25 - Amizade que não se quebra, ciúme que não se desfaz

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Daniel dobrou as hastes dos óculos e os guardou no bolso da camisa. Resolvido a voltar para a lanchonete, despediu-se de Carolina com um aperto de mão e um beijo na bochecha, dizendo:

— Nem se incomode em mandar seus fãs atrás do nosso milkshake hoje.

— Por quê? Duvido que a reunião durará até as 12:00 ou 13:00 horas.

— Não durará, mas... sinceridade? Não acho que seja uma reunião simples.

— Bem, garanto que terá um discurso de 20 minutos sobre o abuso dos patrões, os direitos do trabalhador comum e o valor à família e a Deus. Então esqueça a simplicidade: sendo uma reunião do sindicato, desde o início será um hino de celebração ao trabalho braçal, misturado com o desprezo ao trabalho administrativo.

— É sempre assim, Carolina. Não há uma reunião em que eles não se façam de coitadinhos injustiçados. E quando isso vira rotina, pode ser chamado de simples. Além disso, não estou me referindo ao tema da reunião, e sim ao que vem depois dela.

— Como assim?

— Se o sindicato mandou recolher todos os utensílios da cozinha, é porque pretende retê-los por, no mínimo, 1 dia ou mais.

— Mas por quê? Você desconfia de alguma coisa?

— Bem...

Marcelo, interrompendo a conversa, chamou por Carolina outra vez. Ainda tapando o microfone do headset com a mão, disse aos sussurros:

— Psss, Carlos tá esperando na linha.

Carolina acenou com a cabeça, em sinal de entendimento. Então começou a seguir para o balcão, erguendo o polegar para Daniel e lhe dizendo:

— Depois me conta o que está acontecendo lá, ok?! Agora não dá. Também tenho problemas a resolver aqui.

— Tudo bem. Eu tento falar com você no almoço.

Marcelo não gostou da proposta. Ele também pretendia conversar com Carolina na hora do almoço. Amargando seu ciúmes em silêncio, gostou ainda menos da resposta da vlogueira:

— Combinado. Se a lanchonete estiver fechada, vamos tomar suco na rodoviária.

— Você paga tudo com seu bônus?

— Pudera, né?! Já tenho planos pra esse dinheiro. Especialmente depois de terem reclamado da imagem dos meus vídeos.

— Huh? O que pretende comprar?

— Ah, depois te mostro.

— Ainda no almoço?

— Ainda no almoço.

— Sério? Mal recebeu e já vai gastar assim?

— É como dizem, né?! Vem fácil, vai fácil.

— Antes isso fosse verdade com nossos senadores pesos mortos.

— Ou com a programação da TV aberta.

— Daí você já quer demais.

— Ora, se é pra sonhar, vamos sonhar bonito.

— Falou, escultora de belas fantasias. Boa sorte com seu gerente amável.

— Obrigada. Boa sorte com seu sindicato adorável.

Daniel sorriu e também ergueu o polegar, devolvendo-lhe o gesto. Então, escondendo o celular de pulso com a manga, seguiu para a saída e virou à direita na calçada, dirigindo-se para a via comercial do Parque Emam.

Marcelo, ainda enciumado, impotente ante a boa amizade dos dois, ficou grato com sua partida. Para ele, a dedicação de Carolina a Daniel era como vuvuzelas num estádio de futebol: enlouquecedora, embora não fosse proibida.

Já Carolina, agora ciente de que estava sozinha, e que tinha um dia inteiro a enfrentar naquele prédio, continuou até o balcão. Pegando de Marcelo seu headset, vestiu-o por sobre as orelhas e ajustou o microfone para perto do lábio. Aumentando o volume do fone, disse:

— Alô? Carlos?

Deu início ao seu confronto com o gerente, sem desconfiar de que o almoço com Daniel, infelizmente, não iria acontecer.

* * * *

Novo capítulo dia 28/06, as 22:00, horário de Brasília.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora