22 - Quando Astaroth sentiu a morte da humana

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Astaroth

O Demônio Original continuou segurando o corpo inerte e sem vida da humana que ele havia visto há tantos anos, com ódio e desespero. Ele odiava perder o controle sobre qualquer coisa que fosse, e agora havia perdido a chance de entender melhor seu poder mais obscuro – o da Visão.

Ele nunca teve a chance de explicar para Charlie por que havia ido atrás dela. Nunca contou sobre a visão que teve do nascimento dela muitos anos antes. Muitos séculos antes de acontecer.

Desde que a viu pela primeira vez, nunca conseguiu deixar de pensar nela. Nunca antes havia tido uma visão de um humano – ele nunca se misturou ou se importou com o mundo acima do dele. Seus interesses sempre estiveram em seu próprio mundo.

Todas as suas visões sempre se concretizaram com perfeição e ele gostava de se gabar disso, mas então veio aquela humana pequena e insignificante que mudou tudo. Todos para quem ele havia contado sobre ela disseram que ele estava perdendo seu foco e finalmente enlouquecendo, como tantos outros haviam feito antes dele.

Como Sahriel havia feito.

Ele balançou a cabeça para tirar esses pensamentos antigos da cabeça e se preocupar com o presente que estava em suas mãos. Essa era a parte mais difícil de seu poder, conseguir viver o presente com as visões do futuro atrapalhando e deixando-o ansioso. E ele precisava estar calmo para ter completo controle de seus poderes.

Astaroth olhou mais uma vez para Charlie e toda a violência em seu corpo o deixou dividido. Ele sentia a tensão da excitação nele por causa da destruição que havia no pequeno corpo – aquele osso saindo de seu braço esquerdo era perfeito. Mas ele não queria que Charlie tivesse morrido. Ele nunca teve a chance de trazê-la inteiramente para ele e entender o que ela significava.

Ele decidiu olhar para onde estava do que ter que enfrentar o que aconteceu com Charlie. A pequena ruela em que estavam se encontrava silenciosa porque ele afastou todos os humanos com sua mente afiada. Ele era muito poderoso.

Mas Charlie sempre o deixava fraco e confuso. Ele não conseguia se concentrar quando os pensamentos dela entravam em sua mente sem convite, invadindo e dominando o demônio como nada antes havia conseguido.

Não era ele que a dominava, mas ela quem o dominava completamente.

Ele deveria ficar feliz, porque sem Charlie, não havia mais visão com que se preocupar ou fraqueza alguma. Não havia mais ninguém no universo que pudesse fazer o que ela fazia com ele.

Mas ele não estava feliz. Estava enfurecido.

Um arrepio gelado desceu por sua espinha e ele resolveu fechar os olhos físicos para poder ver o que a Visão tinha para ele, e como numa cena sem cores além do preto e do branco, viu os mestiços de Sahriel descerem do prédio e seguindo seu rastro até onde estava agora.

Era óbvio para ele que os dois mestiços se comportavam mais como humanos do que como demônio e arcanjo, suas heranças. Eles foram até as humanas de Charlie e viram que ele havia expulsado o espectro de uma delas.

O sangue de Charlie ensopava aquele lugar como uma doce lembrança de que ela já estava machucada antes de Astaroth chegar para ajudá-la.

Mas ele teria ido antes se Charlie não conseguisse se esconder completamente dele. Ele apenas conseguia se aproximar completamente quando ela deixava, quando precisava de alguma maneira, e ele não pôde deixar de sentir um prazer brutal quando ouviu o chamado dela tão alto.

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