Cap. 16

2.2K 107 4
                                    

Matheus Dornan On

— Então, Matheus, amanhã... — meu celular toca bem na hora que o Delegado estava falando comigo.

—  O que foi? Eu estou...

— Jake tentou cometer suicídio. Ou cometeu... Enfim, não sabemos. Vai para o hospital da região, estamos à caminho.

— O QUE? Como assim? Explica direito. Como e onde aconteceu?

— Quando você chegar eu aviso, não dá para falar por telefone.

— Tudo bem. Encontro vocês na recepção. — desligo.

Olho para o Delegado à minha frente, em sua cadeira.

— Delegado, me desculpe, mas eu poderia ser liberado agora? Qualquer assunto, operação, eu estarei aqui amanhã para cobrir. Meu irmão, Jake, do BPM, está no hospital. Não sei o que aconteceu, mas parece ser grave.  — peço.

— Claro, claro, pode ir. — forma uma linha reta nos lábios.

— Muito obrigado.

Saio da sala correndo com o celular na mão, parecendo um doido. Abro a porta do carro, me infiltro dentro, partindo imediatamente para o hospital. Meu Deus, não estou acreditando que Jake fez isso... À cada sinal vermelho que eu parava eu pensava nos porquês. E... Olha... Não foram poucos. Depois que Jade se mudou, por mais incrível que pareça, Jake ficou muito mal. Ele deve ter feito um show todo, demonstrando firmeza, posse da situação, mas a real é que ele ficou dias, noites, chorando. Quando eu passava pelo corredor dos quartos era possível ouvir seus soluços meio inaudíveis. Também quando a porta ficou um pouco aberta, dando para ver sua cama, principalmente a cabeceira. Ele estava de costas, porém, dava para perceber que chorando. A verdade é que todos sentiram o peso dessa viagem dela. Quando digo todos, é todos mesmo! Parece que todo mundo está mais triste, sei lá, não exatamente, mas apenas estão seguindo os seus trabalhos, não conversam como antes, está tudo mudado. E quem sou eu para dizer que não. Sou um deles. Jade, por mais que pareça estranho, já me acostumei à vê-la no sofá de casa, tentando se esquivar das cócegas de Jake. Ou então um brincando com o outro, evitando o beijo de um, por birra. Também à ver eles no quarto toda vez que eu passava. Os dois, agarrados, na maioria das vezes conversando, vendo TV, ou só se beijando mesmo. E por mais que eu não tenha motivos para gostar tanto dela assim, ela tem muitos para fazer a gente sorrir com suas piadas e brincadeiras expontâneas. Sei lá, de certa forma isso afetou geral. Não ter mais com o que rir de coisas bestas. Não ter uma pessoa implorando para irmos em algum rolê bacana. Passei em casa para pegar alguns documentos. Deixei o carro na rua, em frente à portaria. Eu seria rápido. Subi pelo elevador. Até pensei em ir pelas escadas, mas fazendo um pequeno cálculo não valeria à pena, já que são quase vinte e poucos andares. E como se não bastasse, para mim o elevador estava demorando séculos. Até que enfim chegou!

Sem pensar muito, deixei a mochila no chão e abri a porta. Peguei ela novamente, logo em seguida jogando-a no sofá e entrando no quarto. Por mais que eu andasse todos os dias com meus documentos em mãos, hoje, justo hoje, isso não passou por minha cabeça. "Ah, mas você é um policial, deve estar sempre preparado". Acontece que também cometemos erros. Continuamos sendo seres humanos. Coloquei eles no bolso e tranquei o apartamento. Voltei para onde deixei o carro, entrei no mesmo, agora sim, indo para o hospital. Eu não parava de pensar um segundo em como meu irmão poderia estar. Principalmente se vivo ou não. Jake... O que você fez?...

Eu só pedida à Deus o caminho inteiro que não fosse o ultimo dia de Jake. Que ele tenha forças para continuar com a gente, resistir. Por mais que eu fosse rápido, nunca parecia chegar no destino.

— Vamos! — algumas lágrimas quentes e persistentes rolavam soltas. Bati no volante. Sim, agora estou no meio de um pequeno trânsito. Revirei os olhos. Eu estava impaciente demais para aguentar de braços cruzados. Dei uma pequena volta e entrei na primeira esquina à direita, que cortava caminho. FINALMENTE eu cheguei ao hospital. Estacionei numa vaga qualquer, desde que estivesse perto da entrada. Tranquei as portas e entrei no hospital.

— Mãe... Pai... Lucca... — se abraçamos. — Como ele está? — enxugo as lágrimas.

— Ele está precisando de sangue — Lucca responde.

— E... Não tem no hospital? — me preocupo.

— Tem. Graças à Deus, sim. — minha mãe responde aliviada.

— O médico disse que não significa que ele ainda não tem riscos de vida. Até porque, terão de fazer mais alguns exames para detectar tais bactérias, vírus, infeções. Claro, se tiver. Cremos que não. — meu pai diz.

— Ele ficará bem. — me sentei numa cadeira, com as mãos cruzadas e meu queixo apoiado nas mesmas.

Eu só conseguia fechar os olhos e rezar por ele. Nunca, em toda a minha vida, eu estive tão preocupado com um irmão meu. Sinto um abraço de uma pessoa que acabará de sentar ao meu lado. Lucca.

— Vamos pensar positivo. Por mais que pareça impossível. Você sabe tanto quanto eu que ele já sofreu muito quando éramos menores. Que sempre cuidou da gente, nos educou, deu o melhor para nós, acho que o mínimo que podemos fazer agora é pensar na sua melhora. Ele é um homem forte. — dá uma apertada no meu ombro com a mão que estava em volta do meu pescoço.

— Eu sei. Ele vai sair dessa. Ele tem que resistir. Por mim, por você, pelos nossos pais, por nossos amigos e todos que amam ele.

— Bom, agora ele deve estar fazendo a transfusão. Vamos torcer para dar tudo certo e ele não precisar de mais ou ter alguma complicação. — assinto.

À cada vez que eu batia meus pés no chão eu sentia o quanto deveria ter ficado ao lado dele nesses últimos dias. Pô, a Jade tinha ido embora, custava nós ficarmos próximos dele? Perguntar o que estava aconteceu. Como foi (está sendo) seu dia. Enfim, eram tantas coisas que poderiam ter sido evitadas e, por um descuido, não foi. E Jade? Como será que ela deve estar? Bem? Feliz? Ou triste? Infeliz? Não sei, até porque, não importa. O que me satisfaz agora é saber do meu irmão.

— Ei, já passou pela sua cabeça que poderíamos ter ajudado ele a não tomar essa decisão? Sei lá, ficarmos, insistirmos na aproximação? — Lucca aprofunda seu olhar no meu em segundos.

— É o que eu mais penso. — faço um movimento com a cabeça, negativamente.

— Eu não paro de pensar nisso. Em saber que tenho uma parcela de culpa nessa história toda... — passa a mão direita, na testa, inconformado.

— Para. Não foi culpa sua. Nem nossa. Apenas poderíamos ter evitado. Mas você sabe que no fundo a escolha foi dele. E sabe, eu também o faria. Se minha namorada tivesse uma proposta, (primeiro eu arrumaria um jeito de continuarmos essa relação, por mais que soubesse que no final nunca dura uma relação à distância), com essa dor, essa culpa, infelicidade, dias ruins, eu também escolheria um modo de me aliviar, de certa forma.

— Sim, mas não vejo o suicídio como a única saída. Um único método de se sentir aliviado. Assim como as drogas. Escolhe quem quer. E creio que o caso de Jake, tenha sido extremamente crítico. Víamos a dor em seu olhar, no modo em que falava com a gente, como agia, estava na cara que ele não estava bem. E não o culpo por ter tomado essa decisão. As pessoas tem formas de se alivarem, de certa maneira. E a que ele encontrou foi essa.

O Capitão 2 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora