Parte 1 - Capítulo 1

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                Catarina respira fundo enquanto aguarda a resposta.

– Sinto muito. – A moça responde, do outro lado. – Ela não está disponível no momento.

Ela se lembrou de modificar a voz antes de continuar mesmo que, provavelmente, essa moça nem soubesse quem ela era:

– Olha, é urgente. Eu preciso mesmo entrar em contato com ela.

– Lamento, mas ela não está disponível no momento.

Catarina chega a pensar em desligar na cara da moça, mas tinha decidido que aquela seria sua última tentativa e ela precisava tentar com todas as forças antes de parar de vez:

– Pelo menos me dê notícias. – Catarina suplica.

A garota do outro lado da linha solta uma risada leve, de deboche, claramente achando o pedido ridículo.

– Seria, no mínimo, imprudente dar notícias da minha senhora por telefone pra uma desconhecida que está modificando a voz ao falar comigo.

Catarina aperta os lábios para conter o ódio. Perder a cabeça só pioraria as coisas. Ela precisava, desesperadamente, de informações. Nem sabia mais o que dizer pra sua filha.

– Sou apenas uma cidadã do Vale Fortaleza que quer saber se Lusiane Lutero está viva ou morta. – Ela diz e soa mais rude do que gostaria. Mais rude do que deveria.

– Se você é, de fato, uma cidadã do vale, deve saber se ela está viva ou morta. Digo, a notícia da morte de uma pessoa tão importante não passaria despercebida, não é mesmo?

– O que isso quer dizer? – Ela pergunta e percebe, tarde demais, que usou sua voz normal.

– Voz bonita. – A moça diz com indiferença. – E isso quer dizer: Se não tiver mais nada para falar, devo voltar para o trabalho. – Catarina fica em silêncio. – Foi o que pensei, tenha um bom dia.

Ela desliga, mas Catarina fica com o celular no ouvido até alguém bater na porta e despertá-la dos seus pensamentos. Lusiane não era o único contato que ela tinha no vale, se algo acontecesse, os outros falariam, certo? Certo? Mas, se era tão certo assim, por que todos fugiam do assunto quando Catarina citava o nome dela?

Bateram na porta de novo e, dessa vez, Catarina obrigou suas pernas a se moverem.

– Filha, ta na hora. – Ela diz ao passar pelo quarto de sua filha.

Deixa o celular na bancada e pega um copo com chá que estava lá. Mexeu a linha pra misturar um pouco e tomou dois goles, ainda estava muito quente, deixou o copo na bancada, ao lado do celular, e só então foi abrir a porta. Uma garota do cabelo platinado com mechas rosas estava do outro lado. Ela abriu um sorriso ao ver Catarina.

– Você deve ser a Polly.

– Eu mesma. – Responde com uma animação que incomodou Catarina de imediato.

– Está atrasada, Polly.

A moça olha no relógio e ergue a sobrancelha.

– Ainda faltam cinco minutos para o horário marcado. – Ela responde, confusa.

– Era pra você ter aparecido semana passada. – Catarina a lembra.

Polly coloca a mão no peito.

– Eu sinto muito. Eu tinha umas coisas...

– Tudo bem, você já explicou isso. – Catarina diz.

4 - Sobre Meninas e MudançasOnde histórias criam vida. Descubra agora