7 - Sensibilidade regional

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Botando a mão na testa, e meio surpresa com a pergunta, Carolina disse:

— Você nunca reparou? Aquele site é um eterno velório da vaidade! Muitas idosas chorando pelo que já perderam, como dentes brancos, pele hidratada, cabelo espesso e outras coisas tomadas pela idade.

— Você diz “tomadas”, mas sabe que o dinheiro pode repor tudo isso, não é?! Qualquer clareamento dental e terapia com células-tronco resolveria o problema.

Carolina balançou a cabeça, discordando de Daniel. Enquanto sacava novamente o celular, retrucou dizendo:

— No caso destas senhoras, não. Esses tratamentos até funcionariam, caso elas tivessem dinheiro no bolso. Boa parte delas são ex-novinhas do funk, todas falidas. Mulheres cariocas que perderam tudo sustentando maridos maconheiros.

— Carol do céu!

— O quê?

— Se a turma do Rio de Janeiro te pega falando assim, você tá morta! Sabe como eles são sensíveis à opinião de não cariocas.

— Eu não estou falando da boca pra fora, ok?! Foi tudo documentado pelo Ministério da Educação. Lembra? Quando tentaram conscientizar os pais sobre a importância dos estudos dos filhos, deixaram disponíveis todo tipo de estatísticas. Entre elas, o número de ex-novinhas vivendo na pobreza, por falta de ensino superior.

— Eu sei. Só estou dizendo pra não falar assim em público. Muito menos na internet, ou na realidade virtual. Carioca não quer ser associado à favela, tráfico de drogas, milícia ou juventude transviada. Se você fizer isto, será chamada de sulista metida a europeia recalcada.

— Até parece. Posso ser sulista, mas não tenho essa atitude de gaúcha! E quer saber? Se aquelas senhoras entraram na estatística, é porque fizeram por merecer. Não tenho culpa se essas ex-princesas do baile funk escolheram mal seus maridos. E também não tenho culpa se suas mães gastaram todo o Bolsa Família em calças de R$300, em vez de investirem em sua educação. Deu no que deu: as garotas fizeram escolhas ruins. Agora, na terceira idade, estão falidas, vivendo de caridade.

Com o celular na mão, Carolina abriu o navegador de internet. Usando o wi-fi da imobiliária, acessou sua conta do Bicadas e pesquisou o termo #morta-viva.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora