Rei Das Cinzas - Sombra Das águas (livro 02)

16

Ele estava sentado nas escadas,em sua parte preferida do castelo; onde costumava estar com Oliver em seus momentos de descanso ou mesmo com Clair quando queriam conversar um pouco. Mas agora ali era silencioso,Clair já devia ter se recolhido para dormir e Oliver...Oliver estava muito distante. Casser iria atrás dele com a intenção de trazê-lo de volta,mas não tinha certeza se o encontraria vivo ou se sequer o encontraria. Um pouco mais aos fundos da esquerda,onde se encontrava um dos pequenos jardins,havia duas pedras. Uma ao lado da outra.

Ele se lembrava de ter desenhado dois cavalos,um em cada uma delas; um era seu e o outro pertencia a Oliver.

-O que está fazendo? -Perguntou Oliver,de pé atrás dele.

Ele se virou parcialmente e ergueu os olhos brevemente para o amigo,retornando em seguida a atenção para o desenho inacabado de um cavalo se erguendo sobre as patas traseiras.

-Cavalos. -Respondeu com um ligeiro sorriso.-Não tenho mais o que fazer,então...resolvi gastar o tempo.

Ele traçava com uma pedra os contornos do animal.

-Isso estou vendo,mas porque está desenhando cavalos? -Perguntou Oliver.

Casser inclinou o cabeça para avaliar sua obra na pedra.

-Um para você e o outro para mim. -Respondeu o rei,se levantando e posicionando ao lado de Oliver.

Ele havia desenhado dois cavalos,um em cada uma das pedras; se erguendo sobre as patas traseiras.

-Quero fazer um acordo. -Disse Oliver de repente.

Casser o olhou de esguelha.

-Acordo.
-Sim,um acordo. -Disse Oliver. -Já que é um animal para cada um,se algum dia a morte levar algum de nós,o que sobreviver riscará o cavalo do outro; como último sinal de amizade.

Casser ficou imóvel por um longo momento,encarando os dois animais desenhados nas pedras; então se virou devagar para seu amigo,estudando-o. Oliver engoliu seco e tirou do pescoço um cordão com pingente de leão,feito de madeira.

-Há muito tempo -Contou ele,encarando o cordão. -Meu pai fez dois pingentes como este e deu um para mim. -Ergueu os olhos castanhos e sorriu,mas o sorriso não chegou aos olhos. - Ele me pediu que enterrasse o pingente em nossas terras,quando ele se fosse. E assim eu fiz. Então podemos fazer um acordo parecido,riscaremos nossos cavalos quando um de nós se for.

Casser o encarou por tanto tempo,que o rapaz começou a dar sinais de impaciência.

-Certo. -Disse Casser por fim. -Se a morte nos separar,o que sobreviver riscará o cavalo do outro,como uma última demonstração de amizade. Mas...e se os dois partirem juntos?

Oliver riu.

-Então significa que nos encontraremos em algum outro mundo e nossos cavalos ficarão aqui para registrar que as melhores pessoas do mundo existiram. -Ele riu um pouco mais e fez um gesto de brinde,com um copo invisível. -E que fomos nós.

Ele se agachou e com a pedra que Casser usara,escreveu seu nome e o do amigo sobre cada um dos cavalos. Levantou-se.

-Agora está certo. -Disse,com um sorriso largo.

Casser estendeu a mão.

-Você é meu melhor soldado,Oliver Garcia.-Disse- Espero que não tenha de experimentar o azar de perdê-lo tão cedo.