82 - Quando Balam sentiu Lúcifer dentro de si

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Balam

Balam sabia que indicar Astaroth para o posto de Rei Supremo era arriscado, não apenas por suas próprias palavras até aquele momento, mas também por deliberadamente retirar Astaroth do caminho de Charlie. Ela nunca ficaria em Babel, não importando quem ela possuía dentro de sua alma.

Ele sabia que havia gerado um sentimento de revolta contra o sistema que Babel vivera por eras, e a nomeação de um novo Rei Supremo poderia não ser recebida bem. Por eras os membros remanescentes do Conselho pisaram por cima de todos os melhores interesses da coletividade para beneficiarem os próprios.

Mas ao mesmo tempo, Balam sabia que eles não conseguiriam viver sem uma direção, sem um líder, e apontar Astaroth para o papel parecia perfeito e oportuno. Os demônios das legiões o conheciam, ele vivera em seu meio, era poderoso, possuía um poder único e válido na proteção dos demais. E não fizera parte do Conselho – mesmo quando convidado por Lúcifer ou por Asmodeus.

O que está fazendo, seu idiota? Eu não quero ser Rei Supremo — a voz de Astaroth invadiu poderosa a mente de Balam, e o máximo que ele conseguiu fazer foi dar um sorriso como resposta, pois apesar de toda a animação da plateia, ainda havia um problema a ser resolvido.

Depois, Astaroth, minha mãe está perdendo sua paciência conosco — ele respondeu com um tom jocoso, mas ao mesmo tempo sentindo a instabilidade de Asmodeus e Apala.

Sim, ela vai começar atacando Avani, afinal eles são inimigos mortais desde a época que seu pai era vivo. Depois atacará a mim, pois sou o único que pode prever o que ela está pensando, depois um a um até sobrar apenas você. E ela vai fazer um discurso ainda mais tedioso que o seu e justificar a carnificina para os demais — Astaroth respondeu, e apesar de suas palavras duras e de sua resistência em ser o que Balam queria que ele fosse, ficou alerta — agora. Proteja Avani.

No momento em que a última palavra terminou na mente de Balam, ele percebeu o movimento de Asmodeus e incendiando seus braços fez uma barreira de fogo entre Asmodeus e Avani, que sibilou com a proximidade do fogo.

— Não pode nos atacar, Asmodeus. Se suas ações anteriores não fossem suficientes para entregar ao nosso povo a tirania que rege seus propósitos, seus atos de violência frente a uma revolução até este momento pacífica o são — ele suspendeu o fogo quando sentiu a energia de sua mãe se frustrar pela interrupção — se tem algo contrário à dizer, diga para todos, mas não se importe em tentar nos matar. Não conseguirá.

Algo de satisfatório corria por dentro de Balam ao ver sua mãe encurralada como estava. Antes tão aclamada e rodeada de bajuladores, era engraçado ver sua fragilidade solitária. Não era uma imagem agradável de se ver.

— Todos são a favor de nomear Astaroth nosso Rei Supremo? — Beleth soou fraco, mas autoritário, da maneira como um antigo e original rei do conselho destruído deveria ser.

O som afirmativo reverberou pelo quarto nível enquanto todas as legiões se uniam em um único propósito, e Balam sentiu um estranho sentimento de orgulho por seu povo. Até mesmo os espectros – tão fieis a Asmodeus no passado – pareciam ansiosos por se livrarem de sua loucura.

Astaroth, por outro lado, parecia amedrontado e enfurecido por ser aceito por unanimidade por seu povo. O que parecia enfurece-lo era ser tirado de sua liberdade de fazer e ser o que quisesse sem a aprovação de ninguém, sem a necessidade de se explicar. Tirado a liberdade de seguir Charlie livremente.

— Salve Astaroth, grande Rei Supremo de Babel e de todas as terras dominadas pelo Caos. Que a sabedoria e seu poder único nos guie para a prosperidade — Beleth colocou a mão no ombro de Astaroth, selando o destino de todos os presentes.

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