Era o mesmo rosto delicado de que ele se lembrava,a mesma serenidade; Casser pôde ver todos os anos felizes que tivera sob a guarda de seus pais nos olhos da mulher de cabelos escuros diante dele,de repente ele estava em sua antiga casa no meio da Floresta do Sol; não precisaria se preocupar com fardos,e se algum receio viesse assombrá-lo,ele teria a seus pais e o calor aconchegante dos braços dela...da mulher diante dele.
-Justina. -Ele sussurrou,a voz rouca.
Ela entreabiu os lábios secos,mas nenhuma palavra saiu deles; Casser podia ver os pontos onde as lágrimas começavam a se formar em seus olhos escuros,os mesmos olhos gentis que o vigiou um dia para que não caísse e se machucasse; ele daria tudo para reviver um único momento em que tivesse caído e se machucado, pois sabia que Justina se encarregaria de tratar as feridas; pois agora nada podia ser feito,as feridas que ele carregava no coração não poderiam ser tratadas pelas mãos gentis de Justina. Ela piscou.
-Eu achei que...-Começou Justina.
Ela deu um passo á frente e fez menção de erguer a mão para tocar Casser, mas quando Clair avançou, ela recuou novamente. Casser baixou a mão que erguera e olhou para Clair.
-Está tudo bem. -Disse o rapaz.
Clair assentiu devagar e silenciosamente se virou para a parte da mata de onde vieram deixou Casser e Justina sozinhos.
A mulher suspirou.
-Eu pretendia ir até o castelo assim que soube de seu retorno,mas tive alguns imprevistos -Explicou Justina,as mãos trêmulas;Ela as escondeu sob a túnica. -Então estive a pouco no castelo, mas me disseram que você havia partido em missão; eu não pude esperar que retornasse,eu...precisava vê-lo. Então me arrisquei vindo até aqui,onde seus guardas me informaram que talvez estaria.
Casser apenas a estudou silencioso, incapaz de dizer algo. Ela aguardava impaciente, seus olhos escuros aflitos; então deu outro passo para próximo dele,era muito menor e teve de levantar levemente o queixo para encará-lo.
-P-posso...-Mordeu o lábio ponderando,e em seguida suspirou novamente antes de continuar -Posso te abraçar? -Perguntou Justina.
Casser ainda a observava,o tempo havia feito muito bem a ela; continuava esbelta e o rosto quase não apresentava marcas do tempo; que idade deveria ter? se perguntava ele; 30? 35?
Ele piscou,ver Justina novamente lhe trouxe lembranças dolorosas; mas também lhe trouxe o afeto que após tantos anos ele já não se lembrava que necessitava. Casser apertou a boca e assentiu uma vez,sentia-se vulnerável e detestava se sentir assim.
Então Justina o abraçou. Inicialmente, ele não teve nenhuma reação; mas aos poucos foi erguendo as mãos e pousou-as nas costas magras de Justina. Ela quase sumia nos braços dele e por um momento ele imaginou sua mãe ali,o que ela diria ao vê-lo após tantos anos? teria dito que ele não mudou ou quase não o reconheceria? Após um longo momento, Justina se afastou para encará-lo,o rosto umedecido pelas lágrimas que rolaram silenciosas.
-Me perdoe,meu filho -Disse a mulher,enquanto enxugava o rosto com o dorso das mãos. -Por não poder ter tido meios para acompanhá-lo em sua caminhada; eu deveria ter cuidado de você, você era apenas um garoto quando eu o deixei naquela montanha. Eu não...
-Justina -Interrompeu Casser -Por favor, basta.
Ela o encarou por um instante,em seguida engoliu seco antes de prosseguir:
-Guarda mágoas de mim? -Perguntou.
-Não -Respondeu Casser,afastando os olhos e retomando a postura física e mental -É claro que não.
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Rei Das Cinzas - Sombra Das águas (livro 02)
FantasíaConquistar um povo não é tarefa fácil,manter um reino de pé e ser sábio o suficiente para governá-lo. Quando Carolina Dae escolheu ajudar o rei Casser,ela traçou um caminho melindroso para milhares de vidas naquele mundo desconhecido; Agora,ela desc...