75 - Quando eu conheci um Arcanjo do Éden

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Charlie

— Vass... já te disse pra tomar cuidado — aquela não era a primeira vez que eu alertava meu amigo guardião a não ficar encarando Daniela com tanta determinação. De alguma maneira que eu não sei como explicar, ele tinha se apegado à minha amiga, e depois que conseguimos levar todos até o hospital, ele a observava se mover ininterruptamente.

Meu nível de estresse estava astronômico – levar os humanos do prédio destruído até o hospital não foi nada fácil, com a visão de Alaor, Avani, Balam, Astaroth, Vassago, eu... tudo o que eles viam era o terror de seus piores e mais íntimos receios: de que o Inferno realmente existia. Então precisamos de Astaroth para acalmá-los, enquanto Balam procurava por mais pessoas presas no interior da minha casa destruída. Os dois não se falaram direito, mas mantiveram a compostura necessária enquanto trabalhavam em conjunto. Vassago e Alexander lideraram o caminho, procurando por ameaças que pudessem nos interromper – tenho certeza que o guardião não iria mais tirar seus olhos de Alexander, sem deixa-lo escapar para Noruega, Rússia... onde quer que ele quisesse ir.

E eu fiquei responsável por absolutamente nada. Faruk estava comigo, me protegendo de perigo nenhum, enquanto eu acompanhei minha amiga lentamente, e os outros humanos que se juntaram após Astaroth fazer sua mágica.

O hospital estava parcialmente destruído, e com lágrimas nos olhos ajudei as almas a se encaminharem à Seol. Eu não sabia mais se haveria Seol, mas não queria deixa-las presas na Terra, vendo o terror que se instalava e a desesperança de que um grupo de demônios estava tentando salvar o que restava a ser salvo – enquanto outros demônios tentavam destruir absolutamente tudo.

O médico nos guiou por uma porta de um anexo que ainda estava em pé, dizendo que haveria um lugar no subsolo que provavelmente seria seguro. Sim, eu o deixaria seguro, pedindo para Astaroth blindar o lugar contra desmoronamentos e rainhas demônios malditas. Procuramos por suprimentos, camas, lençóis, medicamentos – quis limitar a ajuda dos demônios ao mínimo necessário. Eu não sabia o que viria no futuro, então eu não poderia negar a nenhum deles a possibilidade de se virarem um pouco sozinhos, sem mágica. Daniela se movimentava para todos os lados, claramente tomando a liderança que deveria ser de Samuel – o idiota conhecia o hospital, mas ainda parecia incomodado com a nossa presença. E desde então, Vassago não a deixa em paz.

— Só estou observando para ver se ela não precisa de ajuda... não deveria ter nos comandado a não ajudar, Charlie. Esta não é uma situação em que humanos possam se cuidar sozinhos... — ele não teve a decência de olhar para mim enquanto respondia, olhando enquanto Daniela cobria uma criança com um daqueles cobertores que pinicavam.

Ah sim, precisei comandá-los, usando tio Lulu para realmente fazê-los obedecer – menos Balam... por motivos óbvios – a ficar longe dos humanos. Eu seria a única que poderia ajuda-los lá dentro. Sem mais interferências de Babel. E também porque eu não queria Vassago perto da minha amiga... não quando seu próprio nome poderia foder com ela.

— Os humanos já fizeram muito sem vocês, obrigada. E nem vem querer me doutrinar de como os demônios um dia ajudaram a humanidade a criar sabe-se lá o que. Não vamos começar com esse papo, porque até onde eu sei, tudo isso aqui é culpa da rainha de Babel...

Mentira, mas eu não poderia contar para ele que eu me sentia a maior responsável por tudo de mal que acontecia lá dentro e ao mesmo tempo deixa-lo longe de Daniela. Ele era o único que insistiu para ficar dentro do bunker que montamos, enquanto que todos os outros trabalhavam – ou se matavam – lá fora, criando um perímetro de segurança.

— Charlie... — Daniela terminou de conversar com a criança e veio até nós, sorrindo cansada. Ela estava exaurida, e tudo o que eu queria era que ela pudesse descansar. Eu não fazia ideia de quanto tempo ficaríamos naquela situação... não era justo.

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