68 - Quando eu ouvi o grito mais terrível de Faruk

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Charlie

Eu não me importava mais se iria morrer, ser selada ou qualquer porcaria que Balam e Tallis tinham planejado para mim. Eu só estava aliviada por ver Faruk pela última vez. Por poder ter a certeza de que Balam não tinha acabado com tudo de bom que havia no meu mundo.

Ele ainda segurava a minha cabeça, e eu conseguia sentir a tensão de seus músculos – além do terror que havia em seus olhos. Aproveitei sua distração e com a minha mão furada segurei a lâmina da adaga, que ainda estava próxima demais de meu peito e a arranquei da sua mão.

Eu poderia não me importar mais em morrer, mas a visão de Faruk começou a bombear muitas coisas dentro de mim, e a mais importante delas era a coragem, e com todas as minhas forças cortei o rosto de Balam com a lâmina, e quando ele olhou para mim, dei uma joelhada na sua virilha.

Aparentemente demônios também sentiam dor nas suas partes baixas e antes que eu pudesse repetir o golpe, Balam pulou para longe de mim. Soltei um grito de satisfação, mesmo que minha cabeça tivesse ficado pendurada para trás e eu não conseguisse mais ver nem Faruk nem o casal ridículo.

Ow, dá pra me ajudar a sair daqui? Não sei se você percebeu, mas tem uma maldita pedra enfiada na minha barriga — fiquei irritada que Lúcifer não acompanhasse a situação em tempo real. O que eu precisava era só ficar livre, não que ele me ajudasse a acabar com a existência miserável de Balam.

Isso eu faria sozinha.

O bom era que mesmo sendo retardado, o capeta geralmente me obedecia logo depois que eu falava com ele, e com uma graciosidade que eu com toda certeza não possuía, meu corpo foi levitado rapidamente para trás de onde estava a pedra. Minha cabeça, infelizmente, ainda continuava pendendo, então tive que segurá-la firme para encarar Tallis e Balam.

Faruk ainda nos sobrevoava em círculos, e apesar de Balam estar com toda sua atenção presa à ave, pude ver que Tallis ainda me olhava, todo o ódio que ardia dentro dela aparente em cada traço de seu rosto severo e machucado.

Eu teria que lidar com ela primeiro.

A força vital de Faruk retumbava dentro de mim, e eu nunca me senti tão bem – ok, talvez tenha me sentido daquela maneira uma vez antes... às margens de um lago em Seol, aos pés de uma fortaleza que logo depois se tornou meu inferno pessoal. Eu conseguia sentir a ave dentro da minha própria alma, como se ele fosse uma extensão de mim, e então eu soube o que realmente significava ter uma alma animal.

Eu não conseguia ler o que estava na mente dele, como Balam parecia ser capaz de fazer antes, mas eu o sentia. Sentia ele como parte de mim.

Com ele ao meu lado, eu talvez conseguisse vencer Tallis.

Não o colocaria contra Balam, mas me livrar dela talvez ajudasse eu e Faruk a chegarmos no coração do príncipe. Deixei o sorriso varrer meu rosto, e percebi como incomodei Tallis. Ela estava quebrada também, então talvez não precisasse de muito.

O problema de verdade era a minha cabeça não parar no lugar sozinha.

Tem como arrumar essa porcaria? Nem que seja só temporariamente, só pra eu conseguir ver o que vem na minha direção falei de novo com o capeta, que estava irritantemente quieto demais. Não dava para ver que aquela era a nossa chance de escapar?

Ou talvez ele quisesse ser um novamente... dentro de Balam?

Tentei ignorar essa pergunta na minha cabeça – mesmo porque se eu estava pensando e o bicho estava dentro de mim, com certeza ele saberia de tudo o que havia na minha mente.

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