Cap. 12

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Jade Williams On                06/04

Acordei me sentindo exausta. Parecia que eu havia caído de um barranco. Minhas pálpebras pesavam muito para que eu abrisse elas de imediato. Mas enfim eu consegui. Vi paredes brancas à minha frente, contendo uma TV no meio dela, aquelas que são penduradas. Ao meu lado esquerdo vejo janelas com cortinas longas e beje. E... Lorenzo? Pois é, por mais incrível que pareça, ele estava dormindo numa poltrona creio que desconfortável. Do meu lado direito vi Calleb em uma poltrona parecida, se não, igual, à que Lorenzo estava, também dormindo. Olhei para meus braços que estavam bem dormentes. Eles estavam enfaixados dos pulsos até mais ou menos o cotovelo, onde eu iniciei e terminei os cortes. Fui lembrando aos poucos onde eu estava e o porquê. Basicamente um suspiro frustrante saiu da minha boca.

Fecho os olhos e demoro um pouco para abri-los novamente.

— Jade? — ouço a voz de Calleb soando perto de mim. Olhei para ele, que estava realmente estava vindo em minha direção. — O que está sentindo? — ele estava com uma cara de sono. Até porque o relógio que havia no quarto, que fui perceber que estava ali depois de um tempo, marcava 02h30.

— Nada. Só estou bem cansada. — me ajeito e fecho os olhos por alguns segundos.

— Por que fez isso? — olhou no fundo dos meus olhos após eu abri-los.

— Eu só... Não sei. À cada dez pensamentos, nove são na possibilidade de tudo isso acabar, esse sofrimento, essa dor. Eu só segui meu coração. — respondo sincera, olhando também no fundo dos seus olhos.

— Olha, eu sei que está difícil se adaptar. Mas, cara, ainda é cedo. Você só passou três dias aqui, ainda tem tempo para se acostumar com a rotina e botar seus pensamentos em ordem. — fecha os olhos e em menos de dois segundos abre de novo. — Eu sei que nos conhecemos a muiiiito pouco tempo, porém, eu sinto que você é diferente das outras garotas. Não é segundas intenções, deixando claro. Só digo que... Eu nunca tive uma amizade feminina que eu pude confiar para contar tudo sobre mim. Uma amizade que no primeiro dia eu já tenha conversado tanto que parece que a amizade é de anos. Nunca encontrei ninguém como você, sabe? Na verdade nunca fui de ter muitos amigos.

— Mas você é conhecido por quase, se não, todo, o Batalhão...

— Sim. Conhecido e popular eu sempre fui. Desde a época de escola. Mas eu nunca tive uma amizade igual ou parecida com a de Lorenzo. Muito menos feminina. Entende? — assinto. — Quando te vi naquele banheiro, toda ensanguentada, pálida, com os braços cortados... — olha para baixo e volta seu olhar para mim. — Enfim... Eu não sei, mas nunca me preocupei tanto em saber se você sobreviveria como qualquer outra pessoa.

— Obrigada pela preocupação. Eu realmente devo muito à você e a Lorenzo por terem me trazido, se preocupado. Eu já considero sua amizade demaiiis. Para qualquer um não tem explicação uma amizade de dois dias significar tanto. Mas só nós sabemos. Mesmo que nesse exato momento eu quisesse estar longe de tudo isso, longe de problemas e pensamentos que me matassem por dentro, obrigada. — seguro sua mão e coloco a minha outra mão em cima.

— Eu sei que você pode estar enfrentando dez leões aí dentro desse coraçãozinho. — coloca a mão no mesmo. — Mas, por favor, quando tiver algum problema, seja qual for, à partir de agora, conte para mim?!

— Eu não sei, sabe. Ainda estou confusa com tudo que tem me acontecido em tão pouco tempo. Nem eu sei o que está acontecendo comigo. Mas já que acordei novamente, né... — reviro os olhos. — Eu prometo. — sorrio sem mostrar os dentes. Bem de leve.

— Pode contar comigo para o que der e vier. Pode ter certeza. E me desculpe por não ter comparecido junto com você quando tomou essa decisão. Desculpe por não perguntar mais de uma vez se estava bem ou não. Me desculpe por...

— Olha, não precisa se desculpar pelas minhas atitudes. Foi eu que procurei estar aqui.

— Mesmo assim. Você me desculpa? — passa a mão pelos meus cabelos.

— Mesmo sem motivos, sim. — risos. — Nossa, estou tão cansada... — suspiro.

— Imagino. Precisou de uma transfusão de sangue, até.

— Sério? — arqueio as sobrancelhas, surpresa.

— Sim. O médico também disse que você levou vinte pontos em cada braço. — olho para os mesmos, enfaixados. — Terá que tirar daqui uns quinze dias, algo assim. E prepare-se, ele disse que vai receitar muitos remédios. — reviro os olhos.

— Eu só queria que tudo isso tivesse acabado... — paro meu olhar em minhas mãos.

— Jade, pensa positivo, você é Capitã de um Batalhão de Nova York. O que tem de melhor? Quantas pessoas queriam estar no seu lugar? E seus amigos e suas irmãs logo vão se acostumar e ver que tudo isso foi para o seu bem. Seja lá se você pensou ou não no seu ex namorado, saiba que ele decidiu terminar. Ele não se importou com sua felicidade. Não sei, talvez ele não conseguisse manter um relacionamento à distância, ele deve ter lá seus porquês. Mas você, está aqui por uma razão. Que é o seu sucesso.

— Em falar em Batalhão logo teremos que ir para lá e...

— What? — me olha sério. — Querida, tu quase arrancou os braços, quase cometeu suicídio, levou uns quarenta pontos, está fraca, e ainda acha que vai para algum lugar?

— Eu estou bem.

— Sério? — pergunta irônico.

— Está bem. Mas quem vai me substituir?

— Não sei. Mas o Batalhão tem muitos Capitães reservas. A diferença é que você é fixa.

— E se eles me mudarem de cargo ou alguma coisa só porque faltei?

— Relaxa. Se uma pessoa estivesse tendo uma convulsão no meio do Batalhão e ficasse internado uma semana no hospital, você acha que por problemas de saúde eles iam te mandar embora ou te mudarem de cargo? Com você é a mesma coisa. Tem atestado, tem as provas, que são seus braços...

— Mas acontece que eu fiz isso porque eu quis. E se eles perguntarem? E se eles descobrirem?

— Ué, mentiras estão aí para isso, né.

— E qual mentira? — pergunto como se realmente não houvesse uma justificativa cabível.

— Só falar que você foi assaltada.

— E desde quando os bandidos rasgam seus braços? — reviro os olhos. — Não seria mais fácil matar do modo tradicional?

— Sim. Mas sabe como é, né? Sempre existem os loucos.

— E se ele querer saber mais sobre o bandido, querer ir atrás dele?

— Fica tranquila, só dizer que o caminho estava escuro, que ele estava acompanhado, foi tudo muito rápido, só sentiu a dor profunda.

— Olhando assim nem parece um soldado, e sim um investigador. — risos.

— Poderia ser uma segunda opção caso eu não me tornasse policial.

— Sério? — faço uma expressão de surpresa.

— Não, né. — bagunça meu cabelo. — Agora volte à dormir.

Sorri e puxei mais o lençol para mim. Talvez realmente não fosse para eu partir. Provavelmente eu ainda tenha muito que aprender nessa vida. E uma dessas coisas que ainda tenho que me acostumar é, que quando mudamos de escola, de vizinhança, de trabalho, ou até mesmo de país, devemos sempre procurar se adaptar. Procurar fazer amizades novas. Isso sempre foi muito difícil para mim. Eu sou bem fechada para qualquer pessoa que vier falar comigo. Talvez por muitas pessoas já terem pisoteado meu coração nessas mesmas circunstâncias. Mas também existem pessoas boas, como Calleb, e às vezes a gente não abre portas com medo de acontecer o mesmo que já nos aconteceu no passado.

O Capitão 2 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora