61 - Quando eu voltei para casa

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Charlie    

Eu estava puta da vida. Possessa. E com um medo que varava meu corpo como nunca senti antes. Eu não sabia se podia confiar no que Aelís dissera – de que a safada da mãe do Balam estava atacando a Terra – mas Astaroth me garantiu que ela não podia mentir naquele momento. Era como se a morte deles, dos espectros, fosse um momento de expiação – e nada os faria mentir.

Foi por causa daquele momento da irmã de Aelís, que Astaroth descobriu que Asmodeus tinha mandado as duas para me pegar.

Então eu estava com muito medo. Eu não sabia se havia algo que eu poderia fazer para acabar com aquilo – mas sabia que matar Asmodeus era um bom começo. O único problema do meu plano era que eu tinha uma merda de um buraco no meio da minha barriga.

E também porque eu tinha a certeza de que eu não faria nem um arranhão na rainha demônio. Precisaria que meus amigos fizessem aquele trabalho sujo por mim – eu também não estava disposta a deixar que Lulu tomasse a frente. Talvez eu devesse seguir os conselhos de Alexander e deixar ele dormindo e caladão dentro de mim.

— Charlie, você precisa ficar quieta. Eu posso arrumar o seu corpo, mas eu preciso de tempo. Se ficar se mexendo, eu vou fazer alguma coisa errada e nós só perderemos mais tempo — Astaroth estava ajoelhado na minha frente, enquanto fazia alguma coisa com a minha barriga. Eu não tinha muita coragem de olhar o que era. Eu poderia ser muita coisa, mas ainda tinha uns sentimentos humanos bem estranhos e inconvenientes.

Resolvi observar então a dinâmica entre Alexander e Alaor – tentando muito não lembrar de como aquilo era para mim e Faruk. A verdade era que nós dois nunca tivemos tempo para interagirmos... estávamos sempre fugindo, lutando, fugindo novamente... e nunca foi só eu e ele. Tinha Balam na equação também, muito contrariado por ter que dividir Faruk comigo – menos naquela vez perto do lago, em que eu realmente me senti completa.

Olhei para Alexander alisando a juba de Alaor inconscientemente enquanto deviam conversar mentalmente. Eu conseguia ver que Alexander estava diferente, e acreditei que mesmo sem a sua irmã, ele estava bem.

— O que aconteceu com Anabelle? — fiz a pergunta mais por curiosidade mórbida do que por preocupação. Eu não estava exatamente triste por ela não ter me encontrado primeiro, quando foi me procurar em Seol. Mas ninguém nunca mais falou dela, nem o que ela fez depois de não me encontrar. Se ela estava na Terra... poderia ajudar a proteger o lugar.

Se ela estivesse em seu apartamento, talvez fosse capaz de proteger Daniela, Rose, William... pensar em Daniela doía, e foquei em Alexander, que não parecia muito contente ao me responder – ok, quando que esse norueguês emo ficou realmente feliz com alguma coisa?

— Eu não sei... quando mudamos de mundo nós perdemos nossa conexão. Eu acredito que ela tenha voltado para casa depois de não encontrar você... — ele me disse aquelas palavras, mas eu via que não parecia muito confiante. Ele estava preocupado – afinal, se ela estivesse na Terra, também estaria no meio do ataque.

Eu não sabia por que, mas tinha a certeza de que Asmodeus atacaria nos lugares certos – nos lugares em que pessoas que eu conhecia estavam, em lugares que me atingiriam. Se ela soube quem eu era por uma visão de Astaroth, o que Aelís deve ter contado para ela depois que voltou?

Estaria minha família segura? Meus queridos pais? Minha melhor amiga?

Era muitas perguntas para as quais eu não tinha resposta. O que me deixava ainda mais ansiosa por continuar o que eu tinha para fazer em Babel.

— Oi, não dá pra correr com isso não? Cada segundo que a gente perde aqui a retardada da Asmodeus machuca mais gente... eu posso não ter mais como voltar para a Terra, mas gostaria que meus amigos e minha família ainda pudessem ter uma casa. Um mundo... cacete, Astaroth! — dei um cutucão no ombro dele, fazendo com que ele me olhasse feio.

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