34 - Renato Ohara

20 1 3
                                    

Carolina, Fernanda e Alice olharam para trás. A estranha saudação tinha vindo da escrivaninha solitária, por onde haviam passado sem dar maior atenção.

Nela se encontrava Renato Ohara, o editor chefe de imagem e som. Estava sentado em uma cadeira ergonômica de correção postural, cujo acento de espuma, macio e azul, privilegiava o alinhamento pélvico, importante para a saúde cardiovascular. Também usava um implante dentário microfônico, com o qual ditava ordens ao seu monitor widescreen de 29 polegadas.

O monitor era operado via bluetooth por um computador biomolecular, que se localizava dentro da gaveta da escrivaninha. Consistia num gabinete cilíndrico do tamanho de uma garrafa de 2 litros, feito com circuitos de filamento de DNA, sucessores do chip de silício, capaz de rodar vários programas pesados simultaneamente, e com a mesma agilidade com que um computador antigo rodaria um Bloco de Notas.

Somado ao monitor, o gabinete representava toda a aparelhagem da ilha de edição do audiovisual. Por meio dele, as imagens das matérias jornalísticas e a narração dos repórteres eram unidas num único vídeo, que seria exibido, com exclusividade, aos moradores do Parque Emam.

Renato, apoiando o cotovelo no braço da cadeira, descansou o queixo sobre a mão esquerda, olhando sorridente e arteiro para Carolina, exibindo a jovialidade madura dos seus 29 anos. Seus traços eram asiáticos, com rosto ovalado e lábios pequenos, enquanto seus cabelos, lisos e compridos, eram amarrados num rabo de cavalo. Sua barba, espessa e bem aparada, começava no bigode, descia até o queixo e terminava nas costeletas, emoldurando toda a parte inferior do seu rosto, exalando à fragrância de tangerina e manjericão.

Usava o óculos digital da Eagle Glass, com armação quadrada e minicâmera de 20 megapixels embutida na lente direita. Ao lado da minicâmera e em cima da lente, havia uma tela óptica de 1 cm de altura e 2 cm de largura, quase do tamanho de um chip de celular, através da qual se exibiam, sob o comando do usuário, a temperatura ambiente, a previsão do tempo, as horas e o navegador GPS.

Seguindo o exemplo de Fernanda, também vestia uma camiseta baby look. Era da cor cinza e tinha manga curta, revelando bíceps salientes e robustos, ficando grudada e esticada na altura do peitoral. Além disso, usava um colete jeans preto, duas pulseiras de ouro no braço direito e uma corrente de prata no pescoço, tendo esculpida, nesta última, a letra P, equivalente a Rock Pauleira.

Entre os funcionários da Landschaft, era apelidado de Fernanda Esteroide. Pois, assim como a promotora, Renato era o preferido do sexo oposto, bem como o dos homossexuais. Com sua fisionomia oriental suave, músculos definidos e guarda-roupa semelhante ao de um ídolo musical, ganhava facilmente a simpatia de qualquer universitária baladeira, ou de qualquer colegial precoce, ambas carentes por um príncipe rebelde cortejador. Verdadeiro pesadelo dos pais e namorados de Londrina.

Carolina, soltando o braço de Fernanda, e pouco feliz em ser chamada de princesinha dos Patriotas Bolsonários, colocou as mãos na cintura e perguntou:

— Que papo é esse, ôh esteroide?

— Você ainda não viu?

— O quê?

— Nossa, passou tão rápido que nem percebeu, né marreco?!

Renato apontou para uma das vagas da estação de trabalho, dizendo:

— Veja você mesma.

* * * *

Novo capítulo no dia 19/07, as 22:00, horário de Brasília.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora