Cap. 51

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— Você concorda com tudo, Jade?

— Sim.

— Não foi a primeira vez que ele tenta algo com Jade. Na verdade eles são irmãos adotivos. Eles tem uma diferença de quase nove anos. A infância e adolescência dela inteira ele abusou e bateu nela. Ela tinha apenas seis anos de idade. Isso durou por anos, até a morte de seus pais, onde Louis aproveitou para sumir do mapa, pois sabia que seria encontrado e denunciado. Ele já ajudou no sequestro dela, e também já até tentou matar ela com um tiro. Eu tenho certeza que se eu não tivesse chegado a tempo ele teria feito algo pior com ela. Bom, trouxe ela aqui para fazer a denúncia e o corpo de delito. Se quiser fazer perguntas ou conversar melhor com ela, estarei lá fora. — me levanto, quando uma mão segura meu pulso direito. Era Jade, com um olhar de dó.

— Pode ficar, não tenho nada a esconder.

— Tem certeza?

— Absoluta.

Me sentei novamente.

— Por que não denunciou Louis na época em que já tinha consciência do que ele fazia com você?

— Eu tinha medo de falar para alguém. Na verdade, ele sempre me ameaçava, dizendo que se eu contasse para alguém ele me mataria. E eu sempre tive medo disso. No sequestro ele tinha sido preso, e até preferi esquecer essa história toda. No dia em que me deu o tiro ele já estava foragido, e depois não apareceu mais. Aí teve o lance da viagem, da qual eu fiquei três anos. E agora, ele me aparece novamente com esse papo de que eu sou dele, de que ele queria me tocar, me sentir, e que queria um lugar onde pudéssemos ficar mais à sós.

— Bom, vamos começar...

[...]

Tudo durou em torno de uma hora. O corpo de delito, o resultado, a denúncia. Deu tudo certo. Louis já estava a caminho da prisão e participaria do julgamento daqui uma semana, da qual Jade e eu devemos comparecer. Ela, por ter sido vítima, e eu, por ser uma testemunha.

— Tem certeza de que está bem? — olho para ela durante o sinal vermelho, ela estava no banco do passageiro, depois de eu ter colocado suas compras no banco de trás. Jade, escorada na janela fechada, parecia pensativa.

— Estou. — respondeu tristonha.

— Olha, eu sei que isso mexe muito com o seu passado, mas não fique lembrando dessas coisas que só irão te deixar triste. Eu imagino o quanto você sofreu nas mãos daquele idiota, mas pense, tudo isso passou. E pode ter certeza, se eu te visse daquela maneira, em qualquer outro lugar, com qualquer outra pessoa, eu iria te defender do mesmo jeito.

Ela me olhou, talvez surpresa. Eu estava com tanta saudade dela.

— Por que você é tão grosso comigo?

Tá, essa pergunta me pegou.

— Por que parece que você gosta de me manter distante de ti? Me pede milhões de coisas no trabalho apenas para me manter longe.

— Eu só... Eu faço isso porque...

Olho para ela, da qual me encarava com aqueles olhos verdes brilhantes.

— Se eu te mantesse por perto eu tenho certeza que não iria conseguir resistir. E como eu vou casar, eu tenho que ser fiel desde o início.

— E você a ama?

Fiquei um tempo em silêncio. Era incrível como ela conseguia me quebrar com tão poucas palavras.

— Sim, muito.

Depois disso o caminho foi tranquilo, silencioso.

Vejo que ela colocou a mão na testa, fechando os olhos.

— Jade, você está...

— Jake, para o carro! — ela aumenta o tom de voz. — Para o carro, por favor.

Apertei o freio com tudo e parei na calçada. Ela já estava do lado de fora. Saí do carro, dando a volta. Vi ela vomitando perto de uma árvore. Parecia bem mal.

— Você está bem?

— Estou.

Dava para ver que sua respiração estava acelerada. Ainda escorada com as duas mãos naquela árvore grossa e alta, olhando para o chão, fui até ela, tocando em seus ombros. Virei Jade para mim, fazendo-a me olhar no fundo dos meus olhos.

— Vamos, vou te levar para o meu apartamento. — me viro.

— Jake...

Olho para trás novamente, especificamente, para ela.

— Nada.

Percebi que ela desistiu de dizer e apenas andou em direção ao carro. Entramos, mais uns dois minutos e chegamos no condomínio. O porteiro liberou nossa entrada, subimos o elevador em silêncio. Quando as portas se abriram tirei a chave do bolso, abrindo a porta.

— É lindo. — ouço-a falar depois de não sei quantos minutos calada.

— Minha mãe me ajudou a escolher. Sou péssimo com essas coisas. — risos.

— Posso...

— O quarto é logo ali. Sei que deve estar cansada. — sorrio sem mostrar os dentes.

— Não, é que...

— Roupas? Pode pegar uma camisa minha e uma cueca, sei lá, sinta-se em casa. — dou uma fraca risada.

Ela veio até mim, me abraçando. Tá, isso me pegou de surpresa. Apenas retribuí. Ambos precisavam daquilo.

— Obrigada por tudo.

— Não foi nada. — beijo sua testa. — Durma, você deve estar cansada.

— Sim, e muito. — ela ri frustrada.

Depois disso ela sumiu. Abri a geladeira, pegando de um pote, cinco uvas de uma vez. Voltei para a sala e liguei a TV pelo controle remoto, me sentando no sofá. Não estava passando muita coisa de interessante. Deixei num canal qualquer e me deitei. Acho que acabei pegando no sono, eu estava muito cansado.

Jade Williams On

Mais para frente eu teria uma audiência. É, e espero que com essa nova denúncia eu consiga deixá-lo mais tempo ainda na prisão. Não que seja preciso, já que ele iria ser preso por matar, roubar, traficar, estuprar, estelionato etc. Pois é, meus pais teriam nojo de saberem que deram oportunidade para um adolescente que virou um mostro desses.

Senti a luz do sol invadir as cortinas brancas do quarto, foi quando eu tentei abrir os olhos, mas foi falho, pois a claridade me cegou. Tentei novamente. Olhei para o quarto, Jake não estava na cama, e o quarto estava como quando eu fui dormir, do mesmo jeitinho. Eu estava com uma camisa de Jake, com o cheiro dele, do qual eu estava morrendo de saudade. Me levantei, coloquei meus tênis, que eu calçava ontem, abri a porta e saí. Entrei na cozinha, não havia nenhum sinal do dono do apartamento. Estranho.

O pior era que eu estava sem o meu celular, eu tinha deixado ele no meu apartamento. Putz, eu só não esqueço a cabeça porque é grudada, meu pai.

Olhei para a geladeira, que tinha um único post-it.

"Saí cedo, umas cinco e pouco da manhã. Tem café da manhã para você. Não se preocupe, pode ficar aí se quiser. Hoje eu consegui um dia de folga para você. Depois de tudo que você passou eu acho justo você descansar."

Meus olhos passaram pela mesa, e, sim, tinha pão de forma e presunto, eu amava aquilo. Abri a geladeira, tinha suco de morango. É estranho eu estar no apartamento do meu ex, por mais que não, ainda parece que estou fazendo algo errado. O relógio da cozinha indicava onze e vinte e três da manhã.

Abri as cortinas da sala de estar, arrumei a cama, da qual eu tinha bagunçado quando dormi, também abri as portas da sacada, fazendo as cortinas num tecido fino, quase transparente, ficarem balançando um pouco. Arrumei a sala, que estava um pouco bagunçada. Lavei o prato e o copo que eu sujei, secando, e guardando no armário. Guardei também o pão, o suco, e o presunto em seus devidos lugares. Pronto, estava tudo em ordem. Bom, é o mínimo que eu posso fazer depois dele me oferecer sua casa por uma noite e ainda me ajudar em uma situação desconfortável.

O Capitão 2 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora