Cap. 89

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02/07 segunda-feira

Jade Williams On

Meu celular tocava a música I Took A Pill In Ibiza (Seeb Remix) sem parar. Alguém que queria falar comigo de qualquer forma. Aff, fala sério, às sete da manhã.

- Alô? - atendo com a pior cara.

- Eu conheço bem essa voz...

Calma... Eu também conheço o dono dessa voz. Mas, de onde mesmo?

- Lembra de mim?

- Sua voz não me é estranha. Mas o que você quer?

- Não quer nem saber quem eu sou primeiro?

- Tá, quem é você e por que está me ligando às sete da manhã?

- Jade, você se relacionou com uma pessoa errada.

- Ok, essa conversa é para você dizer o quanto odeia eu e meu noivo? Para dizer que me ama e que você deveria estar comigo, não ele? Me desculpe, já ouvi essa história antes.

- Então vocês estão noivos... - ele parecia surpreso.

- O que você quer? - repito devagar cada palavra, eu estava sem paciência.

- Calma, não se estresse, faz mal para o bebê. - solta uma risada de deboche.

- Fala logo.

- Ok, mas você não se importou do seu noivo não estar agora ao seu lado?

Olho para o meu lado, nada de Jake. Me levanto às pressas, passando por cada cômodo, nada dele.

- Ele foi na casa de um amigo. - tento não ficar com a voz trêmula.

- Para de mentir, Jade. Ele foi de noite, já é de manhã.

- Ele pode ter dormido lá.

- E não te ligou para avisar? Estranho isso, não?

- Desembucha, o que você quer?

- Não ficou claro? Ok, vamos partir para a cobertura do bolo. Não lembra quando aconteceu o primeiro pedido de namoro? Na casa de Jake? Não lembra o que aconteceu?

Por um momento eu perdi a voz. Algo gritava em meu corpo. Eu queria correr, fugir, sumir. Todos (ou quase) os meus inimigos tiveram um fim trágico, mas sempre tem mais um que surge das profundezas do inferno. Bem agora que eu estava de boa, prestes a me casar, esperando um filho...

- O que você quer? - minha voz já estava um pouco embargada, era difícil evitar.

- É o seguinte, Jake é meu filho.

- Não, não é! Ele tem os pais dele de verdade. Você foi apenas um embuste na vida dele, dos irmãos e da mãe. - cuspo as palavras.

- Ele é meu filho!

Respiro fundo.

- Você não está entendendo. Eu estava com saudade do meu filho. Vocês não entendem. VOCÊS TODOS NÃO ENTENDEM! Agora ele está aqui comigo, tendo uma boa manhã. Irei arrumar alguém e arranjar um casamento para ele.

- Ele não faria isso.

- Pois é, nem parece que vai, mas ou ele se casa, ou uma criança que não tem nada a ver com essa história toda vai sofrer as consequências.

Meu coração disparou. Por um minuto o meu mundo estava desabando. Ou Jake ou meu filho. Como assim? Não, isso não pode estar acontecendo. Não pode! Jake, onde você está, meu amor? Eu vou te buscar, eu juro, e juntos, nós vamos formar uma linda família. Você vai terminar sua faculdade de direito para se tornar um belo Delegado, eu sei disso.

- Onde ele está? - lágrimas já rolavam por meu rosto.

- Era nessa parte que eu queria chegar. - parece sorrir. - Mais tarde eu direi. Claro, se você continuar uma boa mocinha.

- ONDE ELE ESTÁ, SEU DESGRAÇADO?

- Jade, não liga para o que ele falou, fica aí.

Aquela voz me tranquilizou de alguma maneira. Não sei como, nem porque Jake tinha esse efeito sobre mim. Sem tempo nem de respirar depois do que ele disse ouço um barulho estridente e um grito sofrido de Jake.

- O que você fez com ele?

- Saberá mais tarde, fofa.

E aí aquele som irritante de quando a ligação é encerrada me deixou mais irritada ainda.

- Eu tenho que ir até ele. Eu tenho que descobrir onde o seu pai está. Por mim, por nós. - passo a mão pela barriga.

Pego um casaco, já que estava frio lá fora. Visto uma roupa simples, um moletom todo cinza. Por último eu calço um tênis vermelho. Saí de casa apenas com o celular e as chaves do apartamento. Hoje eu e Jake pedimos para que tivéssemos folga, seria o dia em que iríamos experimentar as comidas da festa e aprovar ou não. Mas como farei isso se meu noivo não está aqui?

Após eu pisar mais ou menos uma esquina depois do condomínio eu sou surpreendida por braços fortes me agarrando e um cheiro forte de álcool. Imediatamente tudo ficou preto.

Jake Dornan On

Era mais ou menos nove horas da noite quando eu estava no caminho da casa de Diego. Eu iria fazer uma visita e também conversar sobre amanhã, se ele poderia ir comigo. Essa ação foi totalmente falha quando eu já estava a uma rua da dele. Caminhando em passos pequenos e numa velocidade normal, alguém, não, na verdade eu acho que foi mais de uma pessoa que estava presente no local, mas, enfim, um deles segurou meus braços por trás. Foi quando eu me assustei e comecei a dar golpes, mas de nada adiantou. Em questão de segundos sinto algo gelado e com um cheiro ruim em minhas narinas e boca.

Aqui estou eu. Em uma casinha, até que bonita, mas abandonada. De madeira, escura, sem muitos detalhes ou decorações. Não sei por quanto tempo eu permaneci dormindo, mas não pude ver o caminho, a casa por fora, nada! Talvez eu conhecesse, ou não. Eu nem sei quem fez isso comigo. Tudo bem, Jake Dornan tem muitos inimigos traficantes, sonhadores com minha mulher, querendo me matar, estragar minha família, afinal, é difícil contar ou separar por categorias.

Acontece que acordei e eu já estava acorrentado num poste frio e oleoso. Estava escuro, era um quarto abafado, com uma janela que, por furos das madeiras que a tampavam, mostrava a luz do dia lá fora. Eu comecei a tocir, tinha muito pó.

- Vejamos que você acordou, meu filho.

Ah, não. Logo ele? Velho, que saco!

- O que você quer?

- Filho, eu estava com saudade de você. - eu não estava o vendo, por mais que das brechas das madeiras fugiam luz, estavam direcionadas para o teto, e ele era alto, então o quarto ficava escuro do mesmo jeito. Seus passos estavam cada vez mais próximos. Ele acariciou meu rosto com suas mãos secas e aparentemente desgastadas. Eu nem queria pensar o quão velho ele estava, mas pelas mãos, eu imagino.

- Tire as mãos de mim! Eu não sou seu filho, você não é meu pai, é um completo estranho. - digo todas essas palavras com desgosto.

- Jake... Eu te criei, te dei amor, enquanto a sua mãe estava com outro, sem você, sem querer saber de ti. Sabe o quanto eu sofri para sustentar você?

- Um "pai" bater na própria mulher, assustando e aterrorizando os "filhos", para mim, isso não é e nunca vão ser amor. Até parece que você fez tudo isso por mim, por nós. A maioria das contas, senão todas, era a minha mãe que pagava, enquanto você estava lá, em um barzinho qualquer, bebendo outra vez. Sabe a dor que eu senti quando vi minha mãe jogada no asfalto depois de ter sido atropelada? Foi como se eu tivesse morrido junto. Você foi um ordinário! Me fez acreditar que ela morreu e me fez se sentir culpado a minha vida inteira, sabendo que poderia ter me contado a verdade e me permitido ir até ela.

O Capitão 2 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora