Prólogo

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O sol já dava sinal de descanso quando se escondia lentamente nas bordas dos pedaços alaranjados de nuvens, os pássaros marrons migravam para o sul na época da estiagem e as camélias brancas flutuavam sobre a magnitude do enorme lago. O barulho do atrito do ferro se mostrava presente em uma parte mais afastada da pequena vila, onde uma dupla de ninjas treinava.

O mais novo deles é o que parecia mais empenhado. Deveria ter mais ou menos catorze anos, quase quinze, e possuía em torno de 1,65 de altura. Seus cabelos dourados se esvoaçavam quando a brisa fria lhe tocava no rosto, assim como seus olhos cor de safira pareciam cada vez mais empenhados em mirar as kunais em seu sensei. As mangas de seu casaco laranja estavam picotadas, com pequenos sinais de queimado, como se algo quente tivesse atingido – ou quase – o corpo do gennin.

Nota mental: comprar uma nova roupa quando voltassem à vila.

Seu velho sensei e avô de consideração escapava da maioria dos golpes dados pelo seu aluno. O dono de longos cabelos prateados se sentia cada vez mais orgulho com os resultados de seu pupilo, sabia que Naruto iria tornar-se um grande shinobi no futuro e, muito provavelmente, o próximo Hokage de Konohagakure.

– Ero-Sennin! – choramingou o loiro. – Vamos mudar de estratégia? Eu sou horrível com kunais e tenho que aprimorar o meu Rasengan!

Naruto fez um bico irritado e largou a kunai no chão. Não que fosse assim tão ruim com as armas ninjas, mas ele sempre preferia derrotar os shinobis com seus próprios punhos e seus bushins. E, além disso, seu Rasengan poderia muito bem ganhar alguns novos aprimoramentos.

– Por isso mesmo que devemos treinar com kunais, Naruto. – suspirou Jiraiya. – Como pretende trazer Sasuke de volta a Konoha não sendo pelo menos razoável com simples armas ninjas?

O gennin bufou e cruzou os braços, mesmo que se sentisse internamente encurralado. O maldito velho tinha total razão, como Naruto cumpriria a promessa de trazer Sasuke de volta à Konoha se não tinha total domínio da luta ninja básica? O bastardo Uchiha sempre foi melhor do que ele em tudo: notas, popularidade, kunais, shurikens, jutsus, tudo!

Estava na hora do Uzumaki provar que também havia crescido. Que também era um shinobi da Folha!

– Tudo bem. – suspirou. – Mas eu tô morrendo de fome. Vamos fazer mais um treino e depois vamos comer rámen, certo, Ero-Sennin? – fez uma carinha pidona que Jiraiya não resistia.

O sannin se tornava cada vez mais apegado a Naruto, considerava o filho de Minato, o falecido Yondaime Hokage, como seu neto e sabia que Tsunade, a Godaime Hokage, sentia o mesmo pelo loiro problema. Aquele gaki sabia exatamente como conquistar o coração mais frio dos ninjas, era como um dom, um talento natural. E toda aquela determinação em trazer Sasuke de volta, era incrível.

– Certo, garoto, e coloque toda sua atenção no treino. Lembre-se: cada minuto é valioso na vida de um shinobi. Nunca baixe a guarda e, principalmente, não morra! – disse sério como raramente fazia, apenas para deixar um nó de ansiedade na garganta de Naruto.

O treino com kunais e shurikens teve início e tudo estava indo bem, Naruto conseguia desviar com destreza dos ataques de Jiraiya e já conseguira o atingir umas três vezes. Gamatatsu e Gamakichi, os dois sapos invocados pelo sannin, observavam o treinamento. O amarelado comia um pacote de salgadinhos e o alaranjado sentia que alguma coisa de ruim iria acontecer, algo não soava nada bem para suas mãos pegajosas.

E, de fato, Gamakichi estava certo. Nem Naruto ou Jiraiya perceberam quando uma kunai foi lançada de forma descuidada em direção ao loiro, e muito menos quando esta atingira de forma certeira o olho esquerdo do Uzumaki. E já era tarde demais, o gennin já se contorcia de dor na grama molhada, pressionava sua mão no olho atingido e sentia o sangue lhe tingir a pele.

– Naruto! – gritou preocupado e se aproximou do aluno. – Por Kami, Naruto! – desesperou-se. – O que aconteceu? Como pude errar a mira desse jeito?! – segurou o garoto no colo e correu o máximo que pôde para o hospital especializado mais próximo que, por acaso, era o de Konohagakure.


* * *


Se passaram horas desde que Tsunade, a única kunoichi médica disponível naquele horário, entrou na sala de emergência com o corpo desacordado de Naruto. Os dois sapos já haviam retornado para o seu mundo e Jiraiya estava sozinho no corredor de espera. Ele e a Hokage colocaram tudo em sigilo máximo, nenhum ninja ou camponês que seja poderia saber que o Uzumaki estava ali e naquele estado. Só traria problemas, coisa que evitavam.

A loira saiu da sala com uma cara nada boa e o sannin faltou subir nas paredes de preocupação. Tsunade nada disse e apenas chamou Jiraiya com um olhar, ambos entraram novamente na sala de cirurgia e observaram com aflição o corpo inerte do loiro gennin.

A ninja médica respirou fundo e soltou a bomba:

– Eu fiz o máximo que pude para tentar reverter os danos no olho esquerdo de Naruto, mas não teve jeito: ele ficou cego daquele olho. – o grisalho já estava uma pilha de nervos. – E isso não é tudo, com o dano e o susto que Naruto teve ao receber o ataque da kunai, sua rede de chakra foi totalmente modificada. O chakra da Kyuubi está se descontrolando e o selo se abrindo, eu já tentei todos os selamentos que conheço e pode tentar chamar Kakashi ou você mesmo tentar, Jiraiya, mas não adiantará nada. Naruto só poderá ser selado por alguém de sangue Uzumaki, ou isso, – suspirou cansada. – Ou ele morrerá.

Jiraiya sentiu seus joelhos formigarem e ele caiu do chão hospitalar, deixou que as lágrimas quentes escorressem pelo seu rosto e sofreu. Como diabos acharia um descendente do dizimado clã Uzumaki, o lendário clã especialista em jutsus de selamento? Era impossível, todos estavam mortos e Naruto não poderia realizar um jutsu que nem sabia, além de estar de cama e a beira da morte. Tsunade caiu ao seu lado e o abraçou com força, dividindo sua dor com o velho amigo.

E o pior: se Naruto morresse, a Bijuu de Nove Caudas estaria livre e botaria o terror em Konoha novamente. Isso não poderia acontecer, por ele, por Konoha e por Naruto. E por esse principal motivo, o Ero-Sennin saiu horas depois em busca dos pergaminhos de selamentos dos Uzumaki, lá estaria a resposta para a salvação do jinchuuriki – ou era o que esperava.

O Uzumaki foi colocado na lista de observação e todo dia Tsunade vinha visitar o menino gennin, deixando Shizune controlando a situação no escritório. A Senju criou um carinho inexplicável pelo seu pequeno gaki, ele não poderia morrer, não antes de realizar o seu maior sonho.

O povo da Vila Oculta da Folha soube poucos dias depois que Naruto voltara e que estava internado no hospital de Konoha, sendo esse o maior assunto de fofocas na vila. Todos seus amigos vinham visitá-lo gradualmente, principalmente Sakura, que se culpava pelo amigo ter se esforçado tanto e acabado cego, com chakra descontrolado e em coma.

Já passava mais de uma semana e Jiraiya não voltava, eles estavam quase sem esperança pela vida do gennin. Até que, numa noite fria de quinta-feira, alguém invadiu o quarto hospitalar de Naruto. 

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