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O local era gélido e cinzento,as ruas eram de paralelepípedo. Oliver olhou ao redor e comparou as casas em ruínas com as de bom estado,como alguém poderia viver em lugar sombrio como aquele?

Vozes agoniadas sussurravam em sua mente,causando uma sensação de dor e morte,de repente alguém se chocou contra ele. Em reflexo,Oliver se virou imediatamente para ver duas crianças de cabelos dourados. Ele apertou os olhos,já havia visto aquelas crianças antes.

-Vocês são filhos de Dicco Morales. -Sussurrou Oliver. -O que fazem neste lugar? Onde estamos?

-Aqui é a Terra das almas escravizadas -Respondeu o garoto,com firmeza -Apenas aqueles que tiveram uma morte trágica vem para cá.

Oliver se lembrava das chamas altas consumindo tudo e todos da Casa de educação,o cheiro de morte e tragédia tão nítido agora quanto outrora.

-Você também teve uma morte trágica? -Indagou o menino -Como aconteceu?

A garota deu uma cotovelada no irmão.

-Mongoy! não sabe que é falta de educação perguntar sobre a morte das pessoas? -Repreendeu.

-Ah...eu não estou morto -Disse Oliver -Cheguei aqui de outra maneira,mas não contem a ninguém.

Ele tentava manter a postura,mas a verdade era que aquele lugar lhe causava calafrios,estava mesmo cercado de gente morta?

-Sabe se nosso pai está bem? -Indagou a garota.

-Faz muito tempo que não o vejo. -Respondeu Oliver.

O rosto da menina entristeceu. Oliver tinha pena daquelas crianças,não deviam ter mais de onze anos.

-Mary! -Exclamou o menino -Acho que esse senhor é o irmão de Luna! lembra-se que ela o descreveu mais ou menos assim?

A garota loura avaliou Oliver com aqueles olhos que lembravam tanto Dicco.

-Os cabelos vermelhos. -Sussurrou -É o irmão de Luna!

Oliver fez uma careta.

-Luna? não,eu não tenho...

-Lá -Apontou o garoto,para a praça no fim da subida. -Luna o aguarda na praça.

-Se sair daqui -Disse Mary -Diga a nosso pai que o amamos.

Os dois irmãos não esperaram por uma resposta de Oliver,e partiram para algum lugar na escuridão. Então ele seguiu para onde eles o haviam indicado,não podia perder mais tempo.
               

Ela estava ali,o mesmo vestidinho negro contrastando com a pele pálida; estava de costas e parecia tão indefesa daquela forma ereta,apenas uma criança-Oliver se lembrou

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Ela estava ali,o mesmo vestidinho negro contrastando com a pele pálida; estava de costas e parecia tão indefesa daquela forma ereta,apenas uma criança-Oliver se lembrou. Apesar da inteligência e poder que mostrara ao ajudá-lo,ela era apenas uma criança.

A garota se virou.

-Olá,meu irmão. -Cumprimentou.

-Que história é essa? -Indagou Oliver.

Ela ergueu as sobrancelhas.

-Somos irmãos por parte de pai. -Disse a menina -Lembra-se de Mariane?

Oliver se lembrava da jovem mulher de meia idade que vivia a oeste de Beelion,sempre sorria para ele quando fazia suas rondas pela vila; de alguma maneira,ela sempre soube quem ele era. Ele a tinha visto muitas vezes,lembrava-se também do rosto dela em prantos diante da Casa de educação ao se deparar com a tragédia.

-Você morreu naquele lugar. -Sussurrou Oliver. -Sinto...sinto muito.

-Eu sempre quis me aproximar de você,quando aparecia na vila para cobrar os impostos. -Disse Luna -Mamãe dizia que você era um príncipe,diferente de nosso pai; que a mandou embora quando soube que estava grávida de mim.

Oliver fez uma careta confusa.

-Eu soube que o rei estava sob uma maldição -Disse -Não poderia tocar mulher alguma,sua mãe morreria se...

-A maldição foi quebrada de alguma maneira -Disse a menina -Foi o que mamãe me contou.

Oliver se perguntou porque então o rei preferira se envolver com outras mulheres a procurar por ele e sua mãe.

-Mas agora vamos deixar os assuntos familiares de lado -Disse Luna -Há algo que você precisa saber,não poderei mantê-lo aqui por muito tempo; venha comigo.
                

Ela estava ferida, sozinha e sentia o frio congelá-la até os ossos

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Ela estava ferida, sozinha e sentia o frio congelá-la até os ossos. Seus cabelos brancos e úmidos outrora tão reluzentes, caíam foscos sobre seus ombros. Nunca imaginara que um dia se veria tão baixo,que confiaria o destino de seu povo sob total controle de um mortal. Tudo estava nas mãos do rei de Beelion agora,a pessoa que ela mesma escolhera para tal cargo: Casser Sincer.

Nunca havia confiado totalmente em alguém,confiara uma vez na princesa Shere; mas com Casser era diferente,ela não sabia explicar a conexão que sentia com ele.
Cansada física e psicologicamente,ela tombou a cabeça sobre a parede e fechou os olhos. Começava a adormecer,quando ouviu a cela se arrastar atrás dela e a inconfundível voz grave soar,um fio de esperança se acendeu novamente dentro dela.

Rei Das Cinzas - Sombra Das águas (livro 02)Onde histórias criam vida. Descubra agora