Visão do Facebook

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Já virou um hábito acordar e ligar o computador para dar uma olhadinha no facebook. Assim como ler jornal, preparar o dia em curso no dia anterior, etc, etc.

Cada dia que passa, fico mais convencido que o facebook é uma fabrica de filósofos, Temos desde Temistocléias até Simones de Beauvoir. Desde Platões e Socrates até Fernandos Pessoas. A fauna e a flora são variadas e até eu me meto a filosofar de vez em quando.

Leio as mais variadas defesas de teses. Desde postulados clássicos até variações para a filosofia punk-funk modernistas.

Desde: "Aqui se faz aqui se paga", até "é nos. Os mano tão dominados", ou " As cachorra gosta mermo é de ser esculachada". Inclusive seguindo a concordância verbal da linha filosófica escolhida.

Já vi de tudo. Desde desabafo de crise existencial infanto-juvenil até "roupa suja de casal" lavada em público com vírgulas e pontos, em todos os detalhes sórdidos, que vão desde: "Seu pau é pequeno" até "sua vagabunda porca". Já vi declarações de amor do tipo, "agora é pra vida toda, você é minha alma gêmea" e na semana seguinte um chamando o outro por adjetivos que me imponho não repetir aqui e descobrindo que a alma gêmea não passava de alma desconhecida de quinto grau e que morava no inferno (ambos).

Facebook é o local onde presencio a cada semana uma mesma pessoa apaixonada por uma pessoa diferente, querendo me fazer crer que agora é o verdadeiro amor da sua vida (como se apaixonam para vida inteira no facebook, chego a ficar pasmo). E vejo na semana seguinte essa mesma pessoa informando que estava enganada e que agora sim é pra valer (nem que seja por mais uma semana).

Também é no facebook que me deparo com as decepções de uma vida, do tipo: "homem ou mulher não prestam e nunca mais quero saber disso de novo. O amor não existe, vou virar freira ou padre (quesito de celibato)". Mesmo que essa decepção monstruosa só dure uma semana ou no máximo um mês, até o surgimento de um gatinho ou uma gatinha nova no face.

Facebook. Talvez pela falsa sensação de estarmos protegidos pelo monitor, faz com que algumas pessoas sejam viscerais, ou não meçam exatamente o grau de exposição que estão tendo. Chega a ser engraçado como as mesmas pessoas conseguem ser tão diferentes quando não estão com a falsa proteção do monitor. A coragem desaparece e mesmo os "descoladinhos" ou "descoladinhas" se transformam em poços de introspecção. Quase uma timidez patogênica. As menininhas sapecas que se propõem a fazer de "um tudo" no face, viram irmãs de caridade ou incorporam a visão do sacro em todas as suas dimensões e viram verdadeiras santas. Os rapazes, verdadeiros Dom Ruans, viram de uma hora para outra castos servos religiosos, semivirgens mudos. Não conseguem sequer abrir a boca e proferir meia dúzia de palavras. Sem contar, é lógico, aqueles e aquelas, que realmente não conseguem expor meia dúzia de palavras em virtude do seu vocabulário ser muito pobre até pra isso.

Deveria ter uma tese na psicologia só para comportamentos de facebook, mas acredito que essa Freud não estudou e nem sequer imaginou. Poderíamos até criar uma escola facebookiana, como tem a escola Behaviorista. Poderia ser criada a síndrome do facebook que tende a genializar ou emburrecer (me permitam as noologias) pessoas a um nível jamais descrito nos compêndios modernos das ciências.

Como descubro pessoas cheias de razão no facebook. Como descubro, no facebook, pessoas maduras aos 18 anos. Pessoas, que nessa idade já sabem de tudo da vida e são capazes de defender teses de sabedoria, abstrata e prática, capazes de fazer impressionar os filósofos que citei no inicio do texto. Mesmo que elas não tenham vivenciado nada do que defendem ou sequer tenham passado por um milionésimo do que faz alguém ser verdadeiramente maduro ou experiente. Não viveram uma semana e já se passam por anciões, verdadeiros monges budistas nascidos e criados no Tibet.

Enfim, esse é o mundo do facebook. Um mundo virtual onde tudo ou quase tudo pode acontecer. Um local onde todos são iguais e podem escrever o que quiser. Um verdadeiro marco de democracia.

Vida longa ao Facebook.

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