Cap. 69

1.8K 106 17
                                    

Saí da sala do doutor Fabrício, indo direto para a de espera. Lá encontrei todos conversando.

- Jade, eu fui fazer plantão no Batalhão e o delegado me disse que concorda que você vá trabalhar na delegacia. E disse que você pode voltar amanhã. - assinto depois da informação de Nathan.

- Licença, vou comprar algo para comer. - eu estava quase desmaiando.

Saí daquele hospital, sentindo o ar de "ambiente fresco" lá fora. De cara, eu vi uma lanchonete ou um restaurante, não sei, do outro lado da rua. Esperei o sinal fechar para os carros para eu atravessar. Meu celular tocou.

Fernanda

- Alô?

- Jade?

- Sim.

- Quando vai contar da gravidez para ele?

- Olha, eu estou tão ansiosa para contar a novidade, porém, eu acho que é melhor esperar. Sabe, ele ainda está se acostumando com todos, com tudo, novamente. Isso seria um baque para ele. Quem sabe daqui a uns meses.

- Entendo. Pô, deve estar sendo difícil para você.

- E muito. Eu amo aquele cara.

- Monique nos disse que você quis cuidar dele depois que sair do hospital.

- Sim, é verdade. Eu acho que depois de tudo que ele já fez por mim, isso é o mínimo que eu poderia fazer por ele.

- E o julgamento? Como vai?

- Eu retirei a denúncia. Jake perdeu a memória, Cecília e Brenda nunca viram momentos em que Louis me estuprava, apenas me batia, e isso é pouco com os argumentos que ele e o advogado tem. Sabe, eu retirei aquela denúncia com uma dor no peito, mas vi que era o melhor a se fazer. Talvez não fosse para acontecer. Talvez aconteceu isso com Jake para eu abrir os meus olhos. Talvez eu não fosse ganhar. Só Deus sabe o que é melhor para nós. E eu não conseguiria seguir com esse precesso de julgamento sozinha. Jake era a minha base, aquele que desde que eu cheguei me insentivou a procurar a justiça.

- Nossa, amiga, eu imagino como você deve estar mal. Louis foi um babaca, e você não poder fazer nada contra ele, é péssimo.

- Eu espero que ele morra borbulhando no inferno! O que ele fez comigo... Cara, não tem explicação. Eu tinha apenas seis anos. Minha infância foi destruída. Eu nunca pude dizer concretamente que eu era virgem, sabe como isso é? Você ter tirado sua virgindade aos seis? A pior sensação do mundo. Parece que você deixa de ser criança.

- Eu sinto muito pelo seu passado, Jade. Mas você vai ver, tudo vai se encaixar no seu devido lugar, e Louis já está começando a pagar por tudo que te fez, naquela cadeia.

- Tomara que permaneça assim, a justiça do Brasil nunca segue com os anos que o acusado foi condenado. E se ele fugir eu sou morta.

- Isso não vai acontecer, relaxa. Ele está em máxima segurança, você mesma me falou.

- Sim. Ei, viu desligar porque vou entrar na padaria agora. Quando eu voltar nós conversamos melhor.

- Ok.

Coloquei o celular dentro da calça, na cintura, era assim que eu ia para qualquer lugar. Com o celular dentro da calça, aparecendo apenas uns quatro centímetros dele. Me sentei em um banco de frente ao balcão.

- Olá, o que deseja?

- Um pão na chapa e um chocolate quente, por favor.

O moço assentiu e começou a preparar o meu pedido. Meu olhar se direcionou para o banco ao lado e imediatamente eu lembrei de Jake. Ele, sentando ali, sempre pedindo pão na chapa. E agora? Agora ele nem lembra o que é pão na chapa. Agora ele nem lembra dessa lanchonete e dos seus gostos ao entrar nela. Alguns minutos depois o moço me entregou os pedidos. Tomei o meu chocolate bem devagar. Eu queria ficar ali e imaginar que nada disso estava acontecendo dentro daquele hospital. Comi o pão que eu pedi, tudo lembrando dele. Terminei o meu café da manhã e voltei para o hospital.

- Ei.

Olho para o meu lado direito, era Fernanda.

- Acho melhor você falar para todos quem é o pai da criança.

- Por que acha isso?

- Eles já estavam pensando em ligar para Lorenzo para dar os parabéns. - ela balança a cabeça negativamente.

- E como você acha que eu devo contar?

- Normalmente. Assim como contou para mim. - dá de ombros.

- Mas agora?

- O mais rápido possível.

- Tudo bem.

Me sentei de frente para todos. Enquanto Monique, Leonardo, Lucca e Matheus estavam em um sofá que cabiam quatro, o resto estava em poltronas grandes, que cabiam duas pessoas em cada. Eles me olharam curiosos.

- Bom... - coço a nuca. - Eu não queria dizer isso a vocês aqui. Deixando claro que eu não vou falar para Jake agora, talvez um dia, mas agora eu não penso e nem quero que contém a ele, tudo bem? - todos assentem, mesmo sem saber o que.

- Você está me preocupando. - Luana informa.

- Calma, eu não estou doente. - dou uma fraca risada. - Fernanda foi a primeira pessoa a saber da gravidez.

Cecília e Brenda estão no Batalhão, assim como no dia que contei da gravidez para todos, mas tenho certeza que elas vão enlouquecer quando souberem.

- Ela foi comigo comprar os testes de farmácia na sexta. Um dia antes do casamento de Jake. Ontem, antes do casamento, eu fiz exame de sangue, pois um dos testes deu positivo e o outro negativo. E... - olho para Fernanda. - E eu menti. Esse filho não é de Lorenzo. Na hora que eu descobri eu já sabia de quem era. Eu peço desculpas, pois eu fiz uma pessoa trair outra. Mas hoje a pessoa que foi traída já sabe de tudo.

Eu estava tão nervosa... Minhas mãos suavam freneticamente. Meus pés batiam ao chão, quase sendo o único barulho daquela sala, só perdia para a correria dos médicos. À cada segundo eu imaginava a reação de Monique e Leonardo, principalmente. Como eles reagiriam?

Todos pareciam sem expressão facial na hora.

- Como assim? Então de quem é? - Ítalo questiona.

- Não me diga que esse filho é do meu irmão. - Lucca abriu um enorme sorriso.

- Sim, é de Jake. - respondi apreensiva.

Monique se levantou de imediato, gritando horrores. Eu ri demais. Isso era um bom sinal.

- Aaaaahhh!!! Eu não acredito! Finalmente o meu casal voltou!!

- Não digo que voltou, talvez ele nem goste de mim com essa perca de memória. Ele pode me achar uma pessoa diferente, e facilmente não gostar.

- Quem disse? Amor de verdade supera tudo. Quem ama, nunca esquece.

- É, mas se for para acontecer, que isso aconteça com o tempo certo. O médico responsável pelo quadro dele falou para mim, assim como para vocês, que era melhor eu não forçar ele a lembrar de nada, e nem fazê-lo sentir-se culpado por não lembrar. Não frustrar ele. O médico disse que é tudo questão de tempo. Mas que a perca de memória pode ser permanente.

- É, ele falou sobre com a gente. - Leonardo entorta os lábios. - Mas o que é importa é que ele ainda está entre nós. Não tem preço que pague a felicidade que estamos por conta disso. Essa perca não se compara com a vida dele.

- Exatamente. Eu botei na minha cabeça que nada se compara com a vida dele, ele estar conosco. E eu prometo a vocês dois, na verdade a todos vocês, que eu cuidarei de Jake com amor. Que enquanto ele estiver nas minhas mãos, na minha casa, eu irei cuidar, tirar suas dúvidas, tratá-lo como se fosse o meu Jake de antes. Aquele que me conheceu como sua ajudante.

O Capitão 2 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora