Rei Das Cinzas - Sombra Das águas (livro 02)

55

                       

Quando o jantar terminou,os convidados dirigiram-se para o salão de música do castelo,onde formariam pares para uma dança romântica de encerramento; Alguns rapazes aproximaram-se de Carolina e pediram-lhe uma dança,inclusive Joaquin,mas ela recusara todos. Sentia-se cansada e triste,os efeitos da despedida da manhã seguinte machucava-lhe a alma,apesar de também desejar voltar a ver seu pai e amigos. Sendo assim,ela afastou-se discretamente e subiu as escadas até a varanda superior do castelo. A música lá embaixo preenchia suavemente seus ouvidos e a brisa gélida era de alguma forma reconfortante. Apoiou-se no parapeito da varanda e estendeu uma das mãos,ainda nevava; sempre admirara e desejara conhecer de perto aquele fenômeno.

Após algum tempo,ela desceu até o pátio lateral do castelo e sentou-se ali,não nevava muito,mas o suficiente para deixar sua cabeça úmida; abaixou-se e tocou o chão branco,havia nevado muito pela madrugada e toda Beelion estava coberta de neve. Estava frio ali fora,os braços e as costas expostas começaram a reclamar; mas Carolina não se importou.

De repente ouviu vozes alteradas vindas da entrada do castelo,levantou-se e esticou o pescoço na tentativa de algum vislumbre do que poderia estar acontecendo; como não conseguiu nada,ela ergueu a saia do vestido e avançou de volta para o castelo.
                   

Um aglomerado de pessoas curiosas formou-se ao redor de Casser,diante dele estavam dois homens trazidos pelos guardas: Um deles aparentava pouco mais de quarenta anos e o outro poderia ter pouco menos da idade de Casser. Estavam furiosos e incontroláveis,fora necessário que mais guardas os detivessem.

-O que está acontecendo aqui?! -Era Oliver,colocando-se rapidamente ao lado de Casser.

-Majestade -Disse um dos guardas -Esses senhores saltavam os muros do castelo quando os pegamos.

-Onde está o rei? me levem até o rei! -Gritava o homem mais velho.

Casser deu um passo á frente,as mãos nos bolsos da calça clara.

-Eu sou o rei,porque saltava os muros de meu castelo? -Indagou.

A expressão do homem ao vê-lo era de fúria,seus olhos escuros correram desde seu cabelo aos pés.

-Raptor! -Acusou o homem -Você raptou minha filha! onde ela está?

Casser o encarava confuso,até que Carolina surgiu. O rosto dela estava mais pálido que o normal,ela parecia ter visto um fantasma.

-Pai! -Gritou a moça.

Os olhos do homem dirigiram-se para ela,suavizaram-se e lágrimas brilharam ali.

-Carol! -Disse com ternura -Minha menina!

Casser piscou.

-Ora,que diabos está acontecendo aqui? -Questionou. Caminhou até Carolina -Quer me explicar?

-Fique longe dela,raptor do demônio! -Atirou o homem mais velho,debatendo-se contra os guardas de Casser.

Carolina virou-se para Casser,os olhos lacrimejados.

-Este é meu pai,Casser. -Explicou,voltou-se para o homem mais velho -Como conseguiu chegar aqui?

-Foi ele,não foi? -Perguntou o homem -Foi ele quem raptou você e a manteve aqui todo esse tempo! -Acusou,apontando para Casser.

Carolina deu um passo adiante.

-Não,pai -Respondeu,calmamente -Casser me ajudou.
Ele me manteve aqui para me proteger,eu o explicarei tudo depois.

Com isto,o homem pareceu relaxar.

-Soltem-no. -Ordenou Casser aos guardas.

O homem esquivou-se com um safanão e em seguida Carolina correu para os braços dele,era tão menor que ele que quase desapareceu em seu abraço. O homem afagou o cabelo dela e beijou o alto de sua cabeça,enquanto isso Casser dirigiu-se ao segundo rapaz.

-E você? -Perguntou -Também tem parentesco com Carolina?

O rapaz o encarou por entre o cabelo escuro.

-Queria apenas comida. -Respondeu.

-Pois então porque não pediu? -Perguntou Casser,impaciente -Vamos,levem o rapaz para Molly; ela saberá o que fazer e depois,tirem-no daqui.

Após os guardas obedecerem e os convidados começarem a se despedir,Casser finalmente pôde conversar com Carolina e o pai.

-Então este senhor é seu pai. -Disse Casser.

O homem estendeu a mão.

-Vitor Dae. -Apresentou-se.

Casser apertou a mão de Vitor.

-Casser Sincer,rei de Beelion.

Carolina virou-se para o pai.

-Como soube que eu estava aqui? -Perguntou -Como...chegou até aqui?

-Bem...

-Eu o trouxe aqui. -Disse uma voz feminina do outro lado do salão. Tanea. -Recebi uma ordem da Rainha da Luz para trazê-lo para cá,como um presente especial para Carolina; mas quando chegamos aqui ele saiu a toda por Beelion,procurando informações desesperadas por sua filha e o que ouviu foi que você a tinha raptado.

-Era só o que me faltava! -Resmungou Casser,revirando os olhos -Eu,um raptor! com tantos problemas em minhas costas!

-Casser,perdoe meu pai -Pediu Carolina -Ele estava desesperado.

A expressão de Casser suavizou ao olhar para ela.

-Vamos,meu amigo -Disse Oliver,a mão no ombro de Casser
-Deixe-os conversar sozinhos,têm muito a dizer.
                   

Era muito tarde quando Carolina se deitou. Passara o resto da noite conversando com o pai e explicando tudo o que lhe acontecera desde sua chegada áquele mundo,seu pai por sua vez dissera saber da existência daquele mundo desde que conhecera sua mãe e pedira perdão por nunca ter mencionado a ela. Ele se dispusera a falar sobre sua mãe,porém Carolina achara melhor conversarem sobre ela em um momento oportuno. Após isso,eles encontraram Casser no corredor ainda com as roupas que usara na festa; ele ordenara que os criados preparassem um quarto para o pai de Carolina e assim ela também seguiu para o seu.

Revirava-se sobre a enorme cama sem conseguir dormir,a tristeza da despedida no dia seguinte já reinando em seu coração.