Sentimentos - Ensaios e Crônicas

As Buzinas Cajado de Moisés

Estamos vivendo numa época estranha. Um individualismo selvagem que faz com que as pessoas se preocupem mais com elas mesmas do que com o todo. Onde a ética está sendo colocada de lado em prol do enriquecimento ilícito de muitos. Onde você é medido por quanto você recebe de dinheiro ou quanto você tem de patrimônio. Onde o limite é não ter limite.

Essa louca escalada está fazendo com que as pessoas percam o senso do respeito, da probidade e da justiça. Que, ser bom passou a ser bobo, e onde honestidade passou a ser virtude e não obrigação.

Ninguém respeita mais nada, ou ninguém, na corrida desenfreada por levar vantagem em tudo.

Sem contar que a moda agora nas estradas e rodovias são as "Buzinas Cajado de Moisés", instaladas nas motos.

É isso mesmo, um monte de motoqueiros (falei motoqueiros e não motociclistas), que apertam a buzina e acham que com isso os carros vão abrir para sua passagem automaticamente, como Moisés no mar Vermelho. Ai de você, pobre motorista, se não atender ao chamado do altíssimo e não chegar o seu carro para o lado. Será inevitável ser alvo de palavrões e ameaças, e se dê por satisfeito, pois o detentor da tal buzina sagrada poderá, e não é raro, arrancar seu espelho retrovisor de propósito. Existem ainda aqueles, que munidos da ira sagrada, chutam sua porta ou arranham a lataria do seu veículo como castigo pelo seu pecado.

Verdadeiros malabaristas sobre duas rodas, sem a menor preocupação com a própria segurança ou a de quem quer que seja. Capazes das maiores agressões se você não permitir que eles, normalmente em alta velocidade, transitem sem obstáculos entre uma faixa de trânsito e outra, pelo meio da rua.

Possuem a testa como para choque e as pernas como para-lamas, mas nem isso é capaz de diminuir seu ímpeto e impedir seus excessos e abusos. São os reis do meio da rua. Senhores da entre faixa e donos do cajado de Moisés moderno, com emissor de ruído.

Até quando vai isso?