76 - Quando eu tive diversos encontros inesperados

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Charlie

Ele ficou me encarando, e eu encarei de volta, sem saber o que mais fazer. O grande poderoso arcanjo Raphael estava fora de si, só podia ser. Como que eu poderia ser importante para eles, no Éden, daquela forma? Eles por acaso sabiam o que eu era? E como isso funcionaria? Se Raphael desse minha cabeça numa bandeja para eles o Éden não se envolveria na briga?

Que loucura.

— Não temos tempo para suas charadas, Raphael. O universo está uma loucura e...

— Eu não tenho culpa do que aconteceu, Raziel — Raphael interrompeu Astaroth, e era impossível não ficar intrigada com como os dois interagiam.

— Não o culpei, Raphael...

— Ainda...

— Quer calar a boca? Já disse que eu não tenho tempo para você. Diga o que quer, o que pretende, de maneira clara, ou eu o expulsarei daqui, sem me importar com quem ou o que você é — eu conseguia sentir o corpo de Astaroth tremendo embaixo da minha mão, e fiz a única coisa que eu poderia, apertá-lo e tentar evitar que ele nos colocasse em outra cilada.

Eu era o Pedro do seu Bino, e por um instante surreal eu só conseguia imaginar a boininha.

— Sempre impaciente... sempre atrás de algo para perseguir, sem nunca parar para medir as consequências... eu sinto muito por você, meu irmão.

A audácia daquele filho da puta me enervou em tal ponto, que por um segundo eu não soube dizer se era eu ou o capiroto que estava explodindo de fúria. Tomei a frente de Astaroth, mesmo sabendo que ele era grande demais para que eu o escondesse atrás de mim.

— Escuta só, babaca. Nós não precisamos de você vindo aqui e dar uma de maioral. Nós já temos muita merda com o que lidar, ainda tendo que se preocupar se os seus outros irmãos virão ou não para cima de nós. Não se atreva a vir até aqui e apontar esse seu dedo divino para nós enquanto observa tudo do seu pedestal. Eu te digo o que fazer com essa porra de ded...

Chega, Charlie. Não o irrite. Ele ainda não é uma ameaça para nós — a voz de Astaroth entrou na minha mente como uma torrente de Rivotril, me acalmando instantaneamente contra a minha vontade. Suas mãos em meus ombros deixavam claro que também não era fácil para ele.

Apesar de toda a merda que vivi com os demônios, ele sempre foi o mais parecido comigo – mesmo ele sempre sendo capaz de disfarçar quando estava pistola.

— Não vim apontar meu dedo divino em você, criança. Vim para ajudar a evitar uma guerra em que os maiores perdedores seriam os humanos, e não os demônios.

Admito que foi muito difícil acreditar no que ele dizia, e fiz uma careta de descrença. Eu já tinha conhecido figurões de seu próprio povo, e não tinha me impressionado com nenhum deles. Nem mesmo sua beleza divina e selvagem me atraíam a acreditar no que ele dizia. Como minha sábia avó dizia, quem via cara não via coração. E eu estava prestes a acreditar que anjos e seus afins não possuíam um desses batendo no peito.

— ANABELLE! — Alexander surpreendeu a todos nós ao gritar o nome de sua irmã e antes que qualquer um pudesse falar qualquer coisa, ele se transferiu – eu diria mais que ele se escafedeu, como tinha o costume de fazer – e deixou Alaor para trás.

Aparentemente aquele negócio de amarás só sua alma animal não valia muito para Alexander, e percebi como Alaor estava confuso também. Ficamos um olhando para a cara do outro, tentando entender o que diabos tinha acontecido, e a última pessoa que eu esperava que dissesse algo deu um passo à frente.

— Anabelle retornou do Éden. Ela estava escondida no Castelo de Camael... Algo mudou. Precisamos nos apressar se desejamos acalmar os ânimos. Como eu disse, a ofensa de Asmodeus fora grande demais para ser ignorada...

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