39 - Alice no país do Huehue

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Graças a sua divisória central, o 2° andar era repartido em duas metades iguais. Olhando da calçada, de frente com o prédio, a metade correspondente ao elevador dos funcionários ficava à esquerda, enquanto a do elevador dos clientes ficava à direita. Motivo pelo qual o comprimento e largura do estúdio de gravação eram iguais aos do seu aposento vizinho, a redação.

Tendo a porta da redação como referência, o estúdio tinha, montado logo à frente, um palco oval de 30cm de altura. Ficava perto da parede, alinhado no meio do cômodo, e era feito de madeira compensada, revestido com piso vinílico azul, de superfície brilhante e tato macio.

Em cima dele, ficava a bancada dos âncoras, feita de madeira MDF laminada, com superfícies laterais brancas e tampo de vidro preto. Estendia-se retangular ao longo do palco, cobrindo dois metros e meio de comprimento, oferecendo lugar para cinco pessoas. No painel frontal, acoplava-se um monitor de tela plástica dobrável, feito com tecnologia AMOLED, no qual se exibia, durante o noticiário, o título amarelo Jornal Parque Emam, com ocasionais saudações aos seus telespectadores.

Era ali que se apresentavam Dalborga e Valéria, recebendo, nas sextas e sábados, participações especiais de Carolina.

Atrás da bancada, fixo à parede, havia um painel de superfície escura e transparente, tendo embutido, em seu interior, um projetor holográfico em miniatura, usado para reproduzir imagens e vídeos tridimensionais sobre a cabeça dos apresentadores, conforme a necessidade da notícia. Eram projetados os mais variados Infográficos, cujos temas alternavam entre taxas de câmbio, índice de mortalidade no trânsito e requerimentos necessários para uma vaga de emprego.

Na divisória à direita do palco, ficava a porta para a central de vendas, onde Fernanda e Seu Paulo se encontravam. Na divisória à esquerda, ficava a porta para um corredor menor, que se estendia dali até a redação, ficando paralelo a ambas estas salas. Oferecia acesso ao almoxarifado, à sala da gerência e aos vestiários femininos e masculinos.

Na frente do palco, ao lado da porta da redação, ficava uma mesa comprida equipada com seis monitores slims, cada um contendo vinte polegadas. Também haviam três teclados e três mouses, todos da cor preta. Representavam a ala de controle, através da qual Renato, atuando também como diretor de TV, coordenava a transmissão do noticiário.

Entre esta mesa e o palco, haviam três tripés de prata. Erguiam-se até os ombros de Carolina, sendo cada um equipado com uma câmera digital de 8.000 pixels, capazes de gravar imagens em definição UHDTV, a resolução básica de uma TV doméstica brasileira. Uma delas apontava para a lateral esquerda da bancada. Outra apontava para a lateral direita, sobrando à terceira apontar para o meio, englobando o palco, o fundo e toda a bancada.

Eram operadas por um computador biomolecular, localizado ao lado da mesa comprida, em pé no chão, de aspecto cilíndrico semelhante àquele encontrado na gaveta de Renato. Não apenas operava o movimento das câmeras, como também enviava comandos aos monitores slims e ao projetor holográfico 3D, via bluetooth.

Carolina e Alice, sozinhas no estúdio, seguiam até a porta da central de vendas, driblando os tripés e passando pela ala de controle.

Alice estava comovida. Para ela, o puxão voluntário de Carolina era mais um elogio do que um desrespeito. Mesmo exibindo um rosto sério, seu coração pulava igual a um otaku junto a uma bela cosplayer, eufórico e apaixonado, como se Alice pensasse “ela tocou em mim, e está fazendo isto por conta própria! Estou no paraíso!”

Já Carolina estava mais apática. Os desaforos de Seu Paulo, bem como o tratamento dispensado à Fernanda, envenenavam seu humor. Se tivesse de vê-lo partir assim, todo satisfeito e presunçoso, sorridente como um evangélico homofóbico protegido pela lei, talvez sofresse um AVC.

O vlog de Carolina e o feriado antecipado no calçadãoOnde histórias criam vida. Descubra agora