Li hoje "A Revolta dos Bichos" e sinceramente me fez pensar.
Desde que o mundo é mundo o sonho de poder assombra a alma dos homens e segundo Edmund Burke: "Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso". Ou se citarmos Abrahan Lincoln: "Quase todos os homens são capazes de superar a adversidade, mas, se quiser pôr à prova o caráter de um homem, dê a ele poder". É isso que vemos na "Revolta dos Bichos".
Primeiro, como em toda revolução, e já passamos por muitas na história do mundo, temos um grupo subjulgado e insatisfeito que vai acumulando através dos tempos sua insatisfação e desejo por mudanças, vimos isso claramente na revolução francesa.
Depois vemos os novos ocupantes do poder definir um colegiado de decisões, tanto na fábula, como na história. Depois esse colegiado se transformar em uma ditadura e subjulgar os demais, tanto na fábula como na história do mundo.
Por fim, começam a eliminar os que se opõem ao novo sistema, fica claro na fábula, na revolução francesa, na revolução russa, e em todas as revoluções que temos notícias.
Também é comum a divisão entre os próprios revolucionários. Seja por divisão de ideias ou sede de poder. Uns querendo se manter no controle, enquanto outros tentam tomar os seus lugares. Cada vez é maior a cisão e começam a se matar entre si.
Quem está no poder começa a criar regras, normas e até leis. Tanto para se autobeneficiar como para impedir a subida/crescimento dos demais. A intenção maior nunca é a maioria, o todo, e sim se perpetuar no poder.
O poder vira um circulo fechado e o que deveria ser um sistema de todos, vira mais uma vez o sistema de uma minoria dominante.
É assim no comunismo, no socialismo, no capitalismo e em tudo que é ismo que se puder imaginar. Não é conhecido pelo homem, até os dias de hoje, um sistema perfeito. Só sistemas imperfeitos que são perfeitos para alguns.
Se trouxermos a fábula para o Brasil como fazenda, vemos a revolução armada de 64, que depois de colocar no poder uma nova classe dominante, manteve uma ditadura e começou a eliminar quem se opunha ao poder. Comparada a outras revoluções que tiveram centenas de milhares de mortes, a nossa revolução tupiniquim nem foi tão sangrenta assim, embora repudiável ao cercear a liberdade de muitos.
Se trouxermos para os dias de hoje, vemos uma revolução branca, onde alguns poucos tentam, contra a barbárie da roubalheira e desvios do dinheiro público mudar para um sistema mais ético e comprometido com a honestidade. O povo no seu intimo é bom. O ser humano ainda tem solução. Ainda acredita em valores positivos e se motivado corretamente é capaz de praticá-los. E assim o fazendo vai inibir os aproveitadores e determinar que posturas antiéticas sejam execradas. Se cada um fizer a sua parte é possível, independente se o outro vai fazer ou não. Se cada um fizer a sua parte daqui a pouco todo mundo estará fazendo igual. Se cada um limpar a soleira da sua porta o mundo todo fica limpo. A revolução começa dentro de cada um. No início serão poucos, mas depois de algum tempo serão milhares, centenas de milhares e por fim todos.
Tentamos há algum tempo a revolução da classe trabalhadora representada por um partido e um trabalhador nos opor a um sistema burguês. Podia ter dado certo, mas... Como na Revolução dos Bichos deu certo durante algum tempo, mas como na fábula o poder corrompeu.
Ouvi uma vez, e não sei o autor, uma frase que talvez demonstre a situação atual do Brasil: "Se o cachorro descobrir o valor do dinheiro deixa de ser o mais fiel amigo de um homem". Será?
Talvez tenhamos que colocar ao invés de porcos, corujas no poder. Elas simbolizam a sabedoria e talvez sejam menos suscetíveis ao vírus do poder, que corrompe a tantos. Talvez o melhor sistema seja o que dá a cada homem o direito, em igualdade, de conseguir o que puder alcançar pelos seus méritos, pelo seu trabalho, pela sua capacidade de atingir metas. Talvez, o melhor sistema seja aquele que entenda que cada indivíduo é único e que alguns podem mais do que outros. Que só porcos poderão exercer a função de porcos e que isso não é ruim, ao contrário, sua função é imprescindível ao equilíbrio do todo. Que todos possam levar para suas casas e seus familiares, a tranquilidade de um teto para cobrir suas cabeças e a alegria da alimentação adequada. Que todos possam de forma competente, buscar seu espaço. E que nunca falte para quem fizer por onde, a dignidade de um trabalho e o pagamento pelo que executou. Sempre existirão, porcos, carneiros, cachorros, etc., mas que sejam éticos, que sejam probos, que sejam honestos e que cada um tenha, de verdade, as condições e oportunidade de atingir seus objetivos sem protecionismos e benesses. Que prevaleça a igualdade de direitos e não o direito de igualdade determinada por alguém para favorecer a si e aos seus. Ninguém precisa de muletas para se escorar, e sim de aprender a andar com seu próprio esforço. Ninguém precisa de peixe de graça e sim de anzol e isca, e aprender a pescar. Dar, cria dependente. Ensinar, cria liberdade, iniciativa e independência. Melhor dar a árvore, ou a semente e ensinar a técnica para que se aprenda a plantar?
Nenhum sistema é perfeito, nele sempre existirão líderes e liderados. Nele sempre existirão insatisfeitos, que querem mudanças. Porém sempre que a meritocracia e a busca individual forem privilegiadas, que o esforço de cada um for reconhecido e recompensado, minimizaremos as insatisfações e consolidaremos a certeza de igualdade, liberdade e fraternidade.
Enfim, as fábulas imitam a vida.
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Sentimentos - Ensaios e Crônicas
RandomSentimentos - Ensaios e Crônicas nada mais é o do que o escritor colocando no papel de forma literária seus sentimentos. É o passeio por uma vida e uma viagem pelo sempre surpreendente coração. Uma caminhada firme e confiante pelo mundo dos sentimen...