e antes que você surte, é apenas para quando você estiver fraca. Precisa carregar algo de um ser vivo para sustentar seu corpo, não se esqueça disso.

Eu sabia que ele tinha razão, então tentei não torcer meu nariz para a pedra vermelha presa no final do cabo enrolado com couro. A espada era ainda mais bonita quando vista de perto, e minha mão coçou para tocá-la, mas aguardei as outras instruções de Astaroth. Eu não queria cortar a minha mão fora – ou a dele.

─ Este é o guarda mão. Ótimo para que você não arranque um dedo enquanto estiver presa no frenesi da batalha ─ ele apontou para uma estrutura de metal negro no final do cabo. Pequenos detalhes estavam entalhados no guarda mão e ao chegar mais perto vi que eram desenhos de espinhos, trançados numa trama bonita e delicada. Por fim olhei para a lâmina negra que reluzia como se fosse feita de ônix e não de metal. A toquei de leve e percebi que ela também não era tão gelada quanto um metal deveria ser.

─ Do que exatamente é feita essa espada, Astaroth?

─ De uma pedra especial encontrada apenas em uma caverna do meu mundo, Samiaza. É a pedra mais resistente do universo, então não se preocupe, ela vai cortar todos os tipos de metais que você pode imaginar ─ ele me ofereceu o cabo da espada e eu apenas observei, sem coragem de pegar em algo tão valioso.

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