46 - Quando Anabelle conheceu o Éden

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Anabelle

Ela estava viva... por pouco, mas sentia a vida fluir fracamente em seu corpo.

Lembrava-se de ter tocado a Menoa do lado errado, e depois tudo se transformou em escuridão. Sua mente se desconectou naquele momento, perdendo qualquer esperança, em meio ao desespero.

Mas ela estava sendo envolvida por uma força alienígena, boa e acolhedora. Ela não entendia, mas aceitava a oferta que lhe era dada com gratidão. Estava exausta demais para ter qualquer outra reação.

Muito tempo ficou presa na escuridão, até que um ponto de luz se tornou forte e ela focou todo o seu poder nele, tentando sair do torpor pesado que a derrubava. Ela não poderia se entregar tão facilmente. O que seu pai acharia daquilo? Como poderia explicar para Alexander que havia falhado numa simples missão em um território neutro como Seol?

O pensamento no irmão a fez recobrar as forças que precisava, dando a coragem e o poder de se retirar da escuridão e chegar até o ponto de luz que a envolveu por completo. Quando começou a sentir seu corpo novamente, Anabelle olhou ao redor, tentando identificar para onde a Menoa a havia enviado. Ela imaginou que seria jogada para o lado de fora do Tribunal, ou então, no pior cenário, enviada para o inferno.

Mas algo lhe dizia que a paz que a envolvia não poderia originar-se de um lugar tão carregado quanto ela imaginava ser o inferno. Ela estava deitada em uma cama simples, dentro de um pátio aberto, cercado de pilastras em mármore branco. Era bonito.

─ Acordastes! ─ uma voz feminina veio de algum canto do pátio, a fazendo ficar alerta, porém seu corpo não respondeu na mesma velocidade, e antes que pudesse se levantar completamente, a mulher estava na sua frente, segurando um cálice de cristal, com um líquido transparente dentro.

─ Onde eu estou? ─ Anabelle olhou ao redor, sem entender, e então voltou sua atenção para a mulher à sua frente, notando pela primeira vez o uso da língua dos anjos ─ quem é você?

Ela observou a mulher pequena e infantil com interesse. Seus longos cabelos cacheados chegavam quase na altura dos joelhos e os olhos azuis eram gentis. O sorriso em seus lábios era verdadeiro e lhe chegavam aos olhos.

─ Você está no palácio da Ordem dos Anjos. Eu sou Gabriel, a líder deste lugar, e você está a salvo, Anabelle ─ a mulher se sentou na frente dela, oferecendo o cálice com gentileza. Ela sorria e Anabelle não conseguiu determinar se a mulher era perigosa ou não.

─ Como sabe quem eu sou? ─ ela perguntou, mas achou ser indelicadeza não aceitar o cálice, e assim que o tomou de suas mãos, sentiu muita sede. Virou seu conteúdo ao constatar que se tratava apenas de água.

─ Primeiro você deve se recuperar, depois conversaremos sobre os detalhes da sua chegada aqui. Você está segura, Anabelle. A Ordem dos Anjos é a mais baixa de todas as Tríades, então ninguém se preocupa com este lugar. Apenas eu moro aqui, meus subordinados são, em sua maioria, anjos de ofício e da guarda.

Anabelle se sentiu melhor com a água e colocou o cálice no chão ao seu lado, enquanto ponderava as palavras da mulher.       

Como poderia estar segura? Dos últimos anjos que encontrara, um tentara tortura-la para arrancar informações sobre ela – informações essas que a mulher parecia conhecer – e o outro realmente conseguira arrancá-las.

Ela ponderou se não havia caído em alguma armadilha.

─ Agradeço pela ajuda e pela água, mas eu não posso ficar. Preciso ir ─ ela fez uma reverência e estava prestes a se levantar, quando Gabriel segurou firme seu braço, fazendo-a se se sentar novamente.

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