56 - Quando Gabriel descobriu o segredo de Anabelle

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Gabriel

A impaciência tomava conta dela, enquanto andava de um lado para o outro no pátio, onde algum tempo antes, havia permitido que os arcanjos impiedosos de seu irmão escolhessem o destino de Anabelle.

Gabriel disse para a criança procurar por seu irmão, e desde então tentou dar o máximo de privacidade para eles. Não era seu costume bisbilhotar por aí, observando com seus poderes silenciosos e discretos. A única pessoa que Gabriel bisbilhotava daquela maneira era Aniel – o súdito instável de seu irmão. Ela começou a sua missão silenciosa de observá-lo por preocupação com Camael – não que ele precisasse de proteção... seu irmão era o arcanjo mais forte que conhecia. Porém aquele ser estranho a assustava.

E também a fascinava.

Sua missão parecera impossível a princípio – Aniel era o arcanjo mais bem preparado contra invasões em sua mente que ela conhecia. Porém, a cada vez que Camael o trancafiava nas prisões abaixo do castelo, ela conseguia uma nova oportunidade de observá-lo, pois ele sempre ficava enraivecido com seu mestre por não entendê-lo.

Ele era diferente, e nenhum tempo passado nas prisões seria o suficiente para mudar sua natureza. Gabriel não se recordava quando aquele arcanjo havia sido criado, mas sempre suspeitou que não havia sido por ordem de seu irmão.

Era difícil para Gabriel pensar em como seus irmãos, seu povo era criado – principalmente com a revelação nas lembranças de Anabelle de como ela havia nascido. No Éden, os arcanjos eram criados por uma força invisível – pela simples vontade de Deus. Havia muito tempo que um novo arcanjo não era criado – não, Ele estava sendo cauteloso, não queria que os números fossem díspares entre o Éden e Babel. Era como se fosse um acordo tácito após o final da guerra dos dois mundos: os povos devem ser equivalentes, os anjos e os demônios. O bem deve ser equilibrado com o mal.

E assim, da mesma maneira que Lúcifer caiu, Deus, seu pai misericordioso os deixou também – não acreditava ser justo Seus filhos da escuridão terem perdido seu líder, enquanto que Seus filhos da luz continuassem com o seu. Assim, fazia eras desde que Gabriel sentira a felicidade de estar próxima ao seu pai.

Aniel fora criado logo antes da guerra – uma arma a ser usada, Gabriel chegou a pensar na época. Seus poderes eram equivocados, obscuros, perfeitos para as batalhas que ocorreram em Babel.

Após o fim da guerra, Gabriel se certificou de mantê-lo sob sua supervisão secreta, sem que seu irmão soubesse. Diferente de Anabelle e seu irmão gêmeo, as mentes dela e de Camael não eram ligadas ininterruptamente – ela apenas tinha um fácil acesso a ele, sem precisar derrubar suas defesas.

Essa era apenas uma das diferenças entre Anabelle e seu irmão dos arcanjos primogênitos. Eles nasceram de alguém, tiveram seus poderes individuais e no final herdaram os poderes de seus progenitores. Eles eram únicos, e por este motivo, Gabriel queria proteger Anabelle.

Camael também era um ser diferente – a guerra havia tirado qualquer vestígio de simpatia ou paz de dentro dele. Mas Gabriel ainda possuía sentimentos por ambos, e fora com muita esperança que viu seu irmão se preocupar com Anabelle.

— Senhora Gabriel — uma voz infantil a tirou de seus devaneios e ela viu a figura enfraquecida de Nanael se aproximar, hesitante.

— Nanael... você está bem? O que ainda está fazendo aqui? Pensei que teria voltado para seu próprio serviço.

Gabriel se inquietou ao imaginar o serviço ao qual Nanael deveria voltar. Ele fazia parte da Ordem de Haniel, o único príncipe que tirava a calma dela. Ele parecia possuir mais escuridão dentro de si do que alguns dos demônios que viviam em Babel. Ninguém o via há eras, e sua ausência estava cercada de mistérios. O que havia acontecido na guerra que fizera o grande Príncipe dos Principados se esconder em seu castelo?

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