Eu estava escrevendo a Revista FIOFO, uma sátira de humor que faço com as notícias que acontecem na semana. Em um determinado momento me veio um pavor repentino de eu poder ser mal interpretado no que estava escrevendo, e ainda ser alvo de um dos muitos "espertalhões" que se aproveita de qualquer situação para arrumar um dinheiro.
Pasmem, mas é isso mesmo. Eu escrevo humor e fiquei com medo de ser taxado de preconceituoso. O patrulhamento do politicamente correto está tão grande que acho que não vou poder mais fazer piada de negros para não ser acusado de ser racista; De judeus, portugueses, argentinos, etc. para não ser acusado de xenofobia; De gagos para não ser acusado de preconceito linguístico; De mulheres para não ser acusado de machista e chauvinista; De gays para não ser acusado de homofóbico; De gordos, narigudos, etc. para não ser acusado de bullying psicológico (ainda mais se as piadas forem repetidas); De velhos para não ser acusado de preconceito contra a terceira idade; De pobre ou de rico, para não ser acusado de preconceito social; De nordestinos, gaúchos, etc. para não ser acusado de sectarismo e segregação regional.
Fui ler uma tal de escala de Allporte, datada de 1954 e fiquei apavorado. Eu e todos os humoristas do planeta já estamos qualificados no nível 1 da bendita tabela. Só não vi nessa tabela nenhuma escala para quem discrimina humoristas impedindo-os de exercer o mais sagrado dos seus compromissos, o mais sagrado dos seus dons, que é o de fazer rir, o de trazer alegria.
Existem leis que determinam que é crime alguns tipos de preconceito. Quero deixar claro que sou frontalmente contra qualquer preconceito. Inclusive, para ser escritor de humor a única coisa que não posso ter é preconceito. Mas o meu medo é que estejamos criando o império do "tudo é crime".
Meu primo é branco e desde pequeno seu apelido é macaco, por ter sido uma criança que só vivia pendurada em árvores e muito rápida e esquiva. Outro dia o vi do ônibus e gritei seu apelido. Logo depois fiquei imaginando se algum afro descendente não viria atrás de mim com a polícia e eu receberia voz de prisão por racismo. Até porque, costuma-se, por brincadeira ou por maldade, se fazer analogia desse animal com pessoas negras. Nunca mais gritei meu primo no meio da rua. O que acho estranho é que me chamam, de elefantão, mamute, hipopótamo, porque sou gordo e ninguém foi preso até agora.
Sou pobre, humorista, gordo e já passei a algum tempo da juventude e vou continuar a fazer piadas de mim mesmo. Sei que um dia alguém ainda vai me denunciar por auto bullying, e eu vou acabar preso. Pelo menos vou poder fazer piadas de presos e carcereiros, pois já vou estar na cadeia mesmo.
As pessoas com excesso de patrulhamento estão iniciando um regime de terror a liberdade de expressão. Não é uma piada sobre negro, judeu ou qualquer outro que carrega o famigerado e nefasto preconceito. É a atitude negativa, a maldade, a hipocrisia, a agressão, essas sim devem ser combatidas.
Entendo que quem é alvo de piada, pode até ficar chateado, mas gozação é uma coisa e preconceito é outra. Para gozação existe sempre a desculpa, quando esta cabe, para preconceito não tem desculpa.
Espero sinceramente que não usem o patrulhamento do politicamente correto para acabar com a alegria, com o riso e com a felicidade. Não utilizem preconceitos para acabar com a liberdade de expressão na sua mais forte ferramenta que é o humor. Não amordacem e prendam quem tem como seu único crime querer fazer rir e alegrar as pessoas.
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Sentimentos - Ensaios e Crônicas
DiversosSentimentos - Ensaios e Crônicas nada mais é o do que o escritor colocando no papel de forma literária seus sentimentos. É o passeio por uma vida e uma viagem pelo sempre surpreendente coração. Uma caminhada firme e confiante pelo mundo dos sentimen...