Cap. 15

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Pego o celular no bolso da calça, trêmulo, tento discar o número da ambulância.

— Olá. — uma voz feminina diz.

— Oi, preciso que venham para o endereço ***** ******. Um condomínio. Meu irmão está ensanguentado na cozinha, não sei à quanto tempo, acabei de chegar da casa da minha namorada. Ele não parece nada bem. Está pálido.

— Ok, ok. Qual foi o objeto que foi usado e onde foi a perfuração?

— Uma faca. Ele tentou se matar com uma faca. E seus braços estão transbordando sangue. Ele cortou os dois. Profundamente.

— Qual bloco do condomínio é?

— Bloco três. Na cobertura.

— Fique calmo, não faça nada, estamos indo.

Encerro a ligação e imediatamente já disco o número da minha mãe.

— Atende... Por favor...

— Lucca? Aconteceu alguma coisa?

— Mãe, você está em casa?

— Não, estou num jantar de negócios. Por que? Aconteceu alguma coisa?

— Mãe, vem para o apartamento, agora!

— O que aconteceu? Me fale, está me deixando preocupada!

— O que eu tenho para te contar é sério. Não dá para contar por telefone. Mas só digo uma coisa, Jake está mal.

— O que houve com ele?

— Vem logo mãe, eu estou desesperado. Por favor, eu estou com medo de ter perdido o meu irmão. — olho para ele no chão, coberto por sangue enquanto lágrimas quentes escorriam.

— Lucca. — parece respirar fundo. — O que aconteceu? — fala pausadamente.

Encerro a ligação. De repente não soube o que dizer, como explicar. Talvez desligando fosse o único jeito dela ver que a coisa era séria e vir para cá. Me sentei no chão, de frente ao corpo dele, sem saber se ainda estava com vida ou não, eu só pensava no pior. Porém, ainda sim, pensava o quanto Jake tinha que estar presente para ver um dia eu me casando. Com meus filhos. Dando orgulho. E também para ele arrumar alguém que o faça feliz, que tenham filhos, que se casem. Ele tinha que ver o papai e a mamãe expandindo a empresa e fazendo novos negócios, sócios. Sei lá, isso ainda é pouco. Ele tem que ser forte porque ainda tem uma vida inteira e bela esperando ele pela frente.

Bateram na porta um tempo depois. Enxuguei as lágrimas e me levantei para abrir a mesma. Eram os paramédicos trazendo uma maca. Eles entraram na cozinha, colocaram Jake em cima da maca e, sem enrolação, entraram novamente no elevador. Fiquei para pegar os documentos de Jake e os meus, caso fosse visitá-lo. Eu não conseguia pensar em nada, tanto que demorei quase quinze minutos só tentando procurar e ver qualquer qual era qual documento. Eu só imaginava ele sendo levado às pressas para uma sala e os médicos fazendo procedimentos.

Passei pela cozinha e vi aquele tanto de sangue. Balancei a cabeça em forma de negatividade, pegando um pano e passando por ali. Peguei também um balde com água para ficar lavando o pano e voltando a limpar. Assim foi até meus pais chegarem.

— Mãe, pai, vamos logo para o hospital da região. — digo colocando minha carteira e os documentos nos bolsos da calça e indo até a entrada.

— Lucca! Me diz o que houve. — meu pai segura em meus braços, já quando estávamos do lado de fora do apartamento. Eu olhei para ele, assim como ele me olhava profundamente nos olhos. Eu chorava demais, estava até soluçando. — Fica calmo. Respira. — respiro junto com ele. — Agora nos diz.

— Eu... Eu cheguei... Da... — fecho os olhos e abro em seguida. — Da casa da Cecília... E... Aí eu vi...

— Calma, respira. — minha mãe fala.

— Entrei e vi Jake... — paro por alguns segundos. — Caído na cozinha... Com uma faca ao lado.

Minha mãe faz um som como forma de susto, ou medo, e se afastou um pouco, já chorando.

— Seus braços... — olho para o chão. — Estavam cortados do cotovelo ao pulso, os dois. Ele... Estava coberto por sangue. — volto meu olhar para os olhos de meu pai, que estavam lacrimejados demais, mostrando que logo mais cairiam muitas lágrimas seguidas das outras. — Ele estava... Pálido. Gelado. Foi a pior cena que já vi na minha vida. — desabo no choro novamente e abraço meu pai.

O abraço se desfez muito rápido. Precisávamos ir para o hospital urgentemente para ter notícias de meu irmão.

— Já falou com Matheus? — minha mãe pergunta enxugando as lágrimas.

— Ainda não. Não tive cabeça para quase nada.

— Vamos, ligamos para ele no caminho. — meu pai diz.

Entramos no elevador e após chegarmos no estacionamento meu disse para eu ir no carro dele. Dito e feito.

— Liga para o Matheus, ele precisa saber. — ele fala. Assinto, discando no número dele.

— Atende... Atende... — minha paciência já estava ultrapassando todos os limites. Mais ou menos na terceira chamada ele atende.

— O que foi? Eu estou...

— Jake tentou cometer suicídio. Ou cometeu... Enfim, não sabemos. Vai para o hospital da região, estamos à caminho.

— O QUE? Como assim? Explica direito. Como e onde aconteceu?

— Quando você chegar eu aviso, não dá para falar por telefone.

— Tudo bem. Encontro vocês na recepção. — desliga.

— O que ele disse? — meu pai questiona.

— Que encontra a gente na recepção.

Depois dessas poucas e únicas palavras a viagem seguiu, só que quieta. Minha mãe e meu pai poderiam demonstrar um pouco de controle sob a situação, porém, eu sabia que eles estavam enfrentando um caos dentro deles, tentando demonstrar segurança. Eu sempre fui muito secreto com meus sentimentos, minhas expressões. Mas hoje eu estou sendo transparente demais. E não vejo motivo para não ser, até porque, ele é meu irmão. E se eu perder ele estarei perdendo parte de mim. A que Jake construiu, ensinou, mostrou o certo e o errado, educou. A parte que ele me dizia como tratar uma mulher, como respeitar os mais velhos, como reagir em quaisquer situações... Enfim, se Jake não resistir eu não sei o que será de mim. Se eu aceitei demais a gravidez de Cecília, se eu tomei coragem para pedi-lá em namoro, casamento, foi graças à ele. Até pouco tempo atrás eu era um muleque, que não se importava com nada, mimado. Agora eu sou um homem. Digno, respeitável, maduro. Tudo por causa dele.

O carro parou. Saí do transe e olhei através da janela. Estávamos no estacionamento do hospital. Suspirei fundo, tomando coragem para sair e enfrentar tal situação. Eu deveria ter notado os dias em que ele esteve muito calado. Essas últimas semanas que ele chegou do trabalho e foi dormir, dos dias que tomava banho e já se trancava no quarto. Ou quando conversamos entre nós e ele ficava de canto, com um fone de ouvido. Por que não nos importamos? Não percebemos a gravidade da situação? Agora ele está lá, numa cama de hospital, sabe-se lá o que está acontecendo e o que os médicos estão fazendo para ele continuar conosco.

— Mãe, ele vai ficar bem não vai? — abraço ela deixando algumas lágrimas caírem.

— Claro, meu filho. — me abraça. Sinto sua respiração pesada e frustrante aos pés do meu ouvido direito.

— Vamos, talvez já tenham informações. Lucca, você trouxe os documentos dele?

— Sim, estão aqui. — tiro os mesmos do bolso e ele assente. — Como vocês fizeram para saírem do jantar? — lembro.

— Falamos que tinha acontecido algo sério com nosso filho. Eles viram que era uma situação particular, familiar, e relevaram. Remarcaram para semana que vem. — meu pai responde.

Adentramos as portas do hospital. Mostramos nossos documentos, perguntamos por notícias, mas ainda não tinham. Ficamos sentados, esperando na recepção em algumas cadeiras, esperando por Matheus.

O Capitão 2 (Concluído)Onde histórias criam vida. Descubra agora