13 - O cowboy sabe demais

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Daniel aproveitou a oportunidade para ditar uma mensagem de texto ao seu celular. Embora curioso e, por que não dizer, ciumento ao constatar que outras pessoas enviavam mensagens para sua colega, teve urgência em descobrir, primeiro, do que se tratava a reunião com o sindicato.

Ergueu o pulso na altura dos lábios e ordenou ao celular:

— Eagle, componha uma mensagem de texto. Método: ditado.

O celular, em resposta, emitiu o som de dois disparos eletrônicos, semelhantes a projéteis de jogos 8-Bits. Sua tela emulou a textura de uma folha de papiro, em cima da qual sobrevoava uma pena de escrita. Ficava a um dedo de distância, aguardando o comando do seu dono.

Enquanto Daniel decidia com qual colega se informaria sobre o assunto, Carolina desbloqueou o teclado do celular e acessou sua caixa postal, navegando até a pasta de novas mensagens. Como estava ciente dos seus quase 20 minutos de atraso, imaginava ser uma bronca de Renato Ohara, seu editor de vídeos. Provavelmente queria saber onde ela estava, mesmo não tendo autoridade para exigir qualquer justificativa.

Porém, para o espanto de Carolina, o título da nova mensagem dizia:

Bem-vinda ao Clube do Cowboy Recauchutado, Carolina! Se assim desejar, é claro.

Havia um chapéu de vaqueiro desenhado sobre o C de Cowboy, e uma camisa xadrez vestindo o T de Recauchutado, feito um espantalho composto em pixels.

O modo como o título a saudava apontou para uma suspeita: spam. E como tal, Carolina esteve prestes a deletá-lo, nem mesmo querendo ler seu conteúdo. Afinal, poderia ser um Trojan programado para acessar remotamente sua câmera, transmitindo imagens do seu cotidiano sem autorização, jamais dando indícios do que estava fazendo.

Era a moda atual do cyberbullying: invadir a privacidade de personalidades locais, descobrir seus ambientes de lazer e consumos favoritos, e depois, em posse dessas informações, elaborar um trote escatológico.

Atos executados por ex-alunos do curso em lógica da programação, oferecido gratuitamente pelo programa de inclusão digital. Um curso enfático na habilidade em C++, mas relapso na moral e ética. Padrão de qualidade: governo federal brasileiro.

Carolina não quis se expor a esse tipo de humilhação. Preservava muito sua vida pessoal, assim como um comediante paulistano defendia seu direito ao insulto alheio: com unhas e dentes. Porém...

... havia algo diferente naquela mensagem. Algo que não só chamou sua atenção, como também a incomodou.

Pois de uma coisa Carolina estava certa: naqueles dias, spams não cumprimentavam o destinatário com seu nome verdadeiro. Apenas o saudava de maneira genérica, usando frases como você foi escolhido para uma grande oportunidade ou você ganhou um prêmio.

Aquele remetente era diferente. Ele sabia seu nome.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora