Chantagem

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Naruto foi levado em um baque surdo de volta para a realidade onde vivia. Arregalou ainda mais os olhos safira e abaixou a cabeça, olhando para o espelho que ainda estava em suas mãos. Observava atentamente seus dois olhos bicolores: o direito, era ainda de um azul profundo e intenso, como as ondas de um oceano; já o esquerdo, o transplantado, era de um negro profundo, semelhante a um raro diamante negro.

– Por quê? – perguntou baixinho. – Por que me deu seu olho? Por que me ajudou?

Itachi suspirou e se aproximou de Naruto. Tocou delicadamente em seu ombro e o loiro virou para si bruscamente.
Aparentava estar confuso e pensativo, coisa nada normal do Uzumaki.

– Fiz isso pelo bem da Akatsuki e porque não acho bom um novo membro com apenas um olho. – Naruto ergueu uma sobrancelha, interrogativo. – Esqueci de perguntar: vai querer se tornar um de nós?

O Uzumaki sentiu o ar faltar de seus pulmões e uma vontade avassaladora de rir de Itachi tomou conta de seu corpo. Quem aquele maldito corvo pensava que era para lhe perguntar uma coisa dessas? Estaria o Uchiha ficando caduco da cabeça?

Como ele, o jinchuuriki da Nove Caudas, seria capaz de se afiliar a uma organização criminosa que tem como principal objetivo a captura e selamento de todos os bijuus? Claro que eles salvaram a vida dele e Itachi teve um passado triste e injusto, mas Naruto seria capaz de matar outras pessoas inocentes por causa da própria vida?

Seria tão desumano até chegar a esse ponto?

– Eu... não posso – sussurrou.

– O que? – Itachi perguntou. – Nós salvamos a sua vida e eu lhe dei um olho sharingan de graça. De graça! Eu não te entendo, Naruto-kun.

– Primeira coisa, Itachi, deveria aprender a fazer as coisas sem querer receber algo em troca. – bufou. – E outra, como espera que eu tenha a capacidade de ferir pessoas semelhantes a mim? Elas que passaram pela mesma tristeza e negação por carregar um demônio dentro do próprio corpo, sendo que nem tiveram o poder da escolha. Tiveram seu destino escolhido por uma sociedade preconceituosa que nem tentou imaginar o nosso ponto de vista. A nossa solidão, 'ttebayo.

Itachi desviou o olhar por alguns minutos. Sim, ele se lembrava daqueles momentos. Momentos esses que via um pequeno garoto de cabelos loiros e lindos olhinhos azuis, este possuía um semblante triste e passava nos lugares procurando comida. Ninguém o dava, o dirigiam insultos e alguns até jogavam frutas podres nele. O único que o aceitava era o homem do Ichiraku Rámen, talvez seja por isso que Naruto adorava aquele lugar e comida.

Já pensou em ajudar o rapazinho enquanto carregava uma cesta de pães quando tinha ido à padaria a mando de sua mãe, Mikoto. Seu pai, Fugaku, vinha ao seu lado, mostrando com orgulho o distintivo Uchiha da força policial de Konoha. Tentou se aproximar de Naruto, mas o mais velho o segurou pela gola da camisa e disse “não chegue perto dele. Ele é um monstro que nunca deveria ter nascido."

Nunca passou pela cabeça daqueles vermes, o que incluía seu pai, que se o loiro não tivesse nascido naquele fatídico dia dez de outubro, Kyuubi teria destruído toda a Vila da Folha e ele nem estaria mais ali. Ninguém estaria. Naruto salvou Konoha do pior e ninguém o agradeceu por isso.

Fizeram a mesma coisa com ele. Claro, com seu consentimento, afinal Itachi se passou de vilão pelo bem da vila e pelo futuro desenvolvimento de Sasuke.

– Posso não saber como se sente de verdade, mas eu o admiro, Naruto-kun. – sorriu. – Acho incrível essa sua habilidade de se ver em cada pessoa, se imaginar no lugar dela, e tentar sempre ajudá-la mesmo que indiretamente. Existem poucos assim, você é um milagre.

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