23 - A lógica de um sangue tropical

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César, ainda aguardando o elevador descer, não estava no melhor dos humores. Segundo entendeu, não apenas perdeu a discussão contra Carolina, como também foi diminuído em seu ambiente de trabalho.

Era como interpretava a conversa com Carolina: uma briga entre dois desafetos, não uma troca de sugestões entre colegas de equipe.

Talvez Carolina tivesse razão em lhe dizer “não fui contratada para melhorar a infraestrutura do estúdio”. Afinal, ela tinha o direito de defender seu desempenho como vlogueira, bem como de apontar os verdadeiros responsáveis pela má qualidade do vídeo.

E César, com toda a educação, até poderia aceitar sua ideia de falar com Carlos. Cabia mesmo a ele, o gerente de audiovisual, oferecer um equipamento melhor aos seus funcionários.

Porém, no ambiente de trabalho londrinense, não era assim que a banda tocava. Por lá, assim como no resto do país, ou você concordava com o que estava sendo dito, ou inventava uma desculpa para não opinar.

Mesmo que fosse uma sugestão inteligente, sensata e praticável, o ideal era mantê-la para si. Pois, se fosse exposta, o opinador seria a ovelha negra do grupo. Seria o rebelde metido a sabe tudo que, supunha-se, não sabia trabalhar em grupo, nem demonstrar companheirismo aos demais colegas.

César, como genuíno produto desta mentalidade brasileira, não traiu suas raízes: em vez de receber a opinião de Carolina como uma sugestão viável, preferiu amargá-la como uma ofensa pessoal. A vlogueira deveria concordar com ele, sem nenhuma contrariedade, e não desafiá-lo.

Entendeu que Carolina estava o menosprezando, e que buscava, por meio do que chamou desaforo, favorecer o próprio ego, negando-lhe o devido respeito.

Tomado por rancor injustificado, típico de um brasileiro orgulhoso e chorão, César não quis terminar o assunto desta forma. Se Carolina tivesse a última palavra na discussão, seria como presenteá-la com uma medalha de ouro, enquanto ele ficaria com a de prata. E, no que dizia respeito a vitórias, a nação já havia lhe ensinado que, ou era ouro, ou era nada.

A porta do elevador se abriu. E enquanto César, emburrado com o mundo, ali entrava, escutou Daniel dizendo “mas que droga!”, numa voz alarmada que não só assustou Carolina, como também Marcelo, o porteiro mais à toa que a cidade já viu.

Antes que a porta se fechasse, César viu o office boy puxar a manga da camisa até o cotovelo e revelar seu celular de pulso, dizendo à Carolina:

— Não preciso contar os minutos pra saber que este será um longo dia!!

César olhou para a vlogueira, que no momento pendurava os óculos de realidade virtual no pescoço, ao mesmo tempo em que perguntava a Daniel:

— Mas o que foi?

— Bem....

A porta do elevador se fechou, antes que se pudesse ouvir a resposta.

César subiu sozinho para o estúdio. Quieto, azedo e indignado com a aparente indiferença de Carolina à discussão anterior, acabou tomando uma decisão.

“Aproveite a companhia do seu amigo, sua babaca. Pois aí embaixo, no térreo, você pode ter seus amigos. Mas no 2° andar, é diferente. Lá, você está sozinha.”

* * * *

Novo capítulo dia 22/06, as 22:00, horário de Brasília.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora