Parte 3 - Capítulo 1

7K 1.1K 1.1K
                                    

                Catarina assopra a xicara de chá. Nem estava com vontade de tomar, apenas queria sentir o vapor quente em seu rosto por alguns segundos. Ela mantinha os olhos fixos em sua filha que saltitava de um lado pro outro, brincando com Otávio. Que, era para ela, a figura que tinha de avô.

Em outro momento, Catarina nem permitiria que sua filha saísse de casa. Aquele vale, de alguma forma, agora a assustava e a assustava muito. De uma forma que ela chegava a se sentir covarde por ter tanto medo e nem saber direito o motivo. Mas sua filha precisava se distrair e isso só acontecia fora de casa ou quando chegava alguma visita. Eram os únicos momentos em que ela conseguia fugir das perguntas de Alice.

Sua filha não parava de questionar as coisas, o que era normal. Ela era uma criança que tinha sido forçada a deixar tudo que conhecia pra viver em um lugar totalmente novo. Alice já tinha entendido que aquela era a casa dela, Lusiane tinha feito questão de deixar isso bem claro todos aqueles anos, mas as coisas ainda não estavam completamente claras. O que as duas estavam fazendo ali? E todas as promessas que a sua avó tinha feito... de que, quando voltasse pra casa, ela reencontraria o pai? E herdaria um vale?

Catarina não sabia responder nenhuma dessas perguntas e estava começando a, simplesmente, ignorar a própria filha. Ela queria ser mais forte naquele momento, mas a verdade é que não estava conseguindo lidar com nada do que acontecia. Não conseguia parar de pensar em Heitor ou aonde ele estava, tinha medo de acontecer o pior. E, o mais bobo, que ela nunca admitiria, o que seria das coisas do momento em que ele decidisse voltar em diante? Catarina nem cogitava a ideia de Heitor não aceitar a própria filha, mesmo que ele demorasse, aquilo iria acontecer, mas e quanto a ela? Heitor iria perdoa-la? Ele entenderia quando ela explicasse todos os motivos que a fizeram ir embora? Disso ela não tinha mais tanta certeza.

Não esperava que tudo fosse voltar a ser o que era de uma hora pra outra, mas esperava que não demorasse muito tempo para ele digerir tudo e ao menos decidir que queria Alice em sua vida.

– Vovó! – Alice grita.

Catarina olha pro lado e vê Lusiane descendo do carro e caminhando em direção a elas. Alice sai dos braços de Otávio e vai ao encontro de sua avó.

– Vai devagar, filha. – Ela avisa.

Alice para de correr, mas continua o caminho em passos rápidos. Lusiane a pega nos braços, beija seu rosto e conversa algumas coisas enquanto se aproxima do banco onde Catarina estava.

– Também estava com saudades. – Lusiane diz. – E, a partir de agora, não vou mais sumir.

– Promete?

– Eu prometo. – Ela garante, e Alice beija o rosto dela. – Agora... por que não volta a brincar com seu avô enquanto eu converso com sua mãe?

Alice dá outro beijo nela e se afasta, de volta para perto de Otávio.

– Oi. – Lusiane diz e a abraça.

Catarina a abraça de volta e tem que controlar o estranho impulso de chorar, que vinha toda vez que a encontrava.

– Você está bem? – Ela pergunta.

– Sim. – Catarina responde.

– Você está mentindo, mas eu tenho algo que talvez possa te animar.

– O quê?

– Ele voltou. – Lusiane diz, e uma estranha sensação de alivio invade seu corpo. .

4 - Sobre Meninas e MudançasOnde histórias criam vida. Descubra agora